De mudança

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"Mas nada vai conseguir mudar o que ficou"

"Mas nada vai conseguir mudar o que ficou"

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Décimo Oitavo Capítulo

De mudança

*Yíng

Foi tudo muito rápido. Depois que o meu pai concordou, mamãe chorou um pouco. Eu e Zhenni acabamos chorando também. Jia ficou nos consolando, rindo e dizendo que continuaríamos perto, que a mudança seria boa. Papai não se conteve e foi para o quarto. Eu sabia que precisávamos conversar, mas não me sentia à vontade e tinha medo do que ele poderia me dizer. Minha mãe me abraçou e falou ao meu ouvido: - Vá conversar com o seu pai. 

Entrei no quarto e bati nas costas da porta. 

Nós costumávamos respeitar o espaço uns dos outros, mesmo os mais velhos não entravam sem se anunciarem. Fiquei tão acostumado com isso que achava que era coisa comum em todas as casas. 

- Pode entrar, Yíng. Venha cá, sente-se aqui comigo.

- Pai...

- Primeiro, me ouça. - meu pai estava tão sério e olhava para uma velha pintura na parede. -

Eu quase tinha esquecido o quanto amava aquela pintura. Fazia alguns anos que ela saíra da sala, no intuito de ser melhor conservada. Era uma gravura delicada, reproduzia um grupo familiar, parecia uma data comemorativa. Pai, mãe e dois filhos ainda pequenos. Estavam em uma sala que parecia luxuosa, bem vestidos e as crianças sorriam. A menina no colo da mãe, jogava os bracinhos rechonchudos para o pai. O menino, de pé ao lado do pai, sorria para a irmã. O quadro me era tão familiar. A moldura era muito simples em comparação com a pintura. Meu pai a havia refeito alguns anos atrás. Era possível ver uma mancha sombreando a lateral esquerda.

- Filho, você sabe a história desse quadro? - 

Sim, eu sabia. Tantas vezes ouvi minha avó contar, mas eu também sabia que meu pai precisava falar.

- Nós não somos daqui. Essa é a única lembrança que ficou da nossa história. A mancha traz o sangue da nossa família. Minha avó trouxe com ela, junto com algumas sementes das flores que plantou aqui. Apenas ela e o marido conseguiram fugir, deixando tudo para trás, inclusive o corpo do irmão, que fez de tudo para salvá-la, mas não teve a mesma sorte. Ela resistiu por causa do meu pai. É importante não esquecer nossas origens e entender como tudo é passageiro. Nossos antepassados tiveram posses, riquezas, mas também enfrentaram a guerra e a fome para que nossa família sobrevivesse. E tudo o que herdamos foi um nome honrado. Meus avós compartilhavam o mesmo nome, a mesma família. Esse é o nome que você leva e você é meu único filho. Eu não compreendo bem este mundo lá fora. Além do que aprendi ouvindo as histórias dos meus avós, só sei o valor do trabalho e da honra. Você está levando a minha esperança de continuidade, mas eu não posso impedir que você vá.

- Pai, eu respeitarei a sua decisão.

- Ela já está tomada. Eu dei minha palavra ao Jovem Sr. Ling e espero que ele honre a dele. Quanto a você, cuide de sua irmã. Cuidado com as suas próprias escolhas. Alguns caminhos não tem volta. Nem sempre podemos seguir o que desejamos, muito pelo contrário, quase sempre não podemos escolher o que realmente queremos. Se você tiver sorte, como eu tive, encontrará alguém especial, assim como eu encontrei sua mãe. 

Onde você está? - LavandaOnde histórias criam vida. Descubra agora