12. Às vezes eu enxergo o girassol

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Se visse mais um tecido sequer na minha frente, ia vomitar.

Tinha passado as últimas horas escolhendo cores, estampas, texturas, babados e botões que virariam meu enxoval, além de ter que me ver dentro do vestido de casamento que, até o momento, pelo menos, não tinha intenção nenhuma de usar.

Perda de tempo... era do que tudo aquilo se tratava. Uma grande e cansativa perda de tempo.

Mas minha mãe estava contente, radiante, e tentei usar pelo menos isso a meu favor enquanto saíamos da modista, e tentava convencê-la de que um almoço caprichado era do que precisávamos para encerrar aquela manhã maravilhosa. E ela estava a ponto de concordar quando, assim que passei pela porta do ateliê, dei um encontrão com alguém que vinha da direção contrária.

— Ora, se não é minha noiva desastrada. — Reconheci a voz de Martynes enquanto me segurava pelos ombros e me botava de volta no lugar. — Cuidado, ou vão pensar que estou tentando te agarrar na frente de todo mundo.

Trinquei os dentes. Aquele sarcasmo acabou com qualquer possibilidade de me sentir nervosa ou envergonhada pelo nosso encontro da noite passada.

— Sr. Martynes! — Minha mãe sorriu, toda receptiva e cortês, fazendo uma mesura. — Que coincidência encontrá-lo por aqui! Estávamos justamente tratando de assuntos sobre o casamento.

— Mesmo? — Ele estampou aquele sorriso amarelo e falso na cara. — Não me diga.

— Sim, viemos encomendar o enxoval da nossa preciosa Clarissa. — Segurou minhas bochechas como se eu fosse criança. — Você vai ver, ela vai se parecer com uma verdadeira rainha quando for sua esposa.

Martynes piscou, seu sorriso ficando instável, e me olhou com urgência.

— O... enxoval?

— Mãe... — murmurei baixinho, em tom de aviso.

Mas, é claro, ela não parou.

— Isso sem falar no vestido de casamento. Ah... — suspirou — querido, está simplesmente fabuloso! Sem dúvidas, vai ser a noiva mais encantadora que toda Lux já teve.

Martynes engoliu com força, e senti meus olhos arderem de lágrimas.

Era humilhação demais.

Mãe — reforcei entre dentes. — Chega.

— Deixe-me adivinhar — continuou, sorridente e despreocupada. — Veio até o alfaiate para ver seu terno?

— Eu... — Martynes falou, engasgado. — Sim, isso mesmo. É claro.

Fechei os olhos, implorando que os Arquimagos me atingissem com um raio.

— Vossa Excelência. — Kyle apareceu, saindo de seu posto de guarda na carruagem do outro lado da rua e parando feito um poste atrás de mim, a voz firme, mas com aquele indício de temperamento tão cristalino quanto as águas do Marine. — Tudo pronto para ir.

Só um raio... só unzinho...

Mas meu noivo deve ter percebido meu desconforto, ou apenas queria irritar o soldado, porque falou de repente:

— Sra. Lucille... digo, Vossa Excelência... aproveitando que estamos aqui, será que eu podia levar Lady Clarissa em um pequeno passeio? Prometo que será rápido — acrescentou no mesmo segundo em que senti Kyle enrijecer atrás de mim.

— Um passeio? — Minha mãe ponderou. — Sim, acho que seria bom. Vocês precisam se conhecer mais, sou completamente contra os noivos subirem ao altar sem saber absolutamente nada um do outro.

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