44. Siga meu conselho

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- Feche os olhos - Aura falou de modo automático, como sempre fazia para iniciar o treino de magia. - E encontre a centelha que corre em seu sangue.

Trinquei levemente os dentes, mas obedeci. Apesar de ser necessário, invocar meu poder era sempre desconfortável. Por mais que agora tivesse algum controle, sem precisar depender da invocação das imagens de Clarissa para tentar o diabo flamejante dentro de mim a emergir, o fogo era rebelde. Quase como se tivesse consciência própria.

Mas o puxei para fora, literalmente o forçando a sair, e pequenas labaredas queimaram nas pontas de meus dedos.

- Ótimo - Aura murmurou, parada em pé à minha frente enquanto me analisava de cima a baixo com olhar frio e clínico. - Agora visualize uma bola de fogo em cada mão, tente guiar sua magia para o centro de suas palmas.

- Isso não deu nada certo da última vez - grunhi, os músculos dos braços tensos e a cadeira de madeira estalando com meu peso conforme me remexia, a lembrança da catástrofe da última noite deixando um gosto amargo em minha boca.

Aquele fogo desgraçado quase me incendiou da cabeça aos pés.

- Precisa dar em algum momento - a sacerdotisa grunhiu de volta. - A questão aqui não é a intensidade ou a força do seu poder, Marshall. Mas o domínio que tem sobre ele. Quanto você permite que saia e como o molda.

Respirei fundo, mantendo os olhos fechados, mas fiz como ela mandava. Visualizei uma bola de fogo em cada palma, puxando o fogo em meus dedos com uma força mental, tentando arrastá-lo até o centro de minhas mãos, mas ele resistia. Tremeluzia e ficava instável, preferindo abafar até sumir do que obedecer.

- Não deixe que apague - Aura avisou. - Pense no seu fogo como uma coisa viva, provoque-o apenas o suficiente para que permaneça aceso.

Pensei naquelas imagens de Clarissa, trazendo as lembranças que sempre o atiçavam à tona, e pude sentir o calor aumentar quase que instantaneamente. Puxei com força, arrastando pelos meus dedos até as palmas das minhas mãos, mas... alguma coisa estava errada...

- Molde - Aura me guiou, pressentindo minha dificuldade. - No momento estão parecendo mais tentáculos de um polvo desesperado do que bolas de fogo.

- Não está ajudando...

- Apenas obedeça.

Sibilei, a xingando mentalmente, mas fui tateando cada labareda, sentindo sua finura e seu comprimento, e puxei uma a uma para baixo, as obrigando a se curvarem para dentro até se unirem em uma coisa só, visualizando apenas um núcleo de chama em cada mão.

- Estão perdendo a força - Aura alertou, e voltei a enviar imagens de Clarissa.

Rodopiando em seus vestidos, sorrindo enquanto se lambuza de bolo, afastando uma mecha de cabelo que caiu em seus olhos...

- Isso... continue, está funcionando.

Seus olhos concentrados nas páginas de um livro, o sorriso de pura alegria quando rolou na terra pela primeira vez quando começou a treinar com Christa...

- Agora tente unir as mãos. Visualize apenas uma bola de fogo, potente e brilhante.

- É perigoso...

- Já deu um passo hoje com uma bola em cada mão. Vamos, você consegue dar mais esse. Mais, Marshall.

Pensei no gosto de sua boca, na sensação de seu corpo no meu, seu cheiro... seu corpo adormecido, seus olhos fechados e o rosto tranquilo, a cascata de cabelos esparramada pelo travesseiro.

- Cuidado... - a voz de Aura não passava de um eco distante conforme o estalo das chamas ficava cada vez mais alto, uma luz quente e laranja brilhando além dos meus olhos fechados. - Marshall, cuidado. Já basta.

Enchanted Love StoryOnde histórias criam vida. Descubra agora