Capítulo 23

395 38 0
                                    

Dei de ombros. — Nada.
— Alguma coisa aconteceu, com certeza. Eu te conheço bem o
bastante para saber quando está mentindo. E então, qual é a
verdade?
Mordi a bochecha por dentro da boca, decidindo se devia contar ou
simplesmente mandar que ela não metesse o nariz onde não era
chamada. Mas pensei que, se não contasse, ela acabaria concluindo
que Galpin fez algo que não devia.
Enquanto eu debatia a questão comigo mesma, não consegui evitar
de notar como Jenna ficava gostosa com a roupa do time de futebol
americano, aquelas ombreiras enormes e o capacete enfiado debaixo
do braço. Seus cabelos estavam um pouco úmidos pelo suor, e ela
parecia uma... uau.
Antes que ela percebesse que eu a estava comendo com os olhos,
finalmente respondi. — Ela ia me beijar no fim da noite, mas o beijei
no rosto em vez disso. Ele não tentou fazer nada, foi uma situação
totalmente normal, e fiz papel de idiota por ter virado o rosto. Nada
demais. As coisas tomaram uma proporção exagerada. É meio
constrangedor.
Ela observou meu rosto por um momento antes de dizer: — Só isso?
Tem certeza?
Tive a sensação de que ela tentava não rir.
Bufei, prestes a bater o pé. — Sim. Certeza absoluta. Por que você é
sempre tão dramática? Não é como se qualquer garoto desta escola
fosse me obrigar a fazer qualquer coisa que eu não queira.
Ela ergueu uma sobrancelha, como se estivesse dizendo que eu era
ingênua demais. Fiz de conta que não percebi.
— Agora, será que posso ir lavar essa porcaria de tinta ou a Inquisição Espanhola tem mais perguntas idiotas?
Ela soltou uma risadinha. — Alguém está de mau humor.
— Eu estou coberta de tinta, e você está me obrigando a responder
esse interrogatório a troco de nada! É claro que eu estou de mau
humor. — Saí pisando duro e entrei no vestiário.
Mas, quando me vi no espelho... bem, tive que rir. Eu estava um
desastre!
Tinta respingada por todo o cabelo, manchando meu rosto e
escorrendo pelo pescoço, entranhando-se em minha roupa...
Mas não achei tão engraçado quando percebi que aquela tinta não ia
sair.
Ou quando percebi que não tinha outra blusa de reserva no armário.
Depois de passar dez minutos esfregando incansavelmente, consegui
tirar um pouco da tinta do cabelo e a maior parte que havia manchado
meu rosto. A tinta havia escorrido por dentro da blusa, e eu estava
assim ali dentro, de calça e sutiã, quando a porta se abriu.
Pensando que fosse Aliyah, não virei para trás.
— Ei, Emma? Aliyah disse que vai sair para comer com as garotas, mas
se você quiser uma carona de volta para casa... — Jenna deixou a
frase morrer no ar quando me viu ali.
Fiquei paralisada, piscando os olhos diante do meu reflexo no
espelho.
Senti minhas bochechas esquentarem e me virei, esperando não
estar com o rosto tão vermelho quanto o meu reflexo.
— O quê? — eu disse, brava.
— Nada
— Não, perguntei o que você estava dizendo.
— Ah, sim, certo, ah, é mesmo, bem, Aliyah está saindo para comer
com as garotas, mas disse que, se você quisesse ir direto para casa,
então terei que levar você. E, considerando que ainda está parecendo
uma obra de Picasso...
Olhei para os respingos de tinta que ainda cobriam minhas clavículas
e ri, tentando disfarçar a vergonha por ela estar me vendo de sutiã.
Ela havia me visto de biquíni outras vezes, mas aquela situação
parecia... diferente, de algum modo. — Sim. Pode falar para Aliyah ir
embora.
— Claro. Quanto tempo ainda vai demorar aí?
