— O que acha, meu Rei? — a Rainha perguntou, com cautela e em voz baixa, assim que o Príncipe se retirou.
— Sobre o que, exatamente, minha Rainha?
— Sobre Marshall e essa moça. O casamento. Ora, só você sabe como uma união dessas era tudo que eu mais sonhava para o nosso filho — acrescentou quando o marido apenas franziu as sobrancelhas em uma pergunta silenciosa. — Mas... sejamos sinceros, meu Rei. Sabemos como ele é.
— Tem medo que ele mude de ideia? — o Rei perguntou com cuidado, percebendo o rumo que os pensamentos da Rainha tomavam. — Que se canse do casamento?
— Marshall nunca se prendeu a moça nenhuma — explicou. — Na verdade, sempre pareceu muito empenhado em mostrar que é incapaz de nutrir tais sentimentos por alguém. E, longe de mim duvidar da índole do nosso filho, sei como ele é leal ao dever apesar de seu estilo de vida. Mas... — mordeu o lábio, incerta — será que o tempo que permaneceu fora do palácio foi mesmo o suficiente para que deixe todos os seus antigos costumes para trás? Tenho medo — confessou em um sussurro. — Não tenho dúvidas de que Clarissa seja uma boa moça, mas pelo que vimos, o Marquês não é muito tolerante. E se Aura estiver errada? E se o casamento correr, sim, algum tipo de risco?
— Entendo. — O Rei assentiu, altivo e compreensivo. — Em outras palavras, minha Rainha, seu medo é que Marshall faça besteira, e o Marquês decida agir por conta própria outra vez para resolver o problema.
— Sim — a Rainha suspirou, se deixando cair em uma das cadeiras ao redor da mesa redonda no centro da sala, o mapa da Paradise dividida aberto sobre a superfície. — Em um momento como esse, é muito importante que todos permaneçamos unidos. No entanto, não posso dizer que não entenderia o Marquês se Marshall de alguma forma magoasse a filha dele. Isso sem falar na dor de cabeça iminente que teremos com o Barão quando a notícia do casamento vier à tona. — Revirou os olhos só de pensar. — A verdade, meu Rei, é que estamos em uma situação ainda mais delicada do que pensamos.
— Cada palavra é a mais pura verdade, minha Rainha. — Ele parou ao seu lado, a abraçando carinhosamente pelo ombro. — Mas não se aflija. Dará tudo certo. Faremos dar certo. Como sempre fizemos, e como sempre faremos enquanto Lux estiver sob nossos cuidados.
A Rainha assentiu, inclinando o rosto na direção dos dedos quentes e ternos que acariciavam seu rosto enquanto observava o mapa, tentando visualizar o que o futuro os reservava.
— O que faremos sobre Spes? — sussurrou por fim. — Acha que corremos perigo?
O Rei levou alguns segundos para responder, também encarando o mapa com olhos levemente semicerrados, pensativo, até que respirou fundo.
— Tente se aproximar de Lady Clarissa. Independente de Marshall ser nosso filho, converse com ela, certifique-se de que se sinta em casa e de que pode confiar em nós para o que for. Enquanto isso... preciso pensar. E falar com Enrich. — Fixou o olhar no lado inimigo, na região chamada Inferis onde sabia que se erguia a Realeza Obscura. — No que diz respeito a Tenebris... absolutamente todo cuidado é pouco.
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— Chegamos — Velkan anunciou com um sorriso cortês, indicando a porta elegante e toda entalhada de madeira escura no meio do corredor. — Esperamos que esteja do seu agrado, milady.
Assim que Marshall voltou da reunião com os soberanos, tanto ele quanto o conselheiro e o general me guiaram em uma pequena excursão, mostrando o caminho do castelo até nossos aposentos — que, modéstia parte, ficavam no alto de uma torre.
Sorri para Velkan, agradecida, e deixei meu marido me guiar até o interior do cômodo, arquejando, deslumbrada, assim que pisei lá dentro.
Era grande e iluminado, raios de sol entrando pelas inúmeras janelas, e com certeza ia muito além de um quarto. Contava com uma sala de estar com sofás, poltronas e almofadas, uma estante repleta de livros, e outra porta que levava à suíte principal, toda decorada em tons pastéis de rosa-claro e dourado, e com uma cama imperial e imensa de dossel.
