Capítulo 43

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Mas, primeiro, fui até a cozinha para beber algo, sentindo-me ressecada por dentro.
— Você está bem? — perguntou ela sob o vão da porta enquanto eu colocava o copo vazio sobre a pia. Concordei com a cabeça, esfregando o rosto. — Não está com vontade de vomitar nem nada do tipo?
— Eu não bebi, se quer saber. Depois da última festa, achei que seria melhor pegar leve por um tempo.
— Ah. — De repente, os braços dela estavam ao meu redor, e ela me beijou no alto da cabeça. — Certo, talvez não seja preciso que eu esteja por perto para tomar conta de você o tempo todo.
Eu ri. — Até que gosto de saber que você ficava tomando conta de mim. O que eu não gosto é quando você age como uma idiota por causa disso.
Ela riu discretamente, beijando minha cabeça de novo, seus dedos brincando com o meu rabo de cavalo. — Você quer ir para casa?
Encostei a cabeça no ombro de Jenna, e depois olhei em seus olhos.
— Prefiro ficar mais algum tempo por aqui.
— Você pode ficar no quarto de hóspedes, se quiser. Se não quiser voltar para casa.
Dei de ombros, sem saber ao certo o que fazer. Dependia do quanto o tempo voava quando eu estava com Jenna.
Em seguida, estávamos nos beijando de novo, e subindo as escadas aos tropeções. Depois de um tempo, eu já estava puxando a camisa dela, e antes que pudesse pensar no que estava fazendo, puxando a minha para tirá-la também.
Suas mãos seguraram as minhas, mantendo-me imóvel. Ela interrompeu o beijo mas não se afastou. Sua testa estava encostada na minha, nossos narizes pressionados um contra o outro. Eu podia até mesmo sentir as saliências em seu nariz, nos lugares em que ele havia sido quebrado. Olhei para aqueles olhos de um castanho claro incrivelmente brilhantes em meio à escuridão.
— Emma — disse ela, em voz baixa. — Não precisamos fazer isso. Podemos esperar. Eu posso esperar.
Quaisquer dúvidas que eu tivesse a respeito desapareceram completamente quando ela disse aquelas palavras. Não havia planejado que isso acontecesse, especialmente não tão rápido; Sempre pensei que só aconteceria quando eu estivesse em um relacionamento estável com uma garota que amasse. A sensação era tão boa, tudo parecia tão perfeito com Jenna, que eu não me importava. E talvez eu não fosse até o fim se ela não tivesse me dito, com aquela voz suave, que podia esperar. Mas foi o que bastou. Eu sabia que ela se importava.
E então respondi, numa voz tão baixa quanto a dela. — Sei disso.
Mas eu quero.

