36- Vem Comigo

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No dia seguinte chegamos juntas e isso me deu uma força que não sabia que precisava. É muito bacana ser auto-suficiente e, de fato, não precisava que Dani fosse comigo, mas sua presença vazia toda diferença pra mim. Nós entramos, sem dizer nada pra ninguém, enquanto todos os olhares nos seguiam.

Minha postura era de uma mulher poderosa, por mais que não estivesse bem assim por dentro. Entramos em minha sala e nos sentamos juntas. Todos que entravam nos olhavam, tanto pelas fofocas como por sua presença, que era realmente algo de se estranhar, já que era alguém que poucos conheciam... mas alguns sabiam sim.

Haviam sorrisos