t r e n t e - q u a t r e

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Proibido falar de polícia!

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Proibido falar de polícia!

Proibido falar nosso sobrenome de verdade!

Proibido falar que aquela casa era da Ada!

Chikako repassava as orientações muito bem específicas da filha enquanto terminava de arrumar a mesa com todos os pratos saborosos que ela preparou para poder receber a filha e o novo genro.

Ela não entendia (e nem concordava) com todo aquele mistério e segredo a respeito da própria identidade, também suspeitava de que algo estava errado, mas não ia deixar passar a oportunidade de conhecer o namorado de sua filha. Em trinta anos, era o primeiro genro!

— Mamãe, ele não sabe que eu sou policial, então você não pode contar para ele! — Foi o que Ada pediu quando conversaram pelo telefone na noite anterior, numa ligação tão sussurrada e secreta que Chikako se sentiu como num filme de espiões.

— Tudo bem, Miya!

— Ah, e também é proibido falar nosso sobrenome. A gente precisa fingir que nosso sobrenome é Kimura.

— Ora, mas por que tudo isso?

— Se eu falasse o verdadeiro, ele poderia entrar no site do governo e descobrir que sou policial — Ada retrucou, fazendo a mãe estalar a língua no céu da boca.

Foi uma conversa curta, mas Chikako sabia que não estava para gracinhas. Além disso, as duas tinham combinado um código. Sempre que Ada pedisse para Chikako "passar o sal", aquilo significava que a mãe não deveria continuar com aquele assunto.

Eram muitas regras, mas Chikako suspirou e concordou. Era isso ou não conhecer o genro.

Ajeitando a saia florida, ela se encheu de alegria quando escutou a campainha e correu atravessando a sala. Para passar mais veracidade de que se tratava da casa de uma senhora idosa e não de uma mulher de meia idade, Chikako se esforçou para colocar uma capa florida no sofá e um vaso em formato de abacaxi na mesa de centro, mas não pareceu o suficiente quando passou ali apressada.

Assim que abriu a porta, deu um largo sorriso ao ver sua menininha que há tempos não via.

— Oi, mãe! — Ada sorriu e as duas se abraçaram tão apertadinho! — Esse daqui é o Sora. Sora, essa daqui é a minha mãe.

— É um prazer, senhora Kimura!

Chikako sorriu e o observou dos pés à cabeça, tentando disfarçar (e falhando miseravelmente).

— Pode me chamar apenas de Chikako — ela pediu, afinal, não tinha gostado tanto assim daquele sobrenome.

Ela deu passagem e enquanto os dois entravam, observou o genro.

Era um jovem rapaz. Talvez mais jovem do que o esperado. Pálido, tadinho, não devia pegar sol há algum tempo. Também era magro. Não muito a ponto de ser preocupante, mas Ada era uma mulher robusta e muito forte. Chikako começou a pensar que talvez fosse a filha quem usava as calças naquele relacionamento. Apesar de tudo, Sora era um menino bonito, isso com certeza. Era belo, embora tivesse profundas olheiras um tanto escurecidas e lábios muito ressecados. De certa forma, lhe conferia algum charme.

Cardeal - Sablier RougeOnde histórias criam vida. Descubra agora