Capítulo 22

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Entrei na aula de química e Doohan já estava lá. Hesitei por um
segundo, imaginando se deveria me sentar ao seu lado ou não.
Mas ele me abriu um sorriso, e eu fui até sua mesa.
— Oi — disse, de maneira bem casual.
— Sabe de uma coisa... se você estava doente na sexta-feira, devia
ter dito — comentou.
— Eu sei, mas estava me sentindo bem e não queria cancelar. —
Tentei não enrolar muito as palavras. — Desculpe.
— Não tem problema.
— Então... bom... — Limpei a garganta e Doohan riu, um pouco
nervoso.
— Olhe, não quero parecer um cara insensível nem nada do tipo,
mas...
estava pensando no nosso encontro e...
— E é melhor sermos somente amigos? — completei e, em seguida,
me arrependi quando percebi que talvez não fosse isso que ele ia
dizer. Ah, cara, e se eu tivesse acabado de cavar minha própria
sepultura?
— Ah, pois é — disse ele, abrindo um sorriso nervoso. — Não quero
ofender. Mas parece que simplesmente... sei lá, a gente não clicou.
— Não estou me sentindo ofendida — eu disse, sorrindo. — Foi
exatamente o que pensei
Esperava que o meu alívio não fosse tão evidente. — E então, você
fez a lição de casa? Não consegui resolver a questão oito.
E, dessa maneira, minha vida voltou aos trilhos, que (tristemente)
passavam longe de qualquer romance.
ESTÁVAMOS TRABALHANDO NA PLACA DA BARRACA DO
BEIJO. AS letras já estavam cortadas e Aliyah havia lixado as arestas;
precisávamos somente pintá-las e pregá-las na estrutura da barraca.
Tínhamos alguns outros acessórios decorativos na minha casa, e os
pôsteres estavam prontos, também.
E havia duas tabelas com o preço.
— As pessoas comentaram a semana inteira sobre o que aconteceu
com você e Doohan— disse Aliyah Estávamos conversando depois da
aula na tarde de quarta-feira. Precisávamos apressar os preparativos
para conseguir terminar de montar a barraca na noite de sexta.
— Você não disse nada que pudesse me incriminar?
— Não disse a verdade a eles nem nada — riu Aliyah, enfiando o pincel
na tinta cor-de-rosa outra vez. — Só não entendo por que você disse
que estava doente.
— Era algo fácil de acreditar — me defendi. — Foi a primeira coisa
que veio à minha cabeça.
— Certo, entendi. Mas tem muitos garotos achando que foi porque
Galpin ficou com medo de Jenna
— Ela fez uma cara bem ameaçadora quando eu estava esperando
por Galpin — admiti, usando um carimbo em forma de beijo nas letras
que já estavam secas.
Aliyah deu de ombros. Levou algum tempo antes que ela quebrasse o
silêncio outra vez. — Emmy
— Sim?
— Ela a assusta? Digo... sei que ela não chega a ser o Incrível Hulk,
mas às vezes perde a paciência com muita facilidade.
— Ela é assim mesmo. Cresci com a Jenna por perto. Ela não
conseguiria me assustar. Mas sei que ela intimida as pessoas...
— Acho que sim — disse Aliyah, assentindo. De repente, ela deixou o
pincel cair na lata, respingando a tinta cor-de-rosa pastel em mim: no
meu rosto, na minha blusa, na gravata do meu uniforme, no meu
cabelo...
— Aliyah! — gritei.
— Desculpe!
Mergulhei um pincel no pote de tinta preta, já preparada para agitá-la
na direção de Aliyah. Mas senti uma coisa fria e molhada tocar meu
rosto e meu pescoço quando ele me respingou outra vez, fazendo-me
pular tão alto que larguei meu pincel, deixando um rastro de tinta na
parte da frente do uniforme.
Aliyah engasgou antes de desabar no chão, gargalhando. Olhei para ela
de cara fechada, esperando até que parasse.
— Isso não tem graça, Aliyah!
— Claro que tem! Você d-devia ter v-visto a sua... cara! — Ela estava
com as mãos nas laterais do corpo agora. Olhei para ela com
expressão de ódio e peguei minha mochila. — A-aonde você vai?
— Para o vestiário, tentar lavar o rosto e tirar essa porcaria que você
me jogou — esbravejei. — E pare de rir!
— Não consigo! — ela arfou, curvando-se para frente. — A sua cara!
Saí dali pisando duro, batendo a porta atrás de mim. Lembrava que
tinha outra blusa no meu armário. Iríamos sair para comer um hambúrguer mais tarde, e eu não queria andar em público como se
fosse um quadro de Picasso.
Sempre achei que os vestiários da escola eram um lugar muito
esquisito; um enorme corredor comunal, com avisos e outras coisas
penduradas, que levava à “suíte esportiva”, com suas esteiras e
pesos, e aos campos esportivos do lado de fora. O vestiário das
garotas ficava no final do corredor, à esquerda, e o dos garotos no
lado oposto, à direita.
Assim que entrei no corredor, o time de futebol americano inteiro
passou pelas portas. Eu já havia arrancado a minha gravata e aberto
outro botão; não havia me ocorrido que eu talvez não estivesse
sozinha por ali.
Todos os garotos começaram a andar mais devagar quando me
viram, e fiquei paralisada.
E então as risadas começaram. Aparentemente, todos estavam me
achando hilariante.
— O que aconteceu? — perguntou Jason, mordendo o lábio com
força para tentar não rir.
— Estávamos pintando a placa da nossa barraca. E Aliyah estava com
um balde de tinta. Preciso dizer mais alguma coisa?
Ele negou com a cabeça. A maioria dos garotos começaram a entrar
nos vestiários, ainda rindo e olhando para mim. Peguei uns dois ou
três olhando sem qualquer pudor para a minha camisa
semidesabotoada, e coloquei um braço diante do peito.
— Ah, parem com isso — falei, girando e abrindo um sorriso enorme.
Preferia transformar aquilo em uma piada em vez de ficar
constrangida. — Estou tão suja assim?
— Bem, eu pagaria para ver você em uma galeria de arte — disse um dos garotos, rindo. Revirei os olhos e segui pelo corredor até o
vestiário das meninas, virando o rosto para me despedir.
Uma mão segurou meu braço, fazendo com que perdesse o
equilíbrio, e em seguida me amparou antes que eu caísse.
Virei para ver quem era. E o sorriso no meu rosto se desfez. — Ah.
— O que você está fazendo? — sibilou Jenna. — Você não pode
andar por aí seminua, Emma.
— Ando por aí do jeito que eu quiser, muito obrigada! — gritei em
resposta, puxando o braço para me soltar. — Como se isso fosse um
problema.
Não é como se eu estivesse pulando de um lado para outro de
calcinha, pelo amor de Deus.
— Sim, mas mesmo assim... — Os olhos dela me mediram de cima a
baixo.
Em seguida, ela me encarou com um olhar severo.
— Me deixe em paz! — exclamei, olhando para ela. — Olhe,
sinceramente, já é ruim o bastante você ser assim superprotetora. Mas
não precisa ser tão...
extrema!
— E então, o que aconteceu entre você e Galpin? Sei que toda aquela
história de “estar doente” era mentira.
Meu queixo caiu. Será que ela estava me chantageando? — Você
não contou a ninguém, não é?
Ela me olhou com um ar de superioridade e abriu um sorriso torto. —
Não fico fazendo fofoca. E... não, não contei para eles. Porque
imaginei que você tivesse um bom motivo para dizer isso. Então, o
que aconteceu?

The Kissing BoothOnde histórias criam vida. Descubra agora