5. A flor que me lembra você

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Cabelo ruivo... barba curta e aparada com perfeição no rosto bonito de queixo marcado... e olhos de um verde intenso.

Eram essas as principais características do meu futuro marido, mas, por mais que não pudesse negar que era agradável — e muito — aos olhos, não era o cabelo castanho curto e olhos de amêndoa que combinavam com a farda vermelha com os quais eu tinha me permitido sonhar e suspirar nos últimos anos.

Pousei a escova de cabelo na penteadeira, me recostando na cadeira, e apenas deixei que Laura fizesse meu penteado enquanto tentava visualizar aquele novo futuro em que tinha caído, como um peixe numa rede.

"Eu salvei a sua vida, pirralha ingrata."

Fechei os olhos. Os acontecimentos confusos do dia anterior, daquele maldito banquete, tinham me deixado nervosa, no pico das minhas emoções, mas agora que a adrenalina tinha passado, e o terremoto dentro de mim acalmado, percebia que talvez... só talvez...

— Acho que exagerei um pouco com ele — murmurei baixinho com meus botões.

— Perdão? — Laura perguntou, prendendo um de vários grampos no meu cabelo enquanto fazia um coque bonito e elaborado que eu jamais conseguiria fazer sozinha. — Disse alguma coisa, milady?

— Não. — Sacudi a cabeça de leve. — Só... pensei alto.

— Fiquei sabendo que seu noivo vem aqui hoje — falou depois de um tempo, com cautela, mas dava para sentir sua empolgação conforme pegava uma mecha trançada de cabelo e juntava na massa de grampos.

Suspirei pelo nariz.

— Sim. Com certeza meu pai o convocou para se certificar de que nada dê errado até o casamento. — O bom e velho sermão do Marquês Arthuro, que não aceitava um fiapo sequer fora do lugar em qualquer coisa que fizesse. O acidente de ontem foi o equivalente a um ataque fulminante do coração para ele em termos de catástrofe, então não tinha dúvidas de que meu pai faria cada arranjo da cerimônia pessoalmente.

— Talvez — Laura falou, e pude ouvir, mais do que ver, o sorrisinho em sua voz. — Mas pelo visto, por mais que vocês não se conhecessem oficialmente, e mal tivessem se visto antes do anúncio do noivado, esse tal sr. Martynes parece ter gostado da milady.

— O que quer dizer? — Ergui os olhos para ela pelo reflexo do espelho.

Laura mal parecia conseguir conter a euforia.

— As roupas chegaram da lavadeira logo depois do café. E o entregador disse que seu noivo foi visto no centro da cidade, entrando na floricultura. — Soltou uma risadinha. — Parece que, mesmo com um casamento arranjado, ele pretende fazer a corte. — Seu olhar encontrou o meu. — Sem dúvidas, é um belo partido, Lady Clarissa.

Fiz uma careta.

Ele foi na floricultura? Pretendia fazer a corte? Depois de tudo que aconteceu, depois... do que eu disse?

Não fazia sentido. A menos que ele pretendesse comprar uma planta venenosa que me desse urticária, o que, nas atuais circunstâncias, era bem compreensível. Mas...

Mordi o lábio, retorcendo um dos grampos entre os dedos.

— Esse homem ainda é um mistério.

ͼϹͽ

— O que é isso? — Pisquei, pegando o vaso nas mãos por puro reflexo.

— Disseram que é indelicado o noivo aparecer sem um presente para a noiva. Então aí está. — Martynes sorriu, falso. — Sua flor.

Franzi o cenho enquanto observava o... arranjo. Não era um buquê, muito menos um daqueles vasos de cristal com flores elegantes e coloridas, era... um vasinho de barro. Com um mini girassol solitário.

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