— Ah, Clarissa... — minha mãe suspirou atrás de mim. — Você está parecendo uma verdadeira rainha!
Apenas me olhei de cima a baixo no espelho, sem fazer a mínima ideia do que dizer. Do que pensar. Ou sequer do que sentir.
— Está realmente fabulosa, milady. — Laura sorriu com orgulho. — Sem dúvidas, a dama mais bela que já pisou em Amare.
— Em toda Lux! — minha mãe exclamou, eufórica. — E nem é seu vestido de casamento! Se já está digna da Realeza agora, imagine quando subir ao altar. — Levou uma mão ao coração, emocionada. — Até os deuses ficarão de queixo caído.
Apenas continuei mirando meu reflexo, pensativa.
Era a noite do meu baile de despedida, e tanto Laura quanto minha mãe tiraram o dia inteiro para me preparar. Não imaginei que chegaria tão longe em toda aquela loucura, mas... sinceramente, nem sabia se me importava mais. Tirando o rápido encontro que tive com Martynes no bordel, dois dias atrás, não voltei a vê-lo. E, por incrível que pareça, o que quer que estivesse armando, devia estar sendo extremamente cuidadoso porque nenhum cochicho ou fofoca sobre ele andava correndo por aí.
Então, como sempre, só me restava esperar e obedecer, ir para onde me mandavam ir e fazer o que me era ordenado. Como uma boa moça.
— Aqui, milady. — Laura me entregou a máscara que compunha o figurino.
Eu usava um longo vestido de baile vermelho, cor de Amare, a saia cheia e rodada toda rendada e decorada com pequenas contas que o faziam brilhar com o movimento. O corpete justo era bordado com ramos verde-escuro e flores de um tom suave de salmão que combinava com o vermelho, descendo também pela cintura e ao longo da saia. O decote em formato de coração despontava em mangas ombro a ombro de tule translúcidas, também vermelhas, folgadas e elegantes, sem restringir meus movimentos.
Meu cabelo tinha sido preso em um coque elaborado repleto de tranças, cachos e pequenas flores aqui e ali para complementar a produção, uma delicada mecha ondulada descendo por cada lado do meu rosto até as clavículas, onde um delicado colar de diamantes decorava meu pescoço exposto.
E, é claro, a máscara. Ou meia-máscara. Toda bordada com os mesmos ramos de flores do vestido, ocultava apenas a parte direita do meu rosto em uma linha diagonal, presa por uma delicada haste que me permitia segurá-la no lugar ou afastá-la do rosto quando quisesse.
Eu seria a atração principal do baile, afinal de contas, então não havia motivo para ocultar completamente minha identidade, ao contrário dos convidados.
— Agora, é claro... — Minha mãe pegou uma das várias caixas espalhadas pelo quarto e a apoiou em cima da penteadeira, tirando de lá um elegante frasco de vidro. — A melhor fragrância que se pode encontrar em Lux.
— Mãe. — Pisquei, alarmada. — Se for o perfume que estou pensando...
— Com certeza é.
— Mas é muito caro!
Ela estalou a língua.
— Às vezes você se esquece de que temos condição de comprar essas coisas, não é, Clarissa? — Me pegou pela mão, me fazendo parar bem à sua frente. — Agora, erga o queixo.
Suspirei, mas obedeci.
— É só que... estão comprando coisas demais, não acha?
— Não — respondeu simplesmente, conforme borrifava o perfume abaixo das minhas orelhas, e logo o aroma intenso e floral pinicou meu nariz. Era bom, delicioso, mas uma borrifada de cada lado era mais do que o suficiente para durar pelos próximos dois dias, no mínimo. — Separamos um cofre especial para você assim que nasceu, Clarissa. Justamente para essas ocasiões, para nos assegurar de que absolutamente nada te faltasse quando fosse se casar. — Sorriu com carinho, me dando um leve peteleco no nariz. — É a nossa princesa, e vai ser tratada como tal.