Cap 30 | Reclusa

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FELIZ ANO NOVO!

ᴀʟɪᴄᴇ's ᴘᴏɪɴᴛ ᴏғ ᴠɪᴇᴡ 🏁

Fechei a tela do notebook em meu colo, suspirando fundo o ar que entrara pela janela direto para o meu rosto. Mais uma reunião, a terceira esta semana, e tudo isso para esclarecer — ou tentar — a minha situação na Fórmula 1 e principalmente na Itália. Eu já tinha assinado o contrato de um ano com a emissora, e seria difícil rescindir agora, então vão me manter até o final da temporada, mas eu não podia pisar sequer a quinze metros de um paddock.

Eu já estava há treze semanas em casa e incomunicável para todos os que eu queria evitar, e foram as piores da minha vida. Lando me ligava e me mandava mensagens algumas vezes por dia, estas que eu nunca via ou atendia. Max também me ligava, mas com menos insistência, ele sabia que eu precisava de espaço. Na verdade, tendo espaço o suficiente por todos estes dias, eu só estava fugindo a essa altura. 

Eu evitava jornais, internet e qualquer meio de comunicação. Meu medo de achar algum vídeo ou artigo sobre mim era muito maior do que magoar as pessoas que eu amo. Até minha mãe eu estava evitando, e isso estava me machucando mais do que eu imaginava. A verdade é que eu estava entrando em uma crise, uma maldita paranoia e possivelmente iria entrar em depressão se continuasse desse jeito. Eu não queria passar por isso de novo. Agora, depois que o tiro saiu pela culatra e metade do mundo sabe o meu nome, a única coisa que eu posso fazer é superar, passar por isso. 

Eu só... Não consigo. 

Me encarei no espelho do banheiro, molhando as mãos e passando pelos meus cabelos desgrenhados, eu não estava me cuidando com a frequência que gostaria, e pouco me importava que as pessoas das reuniões me vissem pela câmera naquele estado, uma vez que eu não saia de casa nem para tomar a dose diária de sol. Eu estava ficando pálida, meus olhos estavam começando a ficar fundos uma vez que eu não conseguia dormir direito ou acordava várias vezes na madrugada, com medo daqueles olhares julgadores que ainda me perseguiam enquanto eu corria pelo paddock. Essa droga estava me consumindo. 

Suspirei mais uma vez. Agora eu precisava sair pelo menos para comprar comida, não tinha mais nada em casa. 

Coloquei meu conjunto de moletom, prendi meu cabelo, em um coque, mesmo que ele esteja cheio de nós e sujo e peguei as chaves de casa junto à carteira. A essa altura os italianos me julgariam, ainda mais saindo com crocs e meia, mas é o que tem pra hoje. 

Já estava no final da tarde, a maresia da chuva recente era refrescante, e ainda se podia ver os raios de sol por entre as nuvens. A rua, pelo menos, estava vazia, então eu não precisaria lidar com olhares desaprovadores agora. 

O pequeno mercado da comunidade por hora tinha tudo que eu precisava. Não era muito longe, apenas dez minutos de caminhada e eu estaria bem. As banquetas do lado de fora mostravam as verduras maduras e coloridas com algumas gotas de água, aquilo era até cinematográfico na minha opinião. Já aproveitei para pegar alguns tomates ali mesmo. Colocando na pequena sexta que também pousava ali do lado.

 Entrando, não tinha ninguém a não ser a loira no caixa, bem arrumada de olhos verdes que mascava seu chiclete e assistia algum vídeo no TikTok, sério, até os jovens daqui estão sendo infectados com isso.

 Quando ela me viu, largou o celular e fez uma careta. Eu sei, querida, estou péssima, foi o que eu tentei transmitir com um sorriso.

Peguei tudo o que eu precisava, não era muito coisa, e foi proposital, para pelo menos tomar vergonha na cara e ter que sair de novo de casa. 

Coloquei minhas compras no balcão e esperei ela passar tudo. A loira fazia tudo com calma, não parecia nem um pouco preocupada com nada.

— São trinta e cinco euros — Ela estalou, me tirando do transe. 

Beyond The Finish Line | Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora