22. Meu nome

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Estávamos na estrada principal que cruzava as províncias há pelo menos duas horas.

Já não estávamos mais em Amare, e meu coração batia acelerado dentro do peito conforme assistia a paisagem que conhecia tão bem desde que me entendia por gente, mudar. Já não via mais os vales verdes e floridos que nos separavam do Marine, mas montanhas, minas e picos.

Estávamos nos domínios de Fortuna.

— Quanto tempo até nossa primeira parada? — perguntei. Sabia que os cavalos teriam que fazer uma pausa para descansar e beber água antes de seguir viagem até à primeira de várias hospedarias.

— Algumas horas ainda — Martynes murmurou.

— Os cavalos são bem rápidos — comentei, observando as montanhas ao longe no horizonte, até onde a vista alcançava. — Quanto tempo acha que vamos levar para cruzar Fortuna?

— Uns dois ou três dias.

— E para chegar até sua residência em Scire?

Ele suspirou profundamente, como se estivesse cansado ou frustrado, e desviei o olhar da janela.

— Perdão — me apressei em dizer, franzindo as sobrancelhas diante da expressão em seu rosto. Parecia... constipado? — Deveria ter me referido a ela como nossa? É que... ainda preciso me acostumar...

— Não, Clarissa. — Sacudiu a cabeça de leve. — Não é isso.

Pisquei, meu corpo sacudindo de leve pela carruagem em movimento.

— É porque insisti em trazer Laríh e Viktor? — Pensei nos dois que agora estavam sob minha responsabilidade, nos seguindo na carruagem logo atrás, que levava nossos pertences. — Já disse que não precisa se preocupar com eles, cuidarei de toda e qualquer coisa que precisarem...

— Não. — Fechou os olhos e voltou a sacudir a cabeça. — Não é sobre nada disso. É só que... tem uma coisa que preciso te contar.

Não falei nada a princípio, pressentindo que algo estava errado.

— O quê? — sussurrei.

Martynes respirou fundo, como se se preparasse, abriu os olhos e me encarou.

— Só me prometa que vai ouvir tudo que tenho a dizer antes de começar a gritar.

Pisquei outra vez, em choque e levemente assustada.

— Tudo bem.

Martynes apenas me encarou por alguns segundos, as sobrancelhas franzidas e as mãos tensas nos joelhos. Até que falou:

— Não vamos para Scire.

Levei alguns segundos para compreender suas palavras.

— O quê? Por quê?

— Não existe residência em Scire, comércio de espadas, nada disso. Eu... — engoliu com força — Martynes de Scire não existe, Clarissa. Tanto o nome quanto a vida dele foram inventados. — Desviou o olhar, culpado. — Eu o inventei.

Meu sangue virou gelo nas veias, e fiquei tão imóvel que acho que nem a estrada irregular de terra conseguiu me tirar do lugar.

O que ele estava dizendo? Não... não podia ser sério...

— Martynes, isso não é hora para as suas provocações...

— Não é provocação — suspirou. — Quem me dera fosse, Clarissa.

— É sim, e não estou vendo graça nenhuma! — me descontrolei, o pânico começando a tomar conta.

— Não é — grunhiu.

Enchanted Love StoryOnde histórias criam vida. Descubra agora