— O que está fazendo? — murmurei entre dentes conforme um casal saía, e outro chegava para nos cumprimentar. — O que está tramando?
— Apenas sorria e acene, Lady Clarissa — Martynes murmurou de volta, sorrindo como se fosse o dia mais feliz de sua vida. — Vai entender tudo mais tarde.
Pisquei, o encarando pelo canto do olho.
— Mais tarde?
— Sim. — Continuou sorrindo e cumprimentando qualquer um que passasse por nós. — Serei completamente franco com você, não se preocupe. Só prometa que não vai ter um ataque histérico até lá.
Bufei delicadamente pelo nariz, contendo a vontade de revirar os olhos. E cumprimentei mais algumas pessoas também, que iam desde o comerciante mais rico de Amare até a família mais humilde, todos sorridentes e alegres em seus melhores trajes de festa.
— Na verdade... — voltei a murmurar quando tivemos uma pequena brecha — também gostaria de... ser franca com o senhor. É importante.
— Mesmo? — Dessa vez foi ele quem me observou pelo canto do olho. — Sobre o quê?
— Aqui, não. É um assunto... delicado. E precisa ser dito em particular.
Martynes apenas me analisou por mais alguns segundos, levemente desconfiado e ainda mais assustador com aquela máscara, mas apenas assentiu.
— Por que disse aquilo? — falei baixinho de repente, alisando a saia do vestido e fingindo admirar a decoração do salão, repleto de flores perfumadas. E olhei discretamente por cima do ombro, baixando ainda mais a voz conforme verificava se um certo soldado não ouvia. — Para Kyle.
Martynes deu de ombros.
— Ele esgotou minha paciência.
Dessa vez não consegui segurar e revirei os olhos, mas disfarcei levando a máscara ao rosto.
Homens.
Kyle permanecia atrás de nós, de mim, o rosto impassível enquanto encarava a multidão, sempre de vigia, mas claramente irritado.
E foi só por isso, para não chamar mais atenção do que deveria, que esperei alguns minutos para perguntar, sempre em voz baixa:
— Você... já viu alguma? — Me lembrei de seu comentário de mais cedo. — Alguma Silkie?
Martynes permaneceu olhando para frente, as mãos cruzadas nas costas e os ombros eretos, mas notei um leve erguer de canto de boca quando respondeu:
— Não exatamente uma Silkie, mas... já.
Franzi o cenho.
— Como assim não exatamente? Era uma Silkie, ou não?
Ele comprimiu os lábios dessa vez, segurando a risada.
— Não uma pura de sangue, ela é... filha de uma Silkie. Com um humano.
Pisquei, atônita, e o encarei.
— Isso existe? Digo... mestiços?
— Acredito que o termo correto seria híbridos. Mas, sim, são mais comuns do que parece. — Seu sorriso cresceu minimamente.
— Uau... — sussurrei, encantada, enquanto tentava imaginar. — Eu... nunca tinha ouvido falar nisso. Em Amare, só sabemos da existência da magia e das nymphas por causa das histórias, e dos magos que aparecem por aqui vez ou outra. — Voltei a olhá-lo. — Ela era bonita? Essa híbrida?
Dessa vez Martynes riu baixinho, abaixando a cabeça.
— Sim, muito. Mas já disse, as Silkies... não fazem o meu tipo. — Me lançou uma piscadela de canto de olho.