Capítulo 21

390 33 0
                                    

PASSEI A ALIYAH UM RESUMO DO ENCONTRO COM GALPIN E, EM
RESPOSTA, ela sorriu, demonstrando simpatia.
— Será que você iria querer mesmo um segundo encontro? Parece
que não se divertiu tanto...
— Bem, na verdade, não — balbuciei, tentando arrancar alguns
fiapos inexistentes no meu jeans. — Mas, não sei. Provavelmente
aceitaria se ele me convidasse... Ai! Por que você fez isso? —
exclamei, quando Aliyah deu um tapa forte na minha coxa.
— Gentil demais! — disse, me dando uma bronca. — Você não
gostou do cara como algo mais do que um amigo, obviamente. Mas
iria iludi-lo apenas para tentar ser gentil.
— Não iria iludi-lo. Somente... dar uma segunda chance. As pessoas
não encontram sua alma gêmea no primeiro encontro.
Ela ergueu uma sobrancelha. Prossegui: — Eu não ia iludi-lo!
— Iria. Não intencionalmente. Mas porque estava sendo educada.
Suspirei e deixei o corpo cair para trás, deitando sobre a grama outra
vez.
— Eu realmente sou tão ruim assim?
— Você não é legal com Jenna.
— Sim, mas estamos falando de Jenna. Aliás, obrigada... — emendei,
ironicamente, — ...por avisar que era ela que ia me dar uma carona
até o cinema.
— Ah, é verdade. Foi mal. Mas pelo menos vocês não se mataram.
— Eu estava pronta para fazer isso, pode acreditar. E o jeito que ela
olhou para Galpin quando o garoto apareceu? Juro por Deus, a sua
irmã é a babaca mais irritante que existe em todo planeta!
Aliyah simplesmente riu de mim. Fiz uma careta e olhei para as nuvens
que passavam sobre nós, lã e algodão contra o azul intenso do céu.
Senti minha respiração se normalizar; havia algo de tranquilizante em
observar as nuvens.
— Desculpe — disse Aliyah após algum tempo. — Você é engraçada
quando está brava.
— Se você diz.
— De qualquer maneira... Galpin falou com você desde a noite do
encontro?
Eram três horas da tarde do sábado. E... não, Doohan não havia me
mandado nenhuma mensagem nem ligado, e algo me dizia que ele
não havia se divertido tanto também.
— Não — respondi. — Não falou.
Aliyah deu de ombros. — Ele não está interessado.
— O quê? Como você pode saber? Talvez esteja ocupado. Ou talvez
esteja se fazendo de difícil ou coisa assim.
O sorriso de Aliyah retorceu um dos cantos da sua boca em simpatia. —
Desculpe, Emma, mas ele simplesmente não está interessado. Pode
confiar em mim... Sei como a população masculina
funciona quando o assunto envolve garotas.
— Certo — resmunguei. — Talvez ele não esteja mais interessado.
Talvez eu devesse simplesmente ter engolido meu orgulho e o
beijado.
— Está vendo? Está agindo daquele jeito de novo — resmungou Aliyah
— Você não tinha obrigação nenhuma de ficar com Galpin. E daí que
as coisas não deram certo entre vocês? Nada de mais. Siga em
frente.
— Não consigo decidir se esse seu conselho é útil ou não.
— Não sou uma idiota. Não vou ficar sentada aqui e dissecar como
foi sua noite.
— Você acabou de me ouvir fazendo isso — murmurei.
— Exatamente.
Suspirei. — Certo, acho que você tem razão. Mas as coisas vão ficar
estranhas na escola, você não acha?
— Só se você agir de um jeito estranho.
— É, acho que sim.
Subitamente sentei sobre o gramado, ficando até um pouco tonta pela
rapidez do movimento. — Não conte a sua irmã sobre o desastre
que foi meu encontro com Galpin, está bem?
— E por que eu faria isso?
— Só se... caso ela pergunte. Diga que correu tudo bem. Se tiver que
dizer alguma coisa, diga que não rolou química entre nós. Mas não
diga a ela que foi tão ruim quanto eu lhe contei.
— Certo... — disse ela, desconfiada, sem me questionar.
Eu não queria nem imaginar a expressão arrogante no rosto de Jenna
se descobrisse o que realmente havia acontecido no meu encontro
com Galpin.
Fossem quais fossem as razões pelas quais ela não queria que eu
tivesse um namorado, Jenna estava desempenhando de maneira
exemplar a função de me manter solteira.
Suspirei baixinho comigo mesma e fechei os olhos, sentindo o sol
aquecer minha face. Senti Aliyah se deitar ao meu lado e ficamos ali,
aproveitando o sol, satisfeitos e relaxados demais para dizer alguma
coisa.
O FIM DE SEMANA PASSOU DE MANEIRA BEM PREGUIÇOSA.
NÃO NOS incomodamos em fazer nada de mais. Assistimos a alguns
filmes, ficamos deitados sob o sol, pulamos na piscina de Aliyah e
tentamos fazer um pouco das lições de casa (mas não chegamos a
fazer muito progresso). Assim, a segunda-feira veio bem mais
rapidamente do que eu gostaria.
Minha primeira aula do dia era química. Com Galpin. Que havia
passado o fim de semana inteiro sem me ligar nem mandar uma
mensagem de texto. Não sabia se, assim como eu, ele simplesmente
não queria sair uma segunda vez ou se deveria ficar preocupada com
o fato de que ele não gostava de mim.
Algumas pessoas já haviam mandado mensagens ou conversado
comigo para saber como tinha sido o encontro. Eu sempre dizia “foi
bem”. Quando perguntavam se sairia com ele de novo, dizia “não sei”.
E se havíamos nos beijado, tive que dizer “não”.
Mas agora eu tinha que encará-lo. E não sabia como agir.
Sim, Galpin era legal e fácil de se conversar. Mas eu não gostava dele
daquela maneira. Ele obviamente sentia o mesmo em relação a mim,
já que não havia me ligado. Deveria estar aliviada; se o sentimento
fosse mútuo, as coisas não poderiam ficar tão constrangedoras entre
nós, não é?
— Ah, não! — Desviei o olhar do meu armário e vi que Georgie vinha
em minha direção. — Você está usando calças de novo. Estou
sentindo falta daquela saia. Você estava uma beleza.
— Muito engraçado.
— Eu não estava fazendo graça — disse ele com uma risada. Revirei
os olhos e continuei tentando encontrar minha tarefa da aula de
matemática. — Todo mundo está falando sobre o grande evento que
foi o seu encontro com Galpin.
— Por quê? Não foi tão interessante assim. De verdade.
— Sim, eu sei. Mas ele foi o primeiro que se arriscou a convidá-la
para sair.
Dei de ombros, tentando não apertar os dentes quando lembrei o
quanto Jenna tinha me irritado com toda aquela história de “evitar que
eu ficasse magoada”.
— Galpin contou para todo mundo que você não quis beijá-lo.
— Não é isso... espere. Ele contou para todo mundo? Ele realmente
disse isso?
— Bom, eu disse isso. Foram uns dois outros garotos que o
pressionaram para saber como havia sido a noite e ele abriu o bico
bem rápido. Somente porque, sabe... o encontro de vocês foi a maior
notícia dos últimos dias. Por isso... todo mundo agora está achando
que você não quis beijá-lo.
— É que... eu não sei...
— Ei, você não precisa se justificar — disse Georgie com outro sorriso
enorme. — Mas algumas pessoas vão falar a respeito e fazer
perguntas. Esteja preparada então.
— Obrigada pelo aviso — resmunguei.
— Por nada.
E ele tinha razão. As pessoas vinham falar comigo, perguntando: — É
verdade que você não quis beijar Galpin? Por que não?
Na primeira vez, entrei em pânico. Não queria falar o verdadeiro motivo, então simplesmente balbuciei alguma coisa como “eu não
estava passando muito bem. Não sabia se era contagioso”.
Uau, que mentira. Eu tinha certeza de que todos sabiam, mas, se era
realmente o caso, ninguém demonstrou.

The Kissing BoothOnde histórias criam vida. Descubra agora