46. Lugar amaldiçoado

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Levou um dia inteiro para planejar e colocar em ação cada passo daquela empreitada, mas, finalmente, Rikie e seus companheiros desceram do barco na costa da ilha que estava sob a vigia de Scire.

Tinham recebido uma autorização escrita e carimbada pelo próprio Rei, enviada de volta pela coruja apenas horas depois de a terem mandado para o palácio, e os homens do Barão não puderam fazer nada a respeito agora que seu líder se deslocava para a capital.

As ordens do general, enviadas junto com a autorização do soberano, diziam que deviam apenas fazer uma varredura do local e se certificar de que estava tudo em ordem.

No entanto... assim que botaram o pé na areia, sentiram.

— Esse lugar tem uma energia péssima. — Bea fez uma careta, olhando ao redor e para cima, até o topo da montanha. — Será que o fato de estarmos mais próximos de Tenebris tem algo a ver com isso?

Talvez. Até o ar parecia mais pesado ali. Denso, quase esmagador.

— Achei que estaria infestado de guardas. — Pietro olhou ao redor também, o cenho franzido. Apesar do céu nublado, um mormaço quente e abafado os cobria feito um cobertor pegajoso. — Mas não vejo uma alma viva sequer.

— Também não há canto de pássaros — Rikie observou, uma mão sempre apoiada no cabo da espada em sua cintura. — Com essa aura negativa em toda a ilha, é pouco provável que haja qualquer espécie de fauna aqui.

— Já é o suficiente para presumir que há algo errado, não? — Bea franziu as sobrancelhas. Não parecia com a mínima vontade de explorar. — Vamos embora daqui. Estou com um mau pressentimento sobre esse lugar.

— E é exatamente por isso que precisamos ficar e investigar — Pietro argumentou.

— Logo vai escurecer. Seria mais sensato voltar para Kalyanlíon e reunir mais soldados. Magos. Se houver algo maligno aqui, nós três estamos ferrados.

— Temos as habilidades de salto de Rikie, desapareceremos em um piscar de olhos se as coisas se complicarem.

— Não vai funcionar — o imediato revelou, por fim. Os dois companheiros o encararam de olhos arregalados, mas apenas explicou: — Esse lugar está empesteado de energia maligna. E uma consideravelmente forte. Poderes de um Semi-Vanir não funcionam contra uma aura desse tamanho.

— Tem certeza? — Pietro franziu as sobrancelhas.

— Senti meus poderes abafarem antes mesmo de descermos do barco.

— Merda...

— Mais um motivo para sairmos daqui — Beatrice insistiu. — Agora.

— Vamos dar a volta na ilha — Rikie declarou. — Não precisamos adentrar a floresta, só fazer uma varredura pela orla da praia. — Olhou para trás, para a silhueta de Scire no horizonte ao longe, escondida na névoa. — Quero saber se conseguimos avistar Tenebris daqui. E se há algo do lado de lá que explique essa energia. — Se virou para Bea, na tentativa de tranquilizá-la. — Só vamos dar uma olhada. Aí, voltamos.

A soldada suspirou com força pelo nariz, contrariada, mas manteve a postura firme.

— Droga... tá, tudo bem. Contanto que não saiamos da praia.

— Somos os melhores guerreiros do Exército Alado — Pietro provocou. — Qualquer coisa que cruzar nosso caminho, seja maligna ou não, não tem chance.

A garota bufou uma risada completamente desprovida de humor, e o trio seguiu pela beira do mar.

— Quando conquistarmos a patente de Valkyrs, acredito em você.

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A ilha era maior do que parecia, de modo que só chegaram do outro lado quando o dia dava lugar à noite.

Eu avisei — Bea sibilava sem parar, a mão segurando o cabo da espada em seu quadril com força enquanto olhava de um lado para o outro na praia parcialmente escura. — Avisei que era melhor voltar, e agora vamos ter que passar a noite nesse lugar amaldiçoado.

Rikie odiava admitir, mas... se quando desceram do barco a energia maligna já era intensa, agora, do outro lado e com um céu de um tom escuro de roxo e sem lua, a sensação era muito pior.

— Que droga o Barão faz nesse lugar? — resmungou baixinho, resistindo à vontade de desembainhar a espada. — Nos disseram que havia uma base militar aqui para ficar de olho em qualquer possível movimentação de Tenebris, mas...

— Duvido muito que qualquer homem aguente ficar aqui por muito tempo — Pietro chegou à mesma conclusão. — Se havia uma base militar fixa, ou abortaram missão, ou já estão mortos.

— Conseguem ver alguma coisa? — Bea apertou os olhos contra o horizonte.

— Não. — Rikie tentou, mas sem sucesso. — Se há algum indício de Tenebris, está escondido na penumbra. Vamos dar mais uma olhada ao redor, apenas para nos assegurar de que não há nenhuma ameaça viva, e montamos acampamento. Sem fogueiras — acrescentou antes que Pietro abrisse a boca. — Precisamos trabalhar com a hipótese de que o inimigo também mantém um olho vigilante em nós. Então, para todos os efeitos, a ilha está vazia.

— Certo — resmungou, e o trio se separou enquanto verificavam o perímetro.

Rikie seguiu até a entrada da floresta enquanto Bea foi até a elevação de rochas na beira do mar, e Pietro na direção oposta. No entanto, sem qualquer fonte de luz, precisaram contar quase completamente com seus sentidos auditivos.

— Até o silêncio daqui é pesado — Rikie sussurrou consigo mesmo, tentando reprimir um calafrio. A entrada da floresta parecia mais com a entrada de uma caverna, fria e profunda, infinita, sem qualquer som de criatura ou ave noturna.

Seria um bom sinal em circunstâncias normais, não precisar se preocupar com ataques no meio da noite, mas sabia que aquele lugar era tudo, menos normal. Só não entendia ainda por quê.

— Gente... gente! — Bea gritou de repente, do topo de uma pedra grande. — Venham aqui, rápido!

Os dois saíram correndo até onde a companheira estava, tomando cuidado para não escorregar na superfície lisa e úmida.

— O que aconteceu? — Pietro a olhava de cima a baixo, se assegurando de que Bea estava bem.

No entanto, a soldada trêmula de olhos arregalados apenas apontou para baixo, para um monte de pedras onde as ondas quebravam, os últimos resquícios de luz do dia que terminava permitindo que enxergassem apenas parcialmente...

— Ah, puta merda... — Rikie sibilou, paralisando até os ossos.

Conforme reconhecia o corpo largado, encharcadoe coberto de sangue de Filipe, o Duque de Apóllon, entre as rochas pontudas.

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⏰ Última atualização: Sep 03 ⏰

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