Na segunda – feira de manhã nem mesmo Aliyah percebeu que havia alguma coisa diferente comigo — graças a Deus. Mas isso provavelmente aconteceu porque ela estava absorta demais no seu mundo apaixonada. Eu não consegueria sentir gratidão maior por ela estar falando sem parar sobre o quanto sua amada era engraçada. E bonita. E meiga. E inteligente. E doce. Até chegarmos à escola, tudo estava indo muito bem, obrigada.
— Por que você foi embora tão cedo da festa de Barclay? — foi a primeira coisa que Bianca veio me perguntar.
— Ah, bem...
— Foi por causa de Ortega? Millie realmente beijou você? Ela disse que não, mas nunca se sabe. Ouvi dizer que Ortega estava muito, muito brava.
— Ah, sim, ela estava furiosa! — Olívia surgiu do nada, ao lado de Bianca
— Eu vi tudo. Ela deu uma surra em Millie, sem dó.
— Mas ela não me beijou — eu disse. — Millie, só para esclarecer de quem estamos falando.
— E então, o que foi que Ortega fez?
— Ouvi dizer que ela quebrou uma costela de Millie. — Melissa também surgiu sabe-se lá de onde. Credo, de onde essas garotas estavam vindo?
— O quê?! — exclamei.
— Eu te perguntei: o que foi que Ortega fez? — repetiu Bianca.
Olhei para Melissa, boquiaberta. — Está falando sério? Millie está bem?
— Não sei. Ela disse que achava que estava quebrada, e dois outros garotos disseram que estava, depois que ela foi ao hospital.
— Ah, meu Deus — sussurrei. Ela não podia ter quebrado a costela de Millie. Não só porque Millie estava bêbada e ia me beijar. De jeito nenhum.
— Ei! Ei... Terra chamando Emma! — Não foi até que Bianca estalou os dedos com força bem diante do meu nariz que percebi que elas ainda estavam falando comigo.
— Hein?
— Ortega levou você de volta para casa? — perguntou Naomi. Quando ela havia aparecido? — Eu a vi puxando você para fora da festa.
— Ah, é claro. Sim. Ela me levou para casa, e acho que voltou para a festa depois. Não foi? — Eu esperava que aquilo não soasse tão falso. Não achava que soubesse mentir direito; até toda essa situação com Jenna começar, eu nunca havia precisado fazer isso com tanta frequência.
— Não, eu acho que não... — disse Olívia, puxando pela memória. —
Tenho certeza de que ela não voltou.
— Que estranho... — Dei de ombros. — Já volto. Preciso descobrir o que houve com Millie.
Afastei-me dali antes que elas pudessem me puxar para outra conversa.
Segurei no braço de Jacke, pois ele foi o primeiro garoto que encontrei.
— Ah, oi — disse ele, sorrindo. — O que aconteceu no sábado?
Soube que Ortega tirou você da festa depois do que aconteceu com Millie
— Millie realmente está com a costela quebrada? — exigi saber.
— Ah... alguém me disse que isso pode ter acontecido. Mas ela não está no hospital. Ela vem para a escola.
— Ortega deve ter dado uma porrada e tanto.
— Sorte que não era eu quem estava ali para receber o soco — riu
— Isso mesmo! — concordou Jacke
— Vocês sabem se ela já chegou? — perguntei.
— Quem, Ortega? Não faço ideia — disse Jack.
— Não, não. Millie — esclareci, embolando as palavras de impaciência.
Ela deu de ombros. — Não o vi.
— Certo, obrigada.
— Espere — chamou Jacke. — Aonde você está indo, Emma?
— Encontrar Jenna — esbravejei, alto o bastante para que eles me ouvissem.
Fui pisando duro até o lugar onde ela geralmente estacionava o seu carro: o lado mais distante do estacionamento, embaixo da árvore grande. E, com certeza, ali estavam todos os sinais de que ela estava por perto: garotas do primeiro ano se desmanchando em risadinhas e tentando se esconder atrás dos outros carros; outras se espreguiçando em seus carros, tentando atrair a atenção de Ortega; e cheiro de fumaça.
Cheguei pisando duro perto das figuras preguiçosas ao redor da árvore. Havia uma dupla de garotos maconheiros encolhidos embaixo de uma das árvores, e alguns garotos enormes da equipe de luta livre embaixo de outra. Jenna estava com um cigarro enfiado na boca agora, encostada em um sicômoro enorme. Estava mexendo no celular, parecendo ao mesmo tempo ocupada e entediada. Era sempre difícil ter certeza de quem eram os amigos de Jenna. Ela podia estar acompanhada pelas garotas do time de futebol americano ou então com colegas das aulas que fazia. Mas ela era do tipo que vagava, entretanto. Não era uma solitária ou um excluída, mas também não tinha uma amiga tão próxima como Aliyah e eu éramos, por exemplo. Provavelmente ela intimidava um pouco demais as pessoas.
— Jenna! — gritei, ignorando os olhares espantados; tanto das garotas que observavam Jenna às escondidas como da massa de pessoas por perto que se perguntava que diabos eu estava fazendo. Ela ergueu os olhos e, percebendo o quanto eu estava irritada, afastou-se da árvore.
— Não consigo acreditar no que você fez! — gritei para ela.
Ela veio andando em minha direção, deixando cair o cigarro que estava em sua boca e esmagando-o sob as botas pretas que geralmente usava. Enfiou o celular no bolso de trás da calça.
— O que foi? — disse ela, inocentemente.
Coloquei as mãos em seu peito e comecei a empurrá-lo com toda a força, várias e várias vezes, um empurrão para cada palavra: — Você. Quebrou. As. Costelas. Dela!
— Do que você está falando?
Meus empurrões não tinham qualquer efeito sobre o corpo musculoso de Jenna, mas eu percebia que aquilo estava começando a deixá-la Irritada. Como uma mosca zumbindo ao redor da cabeça.
— Millie! Todo mundo está dizendo que você quebrou a costela dela! Ela teve que ir ao hospital!
Jenna sorriu. Não chegou nem a erguer as sobrancelhas ou esboçar qualquer reação de culpa. Simplesmente abriu aquele sorrisinho torto.
— Pois é, ouvi algo parecido.
— Ela pode prestar queixa na polícia — sibilei.
— Sim, mas nós dois sabemos que ela não vai fazer isso.
— Ela nem fez nada! E você não precisa ficar com essa cara de feliz!
— gritei, empurrando-a. — Você quebrou a costela dela. Sem motivo!
— Sem motivo uma ova! — ela gritou de volta. — Aquela garota estava colocando as mãos em você. Qualquer pessoa podia ver que você estava tentando se soltar.
— Ela estava bêbada!
— Não me importa se ela estava bêbada, drogada ou se era simplesmente uma tarada — disse Jenna, chegando bem perto do meu rosto. — Estou fazendo isso porque me preocupo com você, Emma, e aquela garota mereceu o que fiz com ela.
— Uma costela quebrada? Ela provavelmente vai passar semanas sem conseguir jogar futebol agora!
— Então não devia ter tentado fazer nada com você — disse Jenna, firmemente. — Se ela terminou com a costela quebrada, não é problema meu.
Por que você se importa tanto com isso?
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The Kissing Booth
FanfictionEmma Myers vive um dilema romântico: Ela está apaixonada pela irmã mais velha da sua melhor amiga, mas não pode ficar com ela, pelo menos é o que ela acha. *Essa história é uma adaptação do livro A Barraca do Beijo* (Jenna é uma personagem intersexu...