— Bom dia, papai — murmurei, me sentando em meu lugar habitual na mesa do café da manhã.
— Bom dia, minha flor. — Sorriu, um sorriso simples, mas carinhoso, antes de voltar a atenção para os documentos em sua mão, uma xícara de chá fumegante na outra.
Desde o incidente no Palacete, não nos falamos muito. Eu, porque ainda estava magoada com tudo, e ele porque... eu ainda não sabia muito bem. Não parecia mais tão chateado comigo por ter arruinado o arranjo com o Duque, mas também andava meio distante. De mau humor.
Me servi de chá, o olhando de relance vez ou outra, mas sua atenção se manteve fixa nos papéis à sua frente, as sobrancelhas unidas com força e acentuando a ruguinha entre elas.
— Tudo bem? — perguntei depois de um tempo, com cuidado. Tentando me aproximar. — Aconteceu alguma coisa?
Odiava estar brigada com meus pais, fosse qual fosse o motivo.
Mas ele apenas sacudiu a cabeça, bebendo um longo gole do chá.
— Nada com que precise se preocupar, querida. — Foi a resposta simples.
Suspirei, baixando os olhos, e apenas me servi de frutas e um pouco daquele mingau horrível, minhas únicas opções de comida, enquanto me perdia em pensamentos também.
Até que...
— Clarissa, está me ouvindo? Clarissa!
Pisquei, erguendo o olhar. Minha mãe estava quase em cima da mesa, tentando chamar minha atenção. Eu nem sequer reparei quando ela entrou na sala.
— Perdão. O que disse?
— Que depois do café vamos na modista. Mandar fazer seus vestidos.
Franzi o cenho, um pedaço fatiado de melão a meio caminho da boca.
— Vestidos? No plural?
— Ora, mas é claro! — Se recostou na cadeira, enfiando a colher em um pedaço de mamão. — Encomendamos seu vestido de noiva no mês passado, então já deve estar quase pronto, mas precisamos nos apressar com seu enxoval. Não me importa que não vai mais se casar com um nobre, minha filha não vai usar nada menos do que uma rainha usaria!
— Claro que com o Duque seria melhor... — meu pai comentou, bebendo outro gole de chá enquanto continuava a analisar os documentos — mas sua mãe tem razão. Só porque seu noivo não é nobre, não quer dizer que vamos permitir que ande pelas ruas de Scire como uma mulher comum. Ainda é uma Lady, e vai se vestir como tal.
— Vamos providenciar todo o seu guarda-roupa, e fazer a última prova do seu vestido de noiva. Assim como do baile na semana que vem.
— Baile? — Pisquei outra vez. — Que baile?
— Você vai se mudar para muito longe de nós quando se casar, Clarissa — minha mãe suspirou, tristonha. — Então, eu e seu pai estamos organizando um baile de despedida para você. Seu último... como nossa querida filhinha. — Abanou a mão em frente ao rosto, tentando não borrar a maquiagem enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas.
— Em menos de um mês, será uma mulher casada — meu pai falou, sério, mas o conhecia o suficiente para saber que também tentava conter as emoções, a primeira que demonstrava depois de toda aquela confusão. — Com responsabilidades de uma mulher casada. Não estará mais sob os nossos cuidados, mas do seu marido. É um divisor de águas na sua vida, Clarissa. Deixará de ser nossa menina, e se tornará uma mulher. Então é claro que esse momento merece uma celebração digna.
— Queria que fosse surpresa, então encomendei seu vestido de baile junto com o de noiva. Mas como também é um vestido especial, é bom experimentar pelo menos uma vez, para o caso de precisar de ajustes. Precisa estar perfeita nesses dois eventos, os mais importantes da sua vida!
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