Como aquilo não era pecado?
Durante toda a minha vida me foi ensinado que sequer ficar sozinha com um homem era errado. Um escândalo, uma catástrofe comprometedora. E, de repente, só porque agora tinha uma aliança em meu dedo... absolutamente tudo era permitido. Consumar o casamento era uma regra, agradar meu marido com meu corpo era o mínimo esperado de mim, e infinitas possibilidades nas relações íntimas de um casal, que eu sequer poderia imaginar existir, me eram apresentadas a cada dia que passava.
Era difícil acompanhar. Difícil não ficar confusa, difícil não sentir uma considerável parcela de culpa após anos me convencendo de que deveria permanecer pura e intocada.
Mas o mais difícil de tudo, praticamente impossível, era... resistir.
Marshall me tocava de um jeito que fazia todo e qualquer pensamento, toda gota de bom senso, se esvair e derreter por completo dentro de mim. Era bom, incrível de uma forma que me fazia literalmente explodir de dentro para fora, mas, de certa forma, também era injusto.
Ele parecia saber exatamente o que fazer, exatamente onde e como me tocar para causar aquelas sensações enlouquecedoras, mas... eu não fazia a mínima ideia. Não o conhecia tão bem, não sabia o que fazer para agradá-lo ou de como ele... gostava de ser tocado.
Uma confusão de sentimentos, de dúvidas e até mesmo de culpa sucedeu ao pico do prazer, me fazendo fechar os olhos com força e engolir o grito preso na garganta, mal me permitindo sentir aquele alívio trêmulo que me deixava nas nuvens.
— Ei... — Marshall se endireitou, abaixando minha perna, e segurou meu rosto em uma mão ao perceber minha angústia. — O que foi?
Ambos estávamos ofegantes, nossas respirações se mesclando e se tornando uma só no curto espaço entre nossos corpos.
— Clarissa — insistiu quando permaneci em silêncio.
Mas não conseguia falar, não ainda, com o coração tão acelerado e aquele nó de sentimentos e sensações dentro de mim, e apoiei a testa na sua.
— Tem certeza de que isso não é errado? — sussurrei por fim, a voz instável.
E senti quando Marshall franziu o cenho.
— Pareceu errado?
Alguns segundos de silêncio, quebrado apenas por nossos fôlegos recuperando lentamente seu ritmo normal.
— Um pouco — confessei, envergonhada.
— Você não gostou?
— Eu não disse isso. — Juntei as pernas, ajeitando delicadamente a saia do vestido no lugar.
Mais alguns segundos de silêncio, até que Marshall apoiou a outra mão no meu rosto e falou com gentileza:
— Ei... olhe para mim. — Obedeci, por mais que ainda sentisse as bochechas quentes. — Só preciso que me responda uma coisa, tudo bem?
Assenti.
— Você gostou?
Hesitei por um momento, mordendo o interior do lábio, mas assenti mais uma vez.
— Gostei — murmurei baixinho.
— Então não foi errado — concluiu. — Sei que tudo isso ainda é novo para você, mas confie em mim, Clarissa. Nada disso é errado.
— É isso que ainda não entendo. Até alguns dias atrás, tudo isso que estamos fazendo era muito errado. Até mesmo pecado. Como, de uma hora para outra, não é mais?
Marshall inspirou profundamente, soltando o ar em um suspiro rápido e forte pela boca.
— É por isso que odeio conservadorismos — resmungou para si mesmo, baixinho, mas voltou a me olhar e disse com cuidado: — Sua confusão é perfeitamente compreensível. E sei que ainda vai levar um tempo para se acostumar, mas quero que faça uma coisa, tudo bem? Não apenas por mim, mas por você. Por nós.