E foi então que olhei atrás dela e vi o horário, me encarando com os
números vermelhos do seu despertador. Soltei um gemido
exasperado; tinha que estar em casa para o jantar dali a vinte
minutos. O que havia acontecido com a tarde?
— Preciso ir embora — disse, com urgência.
— Ah... — Se eu não o conhecesse tão bem, talvez pensasse que ela
estava decepcionado. — Precisa que eu a leve para casa?
Virei-me para encará-la com as sobrancelhas erguidas. — Posso ir
andando. Tenho pernas. Duas, para ser mais exata.
Vi um sorriso torto se formar no seu rosto. — Faça como quiser,
então.
Estava apenas tentando ser gentil...
— Não se preocupe. Sério. — Queria espairecer um pouco a cabeça,
e isso não iria acontecer se Jenna estivesse comigo. — Você fica
muito fofa desse jeito — disse a ela, indicando a expressão em seu
rosto.
Ela fez uma careta. — Não me chame de fofa. Por favor.
— Ah, que fofinha — provoquei, rindo. Empurrei seu ombro em tom
de brincadeira, um gesto que ela devolveu revirando os olhos.
Fui pegar meu celular que estava na cômoda ao lado da sua cama e
deixei sair a pergunta antes que pudesse me conter.
— Por que você detesta que as pessoas o chamem de Jenna?
— Jenna não é o nome mais legal que existe. É impossível imaginar
uma pessoa correndo aterrorizada ao ouvir o nome Jenna. Ortega é...
— Ortega combina com você.
— Exatamente. Então, por que você sempre me chama pelo meu
primeiro nome?
— Porque eu cresci com você. Depois, fazia isso só para irritá-la. Mas
até que é sexy.
As palavras saíram antes que eu me desse conta do que estava
dizendo.
Minha boca se fechou abruptamente e minhas bochechas queimaram
enquanto eu a cobria com a mão. Eu não conseguia acreditar que
havia acabado de dizer aquilo! Bem, eu realmente achava que Jenna
era um nome sensual — talvez não em todas as pessoas, mas Jenna
Ortega conseguia fazer com que fosse.
Nela, o nome era sexy. Não conseguia acreditar que havia dito isso a
ela!
Ela abriu aquele sorriso malandro, tirando a minha mão da frente do
meu rosto que, sem dúvida, já devia estar da cor de uma beterraba.
— Bem, quando você fala desse jeito, até que não parece tão ruim.
Soltei uma risada envergonhada e ela me deu um rápido selinho nos
lábios antes de soltar minha mão.
Precisava mesmo ir. E, se alguém chegasse em casa
inesperadamente, provavelmente ia ser mais do que um pouco
suspeito o fato de eu estar ali com Jenna. Dificilmente acreditariam
que estávamos “apenas conversando”.
Fui até a cozinha antes de sair para pegar minha bolsa e o jogo de
videogame para Isa.
Quando virei para trás e vi Jenna encostada no batente da porta
aberta, levei um susto. Ela não havia feito um único som; eu não fazia
a menor ideia de que ela estava ali.
— Você vai estar livre amanhã? — perguntou.
— Acho que não... tenho uma tonelada de lição de casa para fazer...
Foi somente depois de responder que pensei que talvez devesse ter
tentado ser mais misteriosa — perguntar o que ela tinha em mente,
dizer que eu poderia estar livre ou não. Mas afastei aquela ideia
imediatamente. Eu jamais conseguiria agir assim.
— Que droga.
Esperei que ela estendesse o comentário, mas Jenna ficou em
silêncio.
Simplesmente me encarou com aquele sorriso torto que era sua
marca registrada, e seus olhos brilhantes quase perfuraram os meus.
Fiquei imaginando se isso significava que ela queria se encontrar
comigo. Mas ela não disse mais nada.
— Ah — eu disse, em voz baixa.
Ela sorriu. — Vou encontrar um lugar escondido para que possamos
nos ver, não se preocupe.
Sorri em resposta. Em um único dia, tinha deixado de ser uma pessoa
sem vida amorosa para o que só poderia ser chamado de me
encontrar às escondidas com a garota mais gostosa de toda a escola,
tudo por causa daquela maldita barraca do beijo.
— Tchau — disse em voz baixa, me esfregando discretamente nela
enquanto ia para a porta da frente.
— Ei, espere um pouco — disse ela, puxando-me para trás por uma
das alças do cinto do meu short. — Eu quero meu beijo de despedida.
— Hmmm, não.
Uau, talvez esse tenha sido o maior flerte que eu já disse durante o
dia inteiro. Sou o máximo
— Não? — Ela ergueu as sobrancelhas escuras em tom de desafio.
Ela se aproximou para me beijar assim mesmo, e eu ia corresponder
à carícia — mas ela se afastou depois de simplesmente roçar os
lábios nos meus. Encarou-me então com uma expressão inocente, e
revirei os olhos.
— Tchau, Emmy — disse ela quando eu já estava de saída, me
provocando.
— Tchau, Jenna — respondi no mesmo tom, sorrindo para mim
mesma.
NÃO PAREI DE SORRIR DURANTE TODO O CAMINHO DE VOLTA
PARA casa.
Naquela noite, deitei na cama pensando em tudo que havia
acontecido. Não havia maneira de saber quanto tempo iria durar; eu
sempre pensei que era o tipo de garota que preferiria estar em
relacionamentos longos e envolventes.
Pelo que tinha ouvido falar, o relacionamento mais longo de Jenna
havia durado uma semana, talvez. Mas eu não conseguia evitar. Não
queria magoar Aliyah, mas sentia uma atração por Jenna que não era
simplesmente física...
Não que eu fosse fazer qualquer coisa tão idiota quanto me apaixonar
por ela. De jeito nenhum.
Se havia alguma coisa capaz de prejudicar minha relação com Aliyah
seria isso. Não podia e não iria acontecer. Não permitiria.
Teria que tentar lidar com tudo isso da melhor maneira que pudesse.
Se isso significasse esconder que Jenna e eu estávamos juntas, então
era o que deveria ser feito. Não queria ficar longe dela; a simples
lembrança do que aconteceu naquela tarde fazia com que eu sentisse
um calor por dentro do corpo.
Estou quase certa de que dormi sorrindo!
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The Kissing Booth
FanficEmma Myers vive um dilema romântico: Ela está apaixonada pela irmã mais velha da sua melhor amiga, mas não pode ficar com ela, pelo menos é o que ela acha. *Essa história é uma adaptação do livro A Barraca do Beijo* (Jenna é uma personagem intersexu...