*** Um mês atrás ***
Nuvens cinzentas cobriam o céu, sinalizando a chegada da chuva que, apesar disso, persistia em retardar sua queda. O dia seguia quente, abafado, sufocante como a sensação que envolvia o coração de Bright. Ele seguia a pé para o compromisso de trabalho, absorto em seus pensamentos.
Fazia pouco tempo de seu retorno à Bangkok, após um mês de estadia em Tóquio. Sua viagem tão sonhada não surtiu o efeito desejado. Toda a ilusão que carregou por anos tinha se dissipado, mas ele seguia envolto na atmosfera nebulosa dos seus sonhos infantis.
______________________________
Desde criança sentia-se incompleto.
Seus pais ficavam preocupados por vê-lo, jovem adolescente, quase sempre levando uma expressão de tristeza e distanciamento, a não ser quando estava com sua gatinha, Ame, ou quando falava do Japão, especialmente de Tóquio, assunto que estudava continuamente. Seu sonho era passar pelo menos algum tempo naquela cidade. Para ele, lá iria encontrar aquilo que completaria o que lhe faltava. Aquilo que nem mesmo ele conseguia identificar ou compreender.
Na verdade, isso se agravou com a chegada da adolescência. Antes, tudo parecia normal para os pais de Bright. O pequeno gostava do contato com a natureza e de participar de atividades físicas, no campo ou na praia. Durante as férias escolares, ele se juntava aos dois primos, filhos do irmão de seu pai, e a outras crianças do seu círculo familiar, brincando até a exaustão. Ninguém imaginaria que aquela criança, amigável e simpática, desde tenra idade, sentia um vazio em seu coração.
Com a visível mudança de temperamento, segundo seus familiares e amigos, os pais de Bright resolveram procurar por apoio profissional. Mesmo contrariado, o adolescente teve que atender à imposição dos pais. Já estava ficando farto de ouvi-los discutindo sobre o seu estado de humor, sua falta de vontade diante das interações comuns aos jovens.
Um absurdo! Não age como um jovem "normal". Nem namorada tem, não demonstra interesse por ninguém. - Certa vez ouviu seu pai dizer. Em contrapartida, sua mãe respondeu: - A questão não é essa. Não me importa se ele namora ou não. Tampouco qual é sua orientação sexual. O problema é a tristeza que percebo em nosso menino. Isso me parte o coração. Tenho receio que seja um quadro depressivo. Temo que esteja doente. -
Naquele momento, resolveu que seria mais cuidadoso com as suas expressões. Procuraria guardar para si mesmo seus sentimentos mais aflitivos e seria um jovem "normal". A verdade é que a terapia o ajudou a compreender algumas coisas e fez com que ele buscasse equilibrar o vazio que sentia, com estudo e convívio social. É claro que dentro de algumas limitações. Ele não estava disposto a se subjugar a modelos estereotipados. Também não queria enganar ou ferir alguém. Focou em suas metas pessoais. Queria ser independente e "ganhar o mundo". Porém, comprometeu-se a dar uma oportunidade à Vida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Onde você está? - Lavanda
RomanceVocê acredita em vidas anteriores? Eu não acreditava... Há um mês, eu estava entrando naquela loja e alguém, distraidamente, bateu no meu ombro. Foi muito rápido, ele se desculpou sem me olhar nos olhos, mesmo assim pude ver seu rosto, embora ele n...