— Vou ficar bem — ela interrompeu. — Ainda não bati essa belezinha
aqui.
— Ela bateu com firmeza no guidão, como se quisesse mostrar o
quanto a máquina era resistente.
— Mas e se você cair? E se você bater? Existe uma razão para usar
o capacete! Por acaso você tem alguma espécie de instinto suicida?
— Minha voz ia ficando cada vez mais histérica com cada sílaba. Eu
estava com os olhos pregados na moto o tempo todo, que parecia
mais monstruosa e perigosa a cada segundo.
— Está preocupada comigo, Emmy? — provocou.
Apertei os olhos. Ela estava com aquele sorriso torto, os olhos
brilhando quando me encarava, jogando o capacete gentilmente de
uma mão para outra.
Eu o arranquei de suas mãos.
— Você não precisa ter medo da moto — disse ela, acariciando-a
como se fosse um cachorro de estimação querido. — Ela não morde.
— Talvez não, mas você pode querer morder — murmurei. Mas ela
me ouviu e soltou uma risadinha. Jenna guardou a mochila no espaço
embaixo do assento e colocou a minha por cima.
Enfiei o capacete na cabeça com força, apertando os dentes. Eu
realmente não queria fazer isso... mas não tinha escolha. Precisava
voltar para minha casa antes de me encontrar com Aliyah e as garotas.
Embora preferisse ir me encontrar com elas toda suja de tinta a subir
naquela moto com Jenna.
Tive dificuldade para prender as correias. O capacete era enorme, e
eu não conseguia ver o que estava fazendo. Seu um aroma tinha um
toque cítrico.
Assim como o travesseiro de Jenna. Um cheiro bem agradável.
Forcei meus pensamentos a voltarem ao problema atual — prender o
capacete na cabeça, para que tivesse uma chance um pouco menor
de morrer.
— Deixe comigo... — as mãos de Jenna roçaram nas minhas
enquanto ela prendia o capacete para mim. As pontas dos dedos
fizeram cócegas no meu pescoço, e por algum motivo me senti toda
trêmula. Que esquisito... Ignorei aquilo, imaginando que fosse algum
efeito de ter que montar naquele treco que ela chamava de veículo.
— Não faça essa cara tão assustada. — Ela sorriu; outro sorriso
verdadeiro, genuíno, que mostrava sua covinha no rosto. Aquilo fez
meu coração virar cambalhotas. Como adorava ver aquele sorriso.
Ela montou na moto, e eu me sentei atrás dela. Graças a Deus por eu
não estar de saia foi a única coisa em que consegui pensar.
Jenna colocou os braços para trás e suas mãos encontraram as
minhas, puxando meus braços ao redor da sua cintura. Eu enrijeci um
pouco, e ela me aconselhou: — É só relaxar, Emma
Com um tranco, o motor rugiu e a moto ganhou vida, rosnando por
baixo de mim. Não havíamos avançado nem um centímetro, mas
apertei os braços com toda força ao redor da cintura dela,
encostando-me o máximo que podia. Meu coração batia acelerado,
aterrorizado.
Ouvi sua risada por sobre o sangue que circulava furiosamente pelas
minhas orelhas e o rugido ameaçador do motor.
E, em seguida, partimos.
Queria gritar com ela, berrar “Vá mais devagar! Você vai nos matar!”.
Mas, quando abria a boca, qualquer som que pudesse expressar era
arrancado pelo vento passando por nós. Estávamos disparando pelas
ruas, ziguezagueando pelo o trânsito, avançando por entre as fileiras de carros e caminhões.
Meus cabelos estavam embaraçados por baixo do capacete, e minha
blusa inflava ao redor do meu corpo. Eu não conseguia ouvir nada
além do sangue em minhas orelhas, do rugido da moto e do vento.
Quando Aliyah deu meia-volta e parou suavemente diante da minha
casa, eu não conseguia me mover.
Meus braços ainda estavam apertados com força ao redor daquele
abdômen definido. Minhas pernas estavam tão próximas a ela quanto
eu conseguia apertá-las.
Lentamente, Jenna afastou meus braços, e isso me trouxe de volta à
vida.
Desci da moto com as minhas pernas tão bambas que fariam
qualquer gelatina parecer uma substância sólida. Minhas mãos,
trêmulas, se enrolaram nas correias do capacete outra vez.
Jenna as abriu para mim com um movimento rápido e o tirou da minha
cabeça.
— Seu cabelo ficou em pé com a estática — disse, e estendeu o
braço para agitá-lo.
Fiz uma careta, e tentei alisar o cabelo com as minhas mãos — o que
foi impossível. Parecia um ninho de pássaro. Iria passar horas
escovando para conseguir desembaraçar todos aqueles nós. Os
restos de tinta que não havia conseguido tirar não facilitavam a tarefa
em nada.
— Ah, pare com isso — disse ela, encostando-se casualmente em
sua moto.
— Não me diga que não gostou.
— Detestei — respondi, honestamente.
— Não adorou o vento no cabelo, a liberdade ou a velocidade?
Neguei com a cabeça. — Sem chance. Eu detestei tudo isso.
— Não gostou nem mesmo de passar um tempo abraçadinha
comigo? — perguntou, com um sorriso torto e arrogante. — Não me
diga que não gostou disso.
— Jenna, essa foi a coisa mais assustadora que eu já fiz em toda a
minha vida. Não me importa o quanto você seja gostosa, detestei
cada segundo.
— Você me acha gostosa? — Aquele sorriso torto foi ficando ainda
maior, e senti minhas bochechas esquentarem.
— Ah, cale a boca. Duvido que você não saiba que é.
— É verdade. Mas é legal ouvi-la admitir isso.
— Você é uma cafajeste, sabia? E nunca vou subir nessa moto outra
vez na minha vida.
— Mas sou uma cafajeste gostosa, certo? — provocou.
Eu faiscava de raiva. — Cale essa boca. Tire logo a minha mochila
daí de dentro. Por favor — emendei.
Ela revirou os olhos, mas me entregou a mochila.
— Obrigada — eu disse, ríspida, e marchei rumo à porta de casa.
— Ah, Emma?
— O que foi? — suspirei, virando-me para encará-la com uma
expressão exasperada.
— Você está com um pouco de tinta... bem ali. — Ele passou a mão
pelo lado do rosto para demonstrar, com um sorriso imenso na cara.
Eu o encarei com raiva e bati a porta da casa após entrar.
— Emma? É você? — chamou meu pai. Ele surgiu na porta da cozinha
e me olhou da cabeça aos pés. — O que foi que houve?
— Você não vai nem querer saber.
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The Kissing Booth
FanfictionEmma Myers vive um dilema romântico: Ela está apaixonada pela irmã mais velha da sua melhor amiga, mas não pode ficar com ela, pelo menos é o que ela acha. *Essa história é uma adaptação do livro A Barraca do Beijo* (Jenna é uma personagem intersexu...