Capítulo 9

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A LUZ DO SOL TENTAVA ATRAVESSAR AS CORTINAS, MAS
AQUELE ainda era o brilho fraco do início da manhã, e a claridade
fez com que o quarto ficasse azul-escuro. Fechei os olhos outra vez,
tentando aconchegar a cabeça no travesseiro macio e almofadado.
Me encolhi ainda mais embaixo do edredom grosso.
Era bem quente e confortável. E tudo cheirava a... alguma coisa que
ficava entre o cítrico e o amadeirado. Seja lá o que fosse, era um
cheiro delicioso.
Tinha certeza de que já havia sentido aquele cheiro antes, em
alguém...
Eu me levantei com um movimento súbito, assustada.
Meu quarto não tinha aquele cheiro. Minha cama não era tão
confortável. E o meu quarto não tinha cortinas azuis.
Então... onde diabos eu estava?
Olhei ao redor. Havia algo de familiar em tudo... Mas eu
definitivamente nunca havia estado ali antes. Levantei as cobertas e
vi que estava usando uma camiseta de pijama, grande demais para
mim, uma camiseta cinza sem nada de especial. Ela tinha o mesmo
cheiro dos travesseiros.
Eu ainda estava com todas as minhas roupas íntimas, entretanto. Um
bom sinal.
Levantei-me da cama com cuidado. Que diabos havia acontecido na
noite passada? Tentei espremer a memória, mas não conseguia
lembrar de nada.
Lembrava-me vagamente de ter dançado na mesa de sinuca. Será
que eu realmente havia bebido tanto assim?
Estava com um gosto na boca tão horrível quanto a dor de cabeça
que sentia.
Provavelmente devo ter vomitado. Lembrava de alguém segurando
meus cabelos. Deve ter sido Aliyah; ela certamente cuidaria de mim.
Mas onde eu estava?
Fui na ponta dos pés até a porta do quarto e coloquei a cabeça pelo
vão da porta. Praticamente chorei de alívio ao ver que estava na casa
de Aliyah e Jenna.
Provavelmente havia apagado no quarto de Jenna. Mesmo depois de
tantos anos, eu nunca havia entrado no quarto dela.
Um momento... Por que eu estava no quarto de Jenna? Por que não
em um dos quartos de hóspedes? Ou no quarto de Aliyah?
Voltei para a cama, com a cabeça latejando com tanta força que
achei que não ia conseguir passar muito tempo em pé, e olhei para o
despertador. Eram somente oito e meia da manhã. Esperando poder
curar a ressaca com mais algumas horas de sono, voltei para baixo
das cobertas, inalando o cheiro de Jenna.
Bem quando eu estava prestes a mergulhar na inconsciência outra
vez, a porta se abriu lentamente, fazendo as dobradiças rangerem.
Meus olhos se abriram imediatamente, e meu olhar cruzou com o de
Jenna
Ela estava sob o vão da porta, somente com uma toalha ao redor da
cintura, presa sem muita firmeza. Seu peito e o abdômen ainda
estavam úmidos com as gotas de água, e seus cabelos pretos
pingavam.
Minhas sobrancelhas se ergueram. Seis gomos naquele tanquinho.
Quem imaginaria?
Não consegui evitar de enrubescer com o modo pelo qual ela
conseguiu fazer o meu coração disparar, simplesmente olhando para
mim.
— Desculpe — disse, com a voz baixa. — Não queria acordar você.
— Está tudo bem — eu disse, com a voz um pouco rouca. Limpei a
garganta, mas até mesmo aquele barulho fazia a minha cabeça doer.
— Acabei de acordar.
— Certo. E essa ressaca, como está?
Respondi com uma careta que fez Jenna rir. — Você não faz ideia. Eu
não sabia que tinha bebido tanto.
— Você tomou um porre de vodca, disso eu sei — disse ela,
sentando-se na beirada da cama. Meu coração se descontrolou. Será
que ela não podia ter pegado uma camiseta ou um jeans antes de vir
falar comigo?
— Como assim, você sabe disso? Quando foi que me viu?
— Quando você estava a ponto de arrancar a roupa na mesa de
sinuca diante de alguns dos rapazes para ir nadar pelada — disse
ela, casualmente, olhando-me de lado com aqueles olhos castanhos
brilhantes.
Imaginei se ela era capaz de ouvir meu coração aos pulos.
Provavelmente.
Esperava não estar mais com o rosto vermelho, pelo menos. Isso
seria bem constrangedor.
Meu queixo caiu quando finalmente assimilei as palavras. — Oh, meu
Deus.
Diga que eu não fiz isso.
— Não, não chegou a fazer. Tive que tirar você de lá.
Fiquei boquiaberta, com as bochechas ardendo, e cobri o rosto com
as mãos, olhando para ela por entre os dedos. — Não consigo
acreditar que fiz isso.
— Então...
— Obrigada. Por me impedir. Esta manhã seria bem vergonhosa.
— Ah, você acha? — rebateu ela, ironicamente, mas com um sorriso.
— Você vomitou, também. Só para lhe informar.
— Como assim? Na frente das pessoas?
Meu Deus, isso está ficando cada vez pior! , pensei, quase em
pânico.
— Não — disse ela, balançando a cabeça e respingando água em
mim. — No meu banheiro. Eu estava tentando evitar que você fizesse
papel de idiota ou que se machucasse.
Gemi, sentindo-me humilhada. — Desculpe por ter dado trabalho.
Lamento muito, Jenna. Não queria que você perdesse a festa nem
nada do tipo...
Ela deu de ombros. — Está tudo bem. Não foi nada.
Bufei. — Claro, mas acho que nós dois sabemos que ter que cuidar
de mim não foi a parte mais memorável da sua noite.
— Não foi tão ruim — disse ela, depois de um momento, e sorriu
outra vez.
Não era um daqueles sorrisos tortos. Era um sorriso real, genuíno,
que mostrava a covinha em sua bochecha esquerda e fazia com que
os olhos se enrugassem um pouco nos cantos. Era uma expressão
contagiosa; tive que sorrir de volta para ela.

The Kissing BoothOnde histórias criam vida. Descubra agora