QUANDO ACORDEI, O AROMA CÍTRICO QUE ESTAVA FICANDO CADA vez mais familiar provocou minhas narinas, e o som estranhamente relaxante da chuva de primavera tamborilando na janela estava abafado, como se batesse em uma colcha de lã. A superfície dura e lisa por baixo da minha cabeça estava subindo e descendo lentamente, e os braços que me rodeavam eram carinhosos e acolhedores. Se prestasse bastante atenção, poderia ouvir a batida contínua de um coração sob a minha orelha. Pisquei os olhos sonolentos algumas vezes para abri-los, sentindo que meu corpo não estava disposto a acordar. Aquele lugar estava tão aconchegante e pacífico...
Quando o quarto bagunçado de Jenna surgiu diante dos meus olhos, a luz fraca do dia tentando atravessar as cortinas, acordei na hora. E foi então que percebi exatamente o que havia feito, e a minha pulsação acelerou de pânico.
Eu havia dormido com a irmã de Aliyah... com Jenna! Estava confusa demais para saber o que realmente sentia a respeito de tudo aquilo. A única coisa da qual tinha certeza era que, se Aliyah descobrisse o que havíamos feito, iria morrer por dentro. Eu era uma pessoa horrível, totalmente horrível. Tentei ficar imóvel o máximo que consegui, para não acordá-la. Precisava organizar meus pensamentos antes que ela... Ele se moveu, espreguiçando-se antes de deixar os braços caírem por cima de mim outra vez.
— Bom dia — ela disse, casualmente.
— E-eu... eu realmente preciso ir embora — gaguejei, já afastando seu braço. — Se Aliyah me ver aqui...
— Acho que ela nem voltou para casa ontem, para falar a verdade —
Disse Jenna, bocejando.
Quis ir até a janela para ver se conseguia avistar seu carro. Se Aliyah realmente estivesse aqui, eu teria que fazer de tudo para evitar que ela não me visse indo embora. Mas se ela não estivesse...
— É melhor eu ir — disse outra vez, e levantei. Peguei minha roupa íntima e vesti as duas peças rapidamente, muito, muito encabulada.
Cara, o que foi que deu na minha cabeça na noite passada? Esconder alguns beijos do minha melhor amiga não era algo tão importante... mas isso? Com certeza ela perceberia que alguma coisa estava diferente. E se ela descobrisse... Eu não pensei em Aliyah na noite passada. Devia ter pensado. Mas só estava pensando em Jenna. Não passou pela minha cabeça, nem por um minuto, que aquela era uma espécie de traição horrível que eu havia cometido contra a minha melhor amiga.
— Por que toda essa pressa? — perguntou Jenna, esticando os braços e as pernas preguiçosamente outra vez.
Baixei os olhos para ela, já vestindo o meu jeans. Quando joguei o cobertor para longe, ela nem se preocupou em se cobrir outra vez. —
E-eu só... eu...
Jenna franziu a testa, um pouco confusa, e levantou-se para vir para perto de mim, agora que eu havia me sentado na cama para desenroscar o pé da perna da minha calça.
Xinguei-me mentalmente por ter tanta pressa; tudo aquilo só estava me atrasando ainda mais.
— Emma? — Ela afastou os cabelos que me caíam sobre o ombro, mas não olhei para ela.
— O que está acontecendo?
— Na-nada! — Droga, gaguejei. Até que teria sido convincente se não fosse isso.
Tentei de novo.
— Nada.
— Emma... — Jenna tocou o meu ombro, virando-me para que eu pudesse olhar aqueles olhos castanhos incríveis, que perfuravam os meus por baixo daqueles cabelos escuros.
— Eu tenho que ir — repeti. Fiz menção de me levantar, mas ela tornou a me puxar para baixo.
— Não até que você me diga qual o problema. Por que eu estou tendo um pressentimento ruim aqui, como se você estivesse... Arrependida?
Quase explodi com a verdade, mas consegui me conter. — E-eu...
Não estou.
— Vamos lá, Emmy. Sei quando você está mentindo para mim... —
Jenna suspirou. — Devia saber que você agiria assim.
— Hã? Assim como? — questionei, imediatamente ficando na defensiva.
— Assim — disse ela, me apontando como se aquilo explicasse tudo.
— Você está agindo de um jeito esquisito comigo agora. Como se estivesse arrependida. Porque você está arrependida. Estou vendo no seu rosto. — Ela fechou os olhos por um momento. Parecia quase... irritada.
— Eu não... não é que eu esteja arrependida, exatamente... estou somente com medo. Se Aliyah descobrir. Ela vai me odiar. Olhe, foi... Maravilhoso, mas...
Comecei a chorar e mordi a bochecha enquanto sentia meu rosto ficar vermelho.
— Desculpe.
— O quê? Meu Deus, não. Não se desculpe — disse ela, em voz baixa, passando a mão nos meus cabelos e colocando-os por cima do meu ombro direito. — Estou com a sensação de que sou eu quem deveria pedir desculpas.
Olhe, eu lhe disse. Não fiz tudo isso pensando apenas em sexo, e continuo não pensando, se você decidir que não quer mais. Entendeu? Só não quero desistir disso. Seja lá o que “isso” signifique.
— Ela beijou a minha têmpora. Parecia estar muito... dividida em relação ao que havíamos feito. — Você sabe que eu detesto toda essa carga emocional. Por favor, não me faça passar por essa tortura.
Definitivamente não estava arrependida do que houve na noite passada. E, desde que Aliyah não soubesse, isso não iria magoá-la. Assim, eu tinha simplesmente que me certificar de que ela não descobriria. A coisa mais inteligente a fazer seria acabar com tudo aquilo antes que eu me afundasse demais, a ponto de não conseguir mais sair do atoleiro. Uma outra coisa inteligente agora seria recuar antes de fazer alguma coisa imbecil — como me apaixonar por ela. Porque eu não estava me apaixonando por ela. É claro que não. De jeito nenhum. E não poderia.
Balancei a cabeça, como se estivesse me certificando do fato...

The Kissing BoothOnde histórias criam vida. Descubra agora