37- Encontros

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Dani me levou pra Pati dos Alferes e fomos direto pra uma casa simples e linda, que pertence a sua família e estava vazia só nos aguardando chegar. Abrimos um vinho e montamos uns quitutes pra beliscarmos enquanto bebíamos, tudo bem romântico, do jeitinho que ela mais ama.

Eu era apaixonada por cada um daqueles detalhes, por mais humildes que fossem, pois tudo que é feito com sentimento é muito melhor do que qualquer coisa. Nessa minha trajetória posso dizer que já tive todo tipo de experiência, principalmente com coisas muito chiques e caras, e é sobre isso que estou falando... não tinha nada melhor do que estar ali com ela e era exatamente disso que estava precisando.

Meu sentimento era de paz, como nunca antes havia sentido e nem havia me dado conta até aquele momento... tava sendo uma delícia descobrir essas emoções junto com Dani, principalmente depois que aceitei e me permiti sentir, porque também tem isso, às vezes temos tanto medo que não nos deixamos viver.

Uma vez li uma frase que me fez refletir muito e ela perguntava se iríamos deixar de ser felizes por medo de ficarmos tristes. Muitas pessoas são assim, se bloqueiam e se impedem de experimentar coisas lindas por medo da decepção. Perder é algo que realmente dói, mas nunca viver é um vazio que também pode machucar... e machuca muito.

– Eu espero que a gente possa repetir momentos como esse ainda por muito tempo. – Disse ela me olhando com os olhos marejados.

Eu nunca vou saber as dores que marcam aquela pele e que a faziam se emocionar ao me dizer coisas tão simples. Uma vez ela me disse que se sentir amada e depois perder isso era uma dor tão profunda que parecia ser enlouquecedora, mas que, mesmo assim, não trocaria poder amar de novo por uma vida sem isso.

"Eu prefiro ter tocado ela uma vez, ter beijado ela uma vez, do que uma vida inteira sem isso"... escutei mais ou menos essa frase em um filme uma vez e nunca fez tanto sentido pra mim como estava fazendo naquela noite. Eu a abracei, a beijei e, olhando em seus olhos e sorrindo, disse:

– Quero poder viver isso contigo pra sempre.

– Você foi a melhor surpresa do meu ano, mas você tem razão, eu sei que é complicado e não posso te pedir pra mudar quem você é.

– Quem não pode pedir sou eu, porque a sua questão é quem você é e não o que você faz, mas o meu é temporário, nem eu quero viver isso o resto da minha vida, só faço porque preciso.

A ideia era aquela, as duas coisas não eram semelhantes, então não tinha o porquê uma impedir a outra e era lógico que minha profissão iria ser um empecilho, não posso ser hipócrita, pois nem eu ia gostar de imaginar Dani transando com outras pessoas, fosse pelo motivo que fosse, mas a sua questão era outra... era totalmente outra.

Pra ela, o fato de ser trans, havia sido uma questão em outros relacionamentos, mas, como disse, não se pode exigir que alguém não seja quem ela é e outra, não havia problema algum quanto a isso, já o meu realmente não era sobre mim, mas sim sobre o que fazia e, como disse, era temporário, pois haviam metas a serem alcançadas.

– Não sei o que fazer então. – Desabafou parecendo triste, embora tentasse sorrir.

– Como assim?

– Eu tinha algo pra te dizer hoje.

– Então me fala. – Sorri.

– É que eu queria te pedir em namoro. – Sorriu, constrangida.

Aquela frase encheu meu coração de uma emoção tão gostosa que nem sei explicar a respeito, só sei que senti meus olhos se emocionarem junto comigo. Ela era muito fofa em todos os aspectos e não digo isso ignorando defeitos porque é lógico que eles existem, mas é que são tantas qualidades que mal consigo notá-los.

– Eu sou muito apaixonada por cada pedaço seu, sabia? Eu não mudaria nada em você. – Dava um tesão falar essas coisas. – Mas segura, não faz agora, eu juro que quero muito aceitar, mas ainda tenho que terminar o que to fazendo pra poder ficar livre.

– Agora sou eu que te pergunto: Como assim? – Sorriu.

– Eu to quase conseguindo me libertar financeiramente e isso é importante pro meu futuro, independente de nós. Entende?

– Entendo sim e acho importante que você pense assim, porque seria muito egoísmo meu exigir que você jogasse tudo pro alto e ficasse comigo... relacionamentos vem e vão, mas o dinheiro nunca acorda no dia seguinte nos dizendo que não nos ama mais. – Brincou, em referência a frase de uma cantora famosa.

Eu a abracei forte, sentando praticamente em seu colo, e lhe beijei com muita emoção. Havia um medo dentro de mim, medo de que aquele pudesse ser nosso fim, afinal o dito estava dito e o depois é que era imprevisível. Me afastei e a olhei, enquanto uma lágrima descia por meu rosto... pedi:

– Você me espera?

– Vou tentar. – Sorriu.

– Vai se afastar de mim enquanto isso? – Perguntei com muito medo da resposta.

– Lógico que não. – Sorriu e me agarrou.

Realismo e vida real... parece redundante, porque o realismo já é uma vida real, mas na minha ideia, eu quero enfatizar que quando estamos nessa vida real, alguns pontos vão além do romantismo. Na minha realidade, Dani havia entendido o meu ponto, o que já era surpreendente, mas, além disso, também entendeu minha necessidade em esperar mais um pouco.

Descobri que Dani era o amor da minha vida, ou "pra" minha vida, como costumam dizer hoje em dia, sei lá. – Ri. – Só sei que sim, ela me esperou por alguns poucos meses, mas esperou, e esperou tão bem que hoje eu tenho o orgulho de dizer que sou casada com o homem mais maravilhoso do Mundo. No fim eu e Daniel nos casamos, eu tenho meu apartamento próprio, sou formada e trabalho no que amo... posso dizer que sou feliz, eu e meu barbudinho lindo... tudo graças àqueles nossos encontros.


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