No caminho de volta até o quarto, cruzamos com o general.
— Que bom — falou quando nos viu, e me encolhi atrás de Marshall em um pulo aterrorizado. Nunca na minha vida tinha estado tão inapresentável, usando roupas masculinas, as pernas à mostra e sem sapatos. — Já está acordado, me poupou o trabalho.
— Enrich, o sol acabou de nascer — Marshall resmungou. — Dê um tempo, tudo bem?
— Você já teve tempo demais. — Manteve a postura ereta e firme, sem se preocupar por um segundo sequer com meu estado deplorável atrás do irmão, as placas de couro em seu corpo o deixando ainda maior e ameaçador. — Quatro meses na moleza, Alteza. Aposto que até mesmo os novatos conseguem te derrubar agora. Vamos.
Meu marido grunhiu, mas murmurei baixinho, agarrada em seu braço:
— Do que ele está falando?
Marshall bufou, um misto de desgosto e cansaço.
— Treino.
Uma sombra de sorriso curvou o canto da boca do general, os olhos de cores diferentes brilhando com diversão maliciosa.
— Use esse mau humor no campo. Quero ver se seus reflexos ainda são tão bons quanto antes de sair daqui.
— Vocês dois vão lutar? — sussurrei, tentando esconder a empolgação da imagem simplesmente inconsequente que surgiu na minha cabeça. — Posso assistir?
O sorriso de Enrich cresceu de leve, retorcendo a cicatriz em seu rosto. Era comprida e profunda, um ato de pura crueldade que me fazia imaginar que horrores tinha passado para carregar aquela marca, mas nem de longe podia considerá-lo um homem feio.
— Será um prazer, milady, contanto que não se importe de ver seu marido comer terra.
— Se me lembro bem... — Marshall sorriu, aquele tom ácido nítido na voz — desloquei seu braço na última vez.
Arregalei os olhos de horror, mas a satisfação no rosto do general, quase sádica, apenas cresceu.
— Aproveite a glória dessa memória enquanto pode. Ande, se troque e vamos.
Marshall bufou mais uma vez, me pegando pela mão e me guiando de volta até nossos aposentos enquanto Enrich seguia pelo corredor, provavelmente na direção do campo de treinamento.
— Eu volto a tempo do café da manhã — falou assim que entramos no quarto... e tirou a camisa, indo até o closet.
Fiquei apenas piscando por um tempo, a boca entreaberta, enquanto o observava remexer as roupas lá dentro. As costas larga repleta de sardas... músculos definidos e firmes... o cós da calça pendendo perigosamente da cintura...
Pela Santíssima Trindade, ele sempre foi daquele jeito por baixo das roupas?
— Ah... eu... — Caí sentada na cama, sem conseguir desgrudar os olhos. — O que... seria apropriado vestir para assistir um treino?
— É melhor você ficar dessa vez — falou, sem perceber meu estado. — Conheço Enrich o suficiente para saber que, por baixo daquele sorriso, está irritado e louco para quebrar alguma coisa. Ele não quer treinar, quer um saco de pancadas para descontar a frustração.
Pisquei, recobrando um pouco da razão.
— E isso não é perigoso?
Marshall bufou uma risada de desdém.
— Não se preocupe. Não tenho intenção nenhuma de facilitar para ele.
Imaginei todos aqueles músculos em ação, brilhando de suor enquanto manejava uma lâmina...