16. Ela também é você

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— Deixe-me ver se entendi — Laríh falou em frente ao espelho, ajeitando o vestido vermelho brilhante que emoldurava perfeitamente seus seios. — Seu noivo terminou com você... digo, com essa versão de você.

— Sim — murmurei, encolhida na poltrona atrás dela.

— Porque precisa se concentrar no plano de terminar com a outra você.

— É o que parece.

Laríh se virou para mim.

— E você tem certeza de que é isso que ele planeja?

— O que mais seria? — Ergui o olhar.

Laríh parecia meio incerta, como se tivesse dúvidas sobre as verdadeiras intenções de Martynes.

— Nada — falou por fim, suspirando. — Nada, você deve estar certa, ele... deve ter pensado em um plano diferente. Só... tome cuidado, está bem?

— Está falando como ele. — Semicerrei os olhos de leve. — Por que diz isso?

— Nada, nada. É só que... talvez... — encolheu os ombros — os homens do seu pai tenham perambulado por aqui um dia desses.

Pisquei, alerta.

— Por causa de Martynes?

— Bom, você ainda está aqui, não está? Se fosse por sua causa, duvido que o Marquês já não teria tomado alguma providência.

— Ele provavelmente teria me trancado dentro de casa — suspirei. — Tem razão. Martynes disse que estava sendo observado... deve ter sido por isso que sumiu, então. E por que precisou bolar outro plano.

Ele frequentou o bordel até demais. Era só questão de tempo até que chamasse a atenção do meu pai.

— Mas deixando isso de lado... — Laríh se aproximou, sentando no braço da poltrona e me abraçando pelos ombros — ainda não entendi por que você parece tão arrasada, florzinha. Se ele pretende cumprir a promessa, é uma coisa boa, não é?

— É... É, sim — murmurei, mas nem eu mesma acreditei.

— Tem a ver com essa adaga, não tem?

Voltei a encarar a lâmina brilhante, passando distraidamente o polegar pelo rubi.

— Talvez — confessei baixinho.

Laríh apoiou a bochecha no topo da minha cabeça, esfregando meus braços com carinho.

— Você ficou chateada, não ficou? — perguntou com cuidado, mas tão certeira quanto uma flecha no centro do alvo.

Fechei os olhos, suspirando de frustração e me sentindo uma idiota.

— É só que... era a preferida dele.

— E?

— E ele... a deu para ela. — As palavras saíram ainda mais baixas. Quase proibidas.

— Clarissa... — Laríh acariciou meus cabelos. — Ela também é você.

— Mas Martynes não faz ideia. Para ele, somos pessoas completamente diferentes. Ele só viu essa versão de mim duas vezes, e foi o suficiente para se desfazer de sua arma preferida sem nem pestanejar. Enquanto a Clarissa... — Suspirei outra vez. — Sinto que não importa quanto de mim revele, que faceta ou identidade use na frente dele. Quando Martynes olha para mim... para a Lady... só enxerga uma... planta carnívora — completei num murmúrio.

O girassol até podia aparecer vez ou outra, mas a carnívora permanecia. Era quem eu era de verdade aos seus olhos. Nunca seria mais do que isso.

— E por que isso importa tanto? — Laríh perguntou com delicadeza, mais para me fazer confessar, dizer tudo aquilo em voz alta, do que para matar uma curiosidade.

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