Capítulo 37

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— Estou indo ao mercado — disse sua mãe quando cheguei. — Mas,
se você quiser ficar por aqui e esperar um pouco, sinta-se à vontade.
— Certo, vou ver o quanto ele vai demorar. Obrigada, Natalie
— Tchau, Emma — disse ela, alegremente, antes de sair. Eu suspirei,
mandando uma mensagem para Aliyah para tentar descobrir onde ela
estava.
Estou com Mickey Desculpe! :-( Não sabia que você ia até minha
casa.
Ela claramente se esqueceu de que havíamos combinado de nos
encontrar.
Não era coisa dela.
Não tem problema. Vou para a minha casa. E acrescentei o emoticon
com uma carinha feliz para deixar claro que não estava brava com
ela; embora realmente estivesse um pouco chateada. Aliyah nunca me
trocou por outras garotas sem pelo menos avisar com antecedência.
Ela deve estar realmente gostando de Mickey, pensei.
Estava indo para a porta quando ouvi alguém no alto da escada e
olhei para cima.
— Ah, oi — disse Jenna. — Aliyah não está em casa.
— Sim, sua mãe acabou de me avisar. Ela foi ao supermercado, por
falar nisso.
— Ah, certo.
Fiquei balançando sobre os calcanhares enquanto ela descia as
escadas me olhando. Não sabia se o melhor seria ir embora ou não...
e não queria ir agora que sabia que Jenna estava.
Durante toda a semana, sempre que a via nos corredores ou no
campo de futebol americano no almoço, lembrava da sensação de
seus lábios nos meus, e sentia uma vontade enorme de beijá-la de
novo.
Ela estava usando somente uma calça de moletom puída com
manchas velhas de óleo e uma camiseta branca. Nada especial.
Como diabos conseguia parecer uma modelo de capa de revista
então? Jenna realmente era demais para mim.
Estava começando a me convencer de que tudo que havia acontecido
no fim de semana entre nós era página virada, e de que ela havia se
esquecido de tudo. Eu simplesmente tinha que superar aquilo e
seguir em frente.
E então ela me beijou. Pega de surpresa ao encontrá-la ali, deixei que
ela me empurrasse dois passos para trás e me prensasse contra a
parede e, em seguida, me empenhei totalmente em retribuir o beijo.
Aparentemente, todas as minhas dúvidas e preocupações tinham sido
totalmente irracionais. Quando finalmente nos separamos para tomar
ar, ainda estávamos tão próximos que, quando um de nós falava,
nossos lábios se esfregavam.
Ela disse, em voz baixa: — Passei a semana inteira esperando para
fazer isso.
Senti uma onda de empolgação pelo corpo. Tentei forçar minhas
bochechas a não corar e manter a calma, para que ela não
percebesse o quanto eu estava aliviada e feliz.
Disse a mim mesma que não devia deixar que meus sentimentos nos
aproximassem tanto; precisava tomar cuidado.
Por causa de Aliyah.
Em uma tentativa de ser a garota autoconfiante e charmosa que eu
não era, respondi: — Desculpe por fazer você esperar!
Ela deu de ombros. — Valeu a pena.
Bem, essa era uma resposta com a qual eu não me importaria em
ficar com o rosto corado.
— Quanto tempo você acha que nós temos?
— Hmmm... meia hora, pelo menos — calculei, com um tom de
divertimento na voz.
Os olhos castanhos de Jenna pareciam estar ainda mais escuros do que o
habitual, se isso era possível. Ela me deu outro beijo rápido e, em
seguida, pegou minha mão, levando-me para o andar de cima.
— Você vai à festa de Warren na semana que vem? — ela me
perguntou, repentinamente.
— Sim. E você?
Ela acenou com a cabeça. — Mas não use nada que seja muito
escandaloso, certo?
— Por que não? — perguntei, curiosamente. Jenna nunca havia dito
nada sobre aquele assunto nas festas anteriores.
— Você não acreditaria no que os rapazes falaram a semana inteira a
seu respeito — disse ela, irritada, com um músculo saltando ao redor
do queixo.
— Acho que acreditaria, sim — resmunguei em voz baixa, sem
pensar.
— O que foi que você ouviu? — esbravejou ela, ainda mais irritada
agora, embora aquela raiva não estivesse direcionada contra mim.
Resistindo ao impulso de revirar os olhos, dei de ombros. Eu
realmente, realmente mesmo, precisava aprender a ficar de boca
fechada. — Só alguns comentários sobre a barraca do beijo.
— Por exemplo...? — pressionou ela. percebi que ela estava
começando a ficar enfurecida. Conhecia todos os sinais de alerta
depois de tantos anos: o músculo na região do queixo; os nós dos
dedos estalando; a linha de expressão na testa, logo acima das
sobrancelhas, e as pernas que se colocavam em uma posição típica
de quem estava se preparando para brigar.
Seus dedos estavam se flexionando, o músculo em seu queixo
latejava...
Ah, e lá estavam as pernas.
— Só estavam dizendo coisas idiotas — suspirei, caindo na cama.
Não consegui nem mesmo aproveitar a sensação do colchão de
molas, tamanho o nível de tensão da situação. — Comentários sobre
eu ter beijado você, perguntando se a taxa de dois dólares ainda
estava valendo... Está tudo bem, sério, não aconteceu nada... —
garanti, rapidamente.
Jenna balançava a cabeça. — Tem certeza de que ninguém tentou
nada?
Nada mesmo?
Eu suspirei. — Certeza absoluta. Acalme-se de uma vez.
— Estou falando sério, Myers — disse ela, franzindo a testa. Bela
maneira de quebrar o clima, pensei, amargamente. — Se qualquer
um daqueles idiotas chegar perto de você, eu vou...
— Já sou uma garota crescida e capaz de cuidar de mim mesma.
Você não precisa ser tão... tão... tão controladora o tempo inteiro,
caramba! Acalme-se.
— Não estou sendo controladora!
— Está, sim! — gritei em resposta, erguendo o corpo até sentar para
encará-la com um olhar irritado. — Vou vestir o que eu quiser para ir
à festa na semana que vem, droga. Não preciso que você me diga
com quem devo ficar nem o que devo vestir nem com quem posso
conversar!
— Estou tentando impedir que você se machuque! — ela gritou.
— Eu não vou me machucar! Nem todo mundo é uma cafajeste
como...
— Como eu? — ela terminou a frase para mim.
— Sim! Sim, como você!
Naquele momento eu estava bem diante de Jenna, tentando olhá-la
nos olhos. Não era fácil, já que ela era uns dez centímetros mais alta
do que eu, mas me esforcei para encará-la com um olhar irritado.
— Parece que você não entende o quanto aqueles caras são ruins —
argumentou ela. — Você age de maneira normal, mas eles acham
que você está flertando e entendem do jeito errado. Eles vão acabar
tentando fazer alguma coisa, e você pode achar que não os levou a
agir assim, mas com certeza levou.
— Eu não estou tentando enganar ninguém! — gritei, enfurecida por
aquela acusação.
— É exatamente disso que estou falando! Você não tem a intenção,
mas quando age do seu jeito e faz essas brincadeiras, alguns dos
garotos entendem do jeito errado. Eles acham que você está
flertando. E, se não tomar cuidado, vai acabar se machucando.
— Está bem! Mas não preciso que você planeje cada um dos meus
movimentos por mim! — O cutuquei com força no peito, e ela agarrou
minha mão antes de trazer os lábios para junto dos meus.
O beijo teve um sabor estranhamente doce, alimentado por uma raiva
que se derreteu em paixão. Foi estranho como uma situação se
transformou de uma discussão bastante acalorada em uma sessão igualmente intensa de beijos.

The Kissing BoothOnde histórias criam vida. Descubra agora