Literalmente corri para fora do palco assim que a música acabou, quase caindo no chão com a força que meus joelhos tremiam.
Céus, o que tinha feito?
Não consegui pensar direito quando me vi diante da plateia, não consegui me obrigar a correr, mas... a confusão nos olhos das pessoas, a completa falta de reconhecimento sobre quem ou o que eu era naquele momento... não sei explicar, mas senti meu peito se encher de uma coragem e adrenalina muito impróprias, e simplesmente... deixei que meu corpo respondesse à música da forma que queria.
Pareceu certo na hora. Foi bom. Mas... agora...
— Quem é você, afinal? — Uma das bailarinas me encarou com desgosto, claramente irritada por ter estragado a coreografia.
— Por que fez aquilo? — Outra se aproximou, o queixo erguido como se estivesse pronta para a briga.
Encolhi os ombros, recuando devagar enquanto gaguejava sem parar, cada vez mais certa de que estava perdida...
— Você. — Um homem me puxou pelo braço, e eu não sabia se ficava grata por me livrar da briga iminente, ou preocupada. — Venha. Foi requisitada.
— Re-Requisitada? Para quê? Por quem?
Por favor, diga que é Laríh. Por tudo que é mais sagrado, diga que Laríh percebeu que me meti em problemas e veio me salvar.
Mas não seguimos na direção dos camarins, o que fez meu coração afundar até a boca do estômago, e entramos em outro corredor, longo e com várias portas dos dois lados.
— Houve um engano — insisti, tentando me desvencilhar. — Por favor, eu não... não sou acompanhante!
Mas o homem me segurava com firmeza e apenas riu com desdém.
— Todas aqui são acompanhantes, meu bem. Acostume-se.
Continuei insistindo, quase me debulhando em lágrimas, mas ele só me largou quando chegamos no quarto no final do corredor, me deixando sozinha lá dentro e fechando a porta.
Tentei abri-la, mas foi inútil. O desgraçado tinha me trancado.
— Droga... — sibilei, tentando forçar a maçaneta. — Droga, droga, droga, droga, droga! Laríh! — chamei, socando a porta e tentando não cair completamente no desespero. — Laríh! Viktor! Alguém... me ajude!
Mas, é claro, não houve resposta.
Me encolhi contra a porta, olhando com cuidado o cenário atrás de mim... realmente era um quarto. Um quarto de... amantes. Se não estivesse tão apavorada, talvez tivesse parado para reparar em como era elegante e bonito, mas... no momento, só conseguia pensar nas coisas simplesmente horríveis que fariam comigo ali.
Não... tinha que dar um jeito de sair. Não podia deixar acontecer... o que quer que aquele desconhecido nojento estivesse pensando em fazer.
O quarto não tinha janelas, mas comecei a vasculhar toda e qualquer mobília, procurando por qualquer coisa que pudesse servir de arma... quando a porta atrás de mim se abriu de repente, e me virei num salto, dura e tensa feito uma estátua.
No entanto, quando vi quem entrava...
— Você — sibilei entre dentes, o medo sendo substituído por uma descarga ácida de raiva.
Martynes se recostou tranquilamente contra a porta, sorrindo daquele jeito insuportável.
— Eu.
Cerrei os punhos ao lado do corpo.