34. Meu lar

6 0 0
                                    

No caminho de volta até o quarto, cruzamos com o general.

— Que bom — falou quando nos viu, e me encolhi atrás de Marshall em um pulo aterrorizado. Nunca na minha vida tinha estado tão inapresentável, usando roupas masculinas, as pernas à mostra e sem sapatos. — Já está acordado, me poupou o trabalho.

— Enrich, o sol acabou de nascer — Marshall resmungou. — Dê um tempo, tudo bem?

— Você já teve tempo demais. — Manteve a postura ereta e firme, sem se preocupar por um segundo sequer com meu estado deplorável atrás do irmão, as placas de couro em seu corpo o deixando ainda maior e ameaçador. — Quatro meses na moleza, Alteza. Aposto que até mesmo os novatos conseguem te derrubar agora. Vamos.

Meu marido grunhiu, mas murmurei baixinho, agarrada em seu braço:

— Do que ele está falando?

Marshall bufou, um misto de desgosto e cansaço.

— Treino.

Uma sombra de sorriso curvou o canto da boca do general, os olhos de cores diferentes brilhando com diversão maliciosa.

— Use esse mau humor no campo. Quero ver se seus reflexos ainda são tão bons quanto antes de sair daqui.

— Vocês dois vão lutar? — sussurrei, tentando esconder a empolgação da imagem simplesmente inconsequente que surgiu na minha cabeça. — Posso assistir?

O sorriso de Enrich cresceu de leve, retorcendo a cicatriz em seu rosto. Era comprida e profunda, um ato de pura crueldade que me fazia imaginar que horrores tinha passado para carregar aquela marca, mas nem de longe podia considerá-lo um homem feio.

— Será um prazer, milady, contanto que não se importe de ver seu marido comer terra.

— Se me lembro bem... — Marshall sorriu, aquele tom ácido nítido na voz — desloquei seu braço na última vez.

Arregalei os olhos de horror, mas a satisfação no rosto do general, quase sádica, apenas cresceu.

— Aproveite a glória dessa memória enquanto pode. Ande, se troque e vamos.

Marshall bufou mais uma vez, me pegando pela mão e me guiando de volta até nossos aposentos enquanto Enrich seguia pelo corredor, provavelmente na direção do campo de treinamento.

— Eu volto a tempo do café da manhã — falou assim que entramos no quarto... e tirou a camisa, indo até o closet.

Fiquei apenas piscando por um tempo, a boca entreaberta, enquanto o observava remexer as roupas lá dentro. As costas larga repleta de sardas... músculos definidos e firmes... o cós da calça pendendo perigosamente da cintura...

Pela Santíssima Trindade, ele sempre foi daquele jeito por baixo das roupas?

— Ah... eu... — Caí sentada na cama, sem conseguir desgrudar os olhos. — O que... seria apropriado vestir para assistir um treino?

— É melhor você ficar dessa vez — falou, sem perceber meu estado. — Conheço Enrich o suficiente para saber que, por baixo daquele sorriso, está irritado e louco para quebrar alguma coisa. Ele não quer treinar, quer um saco de pancadas para descontar a frustração.

Pisquei, recobrando um pouco da razão.

— E isso não é perigoso?

Marshall bufou uma risada de desdém.

— Não se preocupe. Não tenho intenção nenhuma de facilitar para ele.

Imaginei todos aqueles músculos em ação, brilhando de suor enquanto manejava uma lâmina...

Enchanted Love StoryOnde histórias criam vida. Descubra agora