01- Atende Mulheres?

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A vida é como uma montanha russa no escuro, uma hora você ta em cima, na outra ta descendo ladeira abaixo e, em raros momentos, ta apenas seguido reto, por isso nós nunca sabemos o que esperar depois das próximas curvas e, é justamente nesses momentos, que o imprevisível pode nos alcançar.

Me chamo Yasmim, tenho vinte e cinco anos e por algum tempo trabalhei como garota de programa, e é sobre esse período que quero contar, mas não quero me adiantar, prefiro degustar os detalhes pouco a pouco, até porque fazer as coisas sem pressa é sempre muito mais interessante.

Pra muitos, o que eu fazia não tinha sentido algum, já que não tinha a aparência de alguém que precisasse viver o que vivia, ou, no caso, trabalhar com o que trabalhava, mas acho que cada um tem a sua realidade e suas crenças e, pra mim, a única coisa que fiz foi começar a cobrar pelo que já fazia de graça.

Sim, sempre fui uma pessoa muito livre e que gosta de uma sacanagem, mas quem não gosta? Okay, nem todo mundo gosta, mas eu gostava, então sempre tava ficando com alguém diferente, mesmo que não fosse pra cama com todos, até porque o controle disso sempre esteve em minhas mãos e acho que é isso o que as mulheres precisam entender... o controle é nosso.

Talvez por causa da minha aparência, já que sou bem padrãozinho, nunca tive dificuldade em ter alguém com quem transar, e entendi, com isso, que quem mais sofre é quem come e não quem dá, porque quando você gosta de dar, sempre tem alguém pra te comer, o que já não é tão simples pro outro lado.

Essa consciência não foi obtida da noite pro dia, na verdade foi a junção de várias realidades, durante um longo período de observação, que se intensificou, e muito, nos últimos meses, mas, como disse, não vou me precipitar, vou chegar lá, mas isso será um passo de cada vez.

Cada pessoa é de um jeito e é essa singularidade que mais me impressiona, até porque muitas fogem do habitual, principalmente quando o assunto é sexo, ou seja, alguém que pode parecer super "normal" no dia a dia, mas que entre quatro paredes te surpreende de diversas maneiras, positivas ou não, mas surpreende.

Pra melhorar a compreensão, eu morava sozinha e fazia faculdade quando comecei a cobrar, pois precisava de uma renda extra e só com as bolsas não iria conseguir me manter, ainda mais porque saí de casa brigada com os meus pais, que são extremamente conservadores e não aceitavam ter uma filha como eu.

Falando assim parece que sou um monstro, mas na verdade eu só queria viver minha vida em paz, queria poder sair com meus amigos e namorar, mas como sou mulher e eles são religiosos, tudo que fazia era super errado aos olhos deles, por isso saí em busca do meu próprio lugar... um lugar longe daquelas regras que não me cabiam.

Não digo que o que fiz foi o certo, porque não é sobre certo ou errado, mas eu já era maior de idade e essa foi a minha decisão, pois não ia ficar fingindo uma santidade que não tinha e nem queria ter, até porque não ficaria esperando um "varão do Senhor" pra poder me casar, perder minha virgindade, e sair de casa... nem virgem mais eu era.

Enfim... comecei a cobrar de alguns rapazes da faculdade, aí a notícia foi se espalhando e outras pessoas começaram a me procurar, o que foi bom, de certa forma, porque o dinheiro começou a aumentar, mas passei por algumas situações chatas, de pessoas tratarem como se eu tivesse a obrigação de aceitar qualquer valor, ou qualquer tipo de gente, então parti pra internet.

É incrível como esse campo é enorme nessa área, mas me mantive, independente do medo, até porque, como mencionei, nem tudo são flores, então sempre tentava tomar o máximo de cuidado sobre com quem ia me relacionar, sempre exigindo preservativos e usando exclusivamente os que eu mesma levava, porque nunca se sabe a intenção das pessoas.

Houveram situações que nem precisei sair do ambiente online, ali mesmo me pagavam por um vídeo, uma foto, ou uma chamada ao vivo, o que era ainda mais perfeito, já que não precisava ter contato físico com ninguém. Ouvi muito sobre a troca de energia que acontece em relações sexuais, mas, como disse, eu realmente já fazia isso de graça, pois bastava me dar vontade e pronto.

Troquei de faculdade, porque havia ficado quase impossível permanecer onde estava, justamente por causa do meu trabalho, já que muitos não conseguiam compreender e separar as coisas, e isso acabava influenciando na forma que me tratavam, nas notas que me davam e etc.

Como disse, nem tudo são flores, mas também não to aqui pra me fazer de coitada, pois não estava nessa posição e essa era a minha realidade, sendo bem sincera, pois não tenho o porquê mentir, essa era eu, alguém desprendida e focada em dinheiro e em estudos, nada além disso, até porque, verdade seja dita, ganhei muito dinheiro.

Nem sempre era fácil, pois avaliar os clientes por fotos não era uma certeza absoluta de que, na hora H, eles seriam exatamente daquela maneira. Qual o tipo de pessoa que procura por esse tipo de serviço? Era exatamente por essa razão que nem sempre era fácil e foi quando comecei a entender que, dar de graça é uma coisa, as opções são muito melhores, mas as pagas... bem, muitas das vezes eram tristes.

Dito isto, creio que já possa começar a mencionar o que mais me impressionou nesse período, pois é sobre ela... ou ele... que vou me referir. Eu já trabalhava com isso há uns dois anos quando essa pessoa surgiu na minha caixa de mensagens, dizendo:

– "Você atende mulheres? Podemos nos encontrar?"

Confesso que, pra mim, foi algo inusitado, não pelo fato de ser uma mulher, até porque já havia recebido propostas femininas, mesmo que nunca as tenha aceitado, mas não porque tivesse algo contra, era só porque não saberia como me comportar, já que nunca havia transado com uma mulher, só que aquela, por alguma razão, mexeu comigo... seu nome era Daniela.


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