26. Vida longa

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Uma semana atrás

A longa mesa do café estava posta, o sol de uma manhã tranquila e serena brilhando pelos vitrais da elegante e adornada sala de jantar do palácio.

Não fosse pelo falatório costumeiro de todos os ocupantes à mesa, uma voz se sobrepondo à outra quase sem pausa para respirar, talvez ouvissem o canto dos pássaros do lado de fora. Ou os passos apressados do ex-conselheiro do Rei, que se aproximava. Mas estavam todos muito animados e distraídos em suas conversas para perceber.

Até que...

— Majestade! — Clóvis foi entrando, eufórico, ofegante e suado pela corrida da entrada do palácio até ali.

Todos pararam abruptamente, olhando na direção do homem. Inclusive o elegante casal na cabeceira da mesa, que parecia acolher todos os outros debaixo de suas asas como verdadeiros pais corujas.

— Clóvis. — O Rei Theodore III piscou, levemente surpreso. — Chegou mais cedo do que o esperado. Fui informado de que viria apenas no período da tarde.

— Não podia mais esperar, Majestade. — Fez uma reverência. — Corri para cá assim que o sol nasceu, e teria vindo ontem mesmo se não tivesse chegado em Apóllon tão tarde.

— Muito bem. — Sorriu, bem-humorado. — Quais são as novidades, então? O recado que recebemos do Príncipe gerou tanta divergência de opiniões que os garotos até fizeram uma aposta para ver quem está certo.

Por garotos, é claro, o Rei se referia a todos os presentes à mesa, tanto rapazes quanto moças. E eram tradados pelos soberanos como verdadeiros membros da família, mas se enganava quem ousasse pensar que não passavam de jovens mimados.

Magos e aprendizes, líderes de exércitos, membros da nobreza e até mesmo seres mágicos estavam entre eles.

— Eu apostei que ele se meteu em encrenca por dívidas de jogo — falou com naturalidade Aura, a Grande Sacerdotisa e líder dos magos aprendizes, enquanto mordia uma torrada.

— Eu apostei que ele foi preso, e agora está fugindo das autoridades — falou Velkan, atual conselheiro do Rei, com um sorriso divertido e debochado. — Por isso pediu os cavalos.

— Eu apostei que ele encantou alguma moça, e agora não quer assumir compromisso — sussurrou Jolie, maga aprendiz e assistente da Grande Sacerdotisa, bebericando inocentemente seu chá.

— Eu apostei que ele se cansou de se embebedar feito um porco por aí, e quer voltar para o conforto do palácio — deu de ombros Rikie, braço direito do capitão da guarda.

— Eu apostei que sua verdadeira identidade foi descoberta, e agora todas as moças da província se jogam aos seus pés — suspirou Christa, Silkie híbrida, de forma dramática e teatral.

— Eu apostei que ele incendiou algum prédio — murmurou Enrich, general e líder do famoso Exército Alado, com um sombrio sorriso de canto de boca enquanto mantinha os olhos baixos fixos em seu prato.

Não é de se espantar, mas a reputação do Príncipe não era das melhores.

Todos começaram a dar risadinhas diante das possibilidades, mas a Rainha Jocelyn interveio, a voz suave e melódica.

— Crianças... por favor. Vamos ouvir o que Clóvis tem a dizer antes de nos precipitarmos, sim? E então, meu caro? — Se inclinou levemente para frente. — O que foi que meu filho andou fazendo enquanto esteve fora?

O ex-conselheiro respirava fundo, ainda recuperando o fôlego, e todos os olhares se voltaram para ele, ansiosos e cheios de expectativa.

— Perdão. — Endireitou os ombros. — Com todo respeito, é bem provável que Sua Alteza Real, o Príncipe Marshall, realmente tenha feito tudo que sugeriram. No entanto... as notícias são outras.

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