20. Até a eternidade

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Deu tudo tragicamente certo.

Não planejava, nem sequer imaginava, que as coisas se desenrolariam daquela forma catastrófica, mas... os resultados foram surpreendentemente bons. Ainda melhores do que pensei.

Não tive muita escolha depois do ultimato do Marquês, e passei os dias seguintes... bem, tentando me acostumar à ideia de me casar. Clarissa era uma boa moça, estávamos começando a nos entender, mas... tomá-la como esposa ainda parecia insanidade demais. No entanto, precisava voltar logo para Apóllon, precisava contatar o Rei sobre a movimentação suspeita em Spes, o mais rápido possível.

Então, tentei conhecer minha noiva melhor, para minimizar a estranheza da situação, mas do meu jeito. Sem forçar encontros ou interações, e, principalmente, sem que ela suspeitasse que o plano tinha mudado. E comecei a segui-la.

Não de um jeito estranho e obcecado, só... curioso. Queria ver quem ela era e como agia quando não estava gritando furiosa comigo.

Acompanhei suas idas forçadas à modista para provar os vestidos do enxoval, sempre a uma distância segura do outro lado da vitrine, observando com atenção especial sempre que ela experimentava um modelo de cor azul. Era quase imperceptível, mas seu rosto contrariado suavizava, e ela quase sorria enquanto se olhava no espelho. Também reparei na forma quase infantil que sempre olhava os bolos e doces expostos no mostruário da confeitaria, mas sem nunca entrar e provar porque a Marquesa logo enroscava o braço no seu e a puxava para longe, apesar das súplicas. Ou até mesmo quando recostava no parapeito da janela de seu quarto, o olhar perdido conforme murmurava sem parar para aquele vasinho de barro, por horas e horas. Às vezes... até chorava.

"Só quero que ela tenha uma chance", o Marquês falou na noite do ultimato. "Que finalmente tenha uma chance."

"De quê?"

"De ser livre. De ser quem ela é sem precisar ter medo."

Sabia uma coisa ou outra sobre Clarissa, pelas nossas conversas e pelo curto período de tempo que tínhamos passado juntos, mas... foi ali, enquanto a observava chorar silenciosamente no parapeito da janela, que realmente entendi. Que realmente enxerguei... e finalmente aceitei.

Me casaria com ela, não apenas pelo meu dever com Lux, mas também para dar a liberdade que ela merecia. Não me iludiria com amor, sabia que ela já tinha entregado seu coração a outro — por mais que achasse o soldado um idiota —, mas poderia dar a Clarissa uma vida confortável o suficiente para que fosse feliz.

Então, naquela mesma noite, fiz duas coisas: primeiro, contatei Clóvis, mandando que seguisse na frente até Apóllon com a notícia do casamento, e que providenciasse tudo para quando fôssemos voltar. O Marquês ainda monitorava cada passo meu e com certeza interceptaria a mensagem antes de aprovar a saída do ex-conselheiro, então não adiantaria tentar contatar o Rei daquela forma.

Segundo... voltei ao Moulin Rouge, encontrei o garoto da carruagem, e pedi que chamasse minha donzela mascarada. Eu podia ser o mulherengo que fosse, não via problema nenhum em encontros casuais, mas... se ia fazer aquilo, se tiraria uma moça de sua família para que vivesse o resto de sua vida ao meu lado... não seria um cretino. O mínimo que podia fazer, que deveria fazer, era ser correto e honesto com ela também.

Por mais que doesse abrir mão da única moça que verdadeiramente atraiu minha atenção. Por mais que uma parte de mim só quisesse pegá-la pela mão e fugir para bem longe. No entanto... Clarissa seria privada de se casar com seu soldado, seu escolhido. Então eu tinha que ceder também.

Irônica a reviravolta que as coisas deram quanto a isso, não é?

Claro, ficou óbvio depois que ouvi sua confissão e juntei todos os pontos, por mais que parte de mim ainda estivesse perplexa demais para acreditar, mas... ainda sentia um sorriso surpreso, divertido e aliviado se abrir em me rosto sempre que me lembrava.

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