6. Moulin Rouge

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Eu tinha menos de um mês para estragar tudo.

Assim que o Marquês chegou com Clóvis e me trancou em seu escritório para "acertar os detalhes" do casamento — que pareceu mais um sermão sobre como eu deveria tratar a filha dele como uma verdadeira rainha —, tive que inventar toda a vida do tal Martynes de Scire em questão de segundos. Propriedade, renda, número de empregados, de clientes do suposto negócio de espadas, tudo.

Não sabia se o Marquês pretendia investigar, mas um olhar furtivo de Clóvis na minha direção me assegurou de que ele ia cuidar de tudo. E nunca pensei que ficaria grato pelo ex-conselheiro estar ali, livrando minha cara em cada trecho do caminho, mas... porra, faria e daria o que ele quisesse depois que aquele pesadelo acabasse.

Um mês... o casamento estava marcado para dali um mês. Ou seja, tinha que acabar com tudo antes. Quanto mais cedo, melhor.

Não podia ser tão difícil. O Marquês tratava a filha como uma boneca, então a única coisa que eu tinha que fazer era ser uma péssima opção de partido. Duvidava muito que o nobre a obrigaria a se casar com um cafajeste mulherengo que não podia ver um par de peitos porque caía de boca.

Não que eu fosse literalmente esse tipo de pessoa. Mas poderia ser, e com gosto, para me livrar daquela situação. A honra de Lady Clarissa e o título do Marquês ficariam intactos. Só a imagem de Martynes seria jogada na lama.

E ele não existia.

Um mês. Se fizesse a minha parte direito, não precisaria de mais que uma noite.

E foi com isso em mente que segui até o Moulin Rouge, o bordel mais famoso de Amare, quando a lua estava alta no céu. O prédio mediano de dois andares se parecia com a construção de um teatro, uma réplica de um moinho vermelho decorando o topo e o letreiro brilhante com o nome do lugar na fachada, assim como todos os outros estabelecimentos da cidade, deixando óbvio que a província era avançada e rica o suficiente para desfrutar de energia elétrica, um recurso inovador e relativamente novo em todo o reino de Lux.

Um ponto para o Rei.

O interior era maior do que parecia, um espaçoso salão todo decorado em vermelho com cortinas finas e translúcidas, mesas redondas e bancos estofados privados cobrindo todos os cantos das paredes, um lustre de cristal todo intrincado no centro do teto decorado com arabescos de gesso e uma iluminação surpreendentemente baixa e acolhedora. Íntima.

Uma música suave tocava ao fundo, fazendo a trilha sonora das inúmeras conversas e risadas dos clientes — todos homens —, e mulheres vestindo o que parecia ser um uniforme do bordel, uma camisola vermelha translúcida curta e decotada que mal deixava espaço para a imaginação e salto alto, zanzando por aí, algumas carregando bandejas com taças e garrafas de bebida, outras levando os companheiros babões até os fundos onde deviam ser os quartos, ou simplesmente sentadas em seus colos enquanto a conversa de um grupo ou um jogo de cartas seguia.

O cheiro de champanhe e charuto carregava o ar, e devo ter chegado na hora certa, porque as cortinas grossas no fundo do salão se abriram de repente, revelando um palco iluminado por um único holofote, e uma música animada e sensual começou a tocar quando várias dançarinas apareceram em seus figurinos brilhantes e cheios de penas, se movimentando em sincronia ao ritmo da melodia.

Aceitei uma taça de uma das garçonetes, mas não me sentei nas mesas. Ao invés, fui para perto do bar e analisei todo o cenário, visualizando as possibilidades. Sim, a ideia inicial desde que pisei em Amare era aproveitar aquele tipo de atividade, mas primeiro tinha que cumprir minha tarefa: fazer um escândalo que me livrasse do casamento.

Teria tempo para me divertir com calma depois.

— Qual delas é a que faz mais sucesso aqui? — perguntei ao rapaz de suspensório atrás do balcão do bar. — A que todos querem, que param para olhar assim que aparece?

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