— Quero parar em um lugar antes de irmos — falei assim que entramos na carruagem, lutando para me desenrolar do véu.
Martynes piscou para mim, o retrato da surpresa e da confusão.
— Lugar? Que lugar?
— O bordel.
Ele engasgou com a própria saliva.
— Quer fazer um show de despedida?
Revirei os olhos, mas não consegui segurar o sorriso.
— Logo vai descobrir. Marido — provoquei.
Martynes piscou mais uma vez, corando de leve. Corando.
— Marido... — repetiu, como se testasse a palavra, sentisse o gosto. E sorriu. — Tudo bem. Esposa. — Soltei uma risadinha conforme ele batia no teto da carruagem e botava a cabeça para fora da janela, chamando a atenção do cocheiro. — Mudança de planos. Vamos fazer uma parada antes de seguir viagem. Dê algumas voltas por aí até que a multidão disperse, depois siga para o sul.
— Certo — veio a resposta levemente confusa, e logo começamos a nos movimentar.
Olhei para o meu lado da janela, para o casal parado no arco das portas abertas do templo, acenando em meio a sorrisos e lágrimas.
Meus pais. Minha família. A única vida que conheci até agora.
Ficava repetindo a mim mesma que ficaria bem, que seria feliz ao lado de Martynes, e realmente acreditava nisso, mas... também seria doloroso. Muito doloroso. Até que me acostumasse com a ausência dos dois.
— Eu amo vocês — sussurrei, acenando, uma lágrima solitária escorrendo pelo rosto. — Vou sentir saudades.
Também te amamos, meu amor, li nos lábios da minha mãe, segurando um lenço no canto do olho.
Seja feliz, minha princesa, meu pai sorria, tranquilizador, para mim, enquanto abraçava minha mãe pelo ombro.
Continuei olhando até perdê-los de vista, mesmo depois, enquanto assimilava minha nova realidade.
Sabia que sempre teria o amor e o apoio dos meus pais, mas estava por conta própria agora. Eles tinham me preparado a vida toda para esse momento, mas agora era real. Era hora de crescer, de caminhar com os meus próprios pés.
Senti um toque gentil e cálido nos meus dedos e me afastei da janela, virando o rosto e encontrando os olhos verdes de Martynes. Ele sorria, compreensivo, e ergueu a outra mão para tocar meu rosto e secar minhas lágrimas.
— Vai ficar tudo bem. Não está sozinha.
Funguei de leve, assentindo, e entrelacei os dedos nos seus.
— Obrigada. Acho que, desde que toda essa loucura começou, nunca te agradeci de verdade. Mas... obrigada. Por ter me salvado quando passei mal, por ter assumido o compromisso comigo para livrar minha família de um escândalo, por...
— Ter tentado te ajudar a sair do mesmo compromisso? — Sorriu de lado.
— É — dei risada. E segurei seus dedos com mais firmeza. — Mas, principalmente... por ter me enxergado. Por ter me entendido. E por não ter me julgado.
Os olhos verdes analisaram todo o meu rosto, contemplativos, até que ele me puxou para mais perto e me beijou, daquele jeito leve e casto, mas sem nunca desviar o olhar do meu.
— Sua rebeldia foi o que mais me atraiu — murmurou em meus lábios. — Tanto na donzela quanto na Lady. Não quero que isso mude. Não quero que seja outra pessoa além de você. Nunca.