Dei de ombros. — Não sei. Já que você vai me levar direto para casa,
posso tomar banho por lá. Então...
Vesti a blusa ainda úmida e fechei os botões rapidamente, colocando
a bolsa por cima do ombro. — Vamos.
Eu não estava louca para entrar no carro com Jenna — esperava até
que ela fizesse algum tipo de sermão.
— E como está indo a construção da barraca? — ela perguntou,
casualmente, enquanto atravessávamos o estacionamento. Olhei
para ela, desconfiada. Ela percebeu e deu de ombros. — O que foi?
Não posso nem conversar com você?
Minha única resposta foi erguer as sobrancelhas com ceticismo.
Ela deu de ombros de novo. — Enfim, esqueça. E então, vai me
responder ou não?
Suspirei, apertando os olhos por um segundo. Sentia que devia ficar
irritada com ela, mas não conseguia encontrar uma razão legítima
para isso. Acho que Jenna simplesmente causava um efeito estranho
em mim. Só não tinha descoberto ainda se esse efeito era bom ou ruim.
— Está indo bem. Ainda temos coisas para terminar antes de sexta,
mas vamos conseguir. Desde que Aliyah não comece a passar tinta em
mim em vez de nas letras de novo.
— Bem, você até que daria uma bela obra impressionista, preciso
admitir.
Parei de andar, fazendo com que Jenna também parasse alguns
passos mais adiante quando percebeu que eu não estava com ela.
Olhei para ela e ergui as sobrancelhas.
— O que foi?
— Acho que isso foi um elogio. Jenna Ortega acabou de elogiar
alguém.
Liguem para os jornais, pessoal!
Ela deu uma risada irônica, mas vi o brilho em seus olhos. Retribuí o
sorriso e continuei andando com ela.
— Você vem ao festival? — perguntei.
— Sim. Sou meio que obrigada a fazer isso. É uma daquelas coisas
que todos os professores “estimulam” os alunos a fazer para
demonstrar o “espírito estudantil” e outras merdas.
— Está pensando em dar uma passadinha na barraca do beijo?
Ela ergueu uma sobrancelha enquanto me olhava, com uma
expressão irritante no rosto. — O que você está perguntando, Emmy?
— Todas as garotas, especialmente aquelas que vão trabalhar na
barraca do beijo, estão me pedindo para convencer você a passar por
lá. A oportunidade de beijar Jenna Ortega é um atrativo empolgante
demais para algumas.
O sorriso dela ficou ainda maior. — Ah. Você não está perguntando
por interesse próprio, então?
Nem sonhando.
— Não, definitivamente não.
— Bem, não vou prometer nada. Você pode dizer a elas que talvez eu
apareça por lá, se perguntarem de novo. E, como elas me conhecem,
com certeza, vão perguntar de novo.
— Você é tão convencida — murmurei, balançando a cabeça. Parei
por um momento, procurando seu carro. Ela estava com o chaveiro
nas mãos, mas eu não via o carro em lugar algum.
— Onde está o seu carro? — perguntei, seguindo-a
— Eu não vim de carro hoje.
— Então... como chegou até aqui?
— Com a minha moto.
Gemi, começando a arrastar os pés, e em seguida parei
completamente, percebendo a bela motocicleta preta e vermelha que
ela havia criado a partir do pedaço de sucata que estava em sua
garagem. Não me entendam mal, ela era linda; mas eu nunca havia
subido em uma moto em toda minha vida. Ficava completamente em
pânico só de pensar no assunto.
E lá estava eu, sem qualquer opção além de montar em uma máquina
de duas rodas que podia me matar. Com Jenna, ainda por cima.
— Se eu morrer, a culpa é sua.
— Você não vai morrer, Emma. Aqui, pode ficar com o capacete.
— Você só tem um capacete? Mas e se...?

The Kissing BoothOnde histórias criam vida. Descubra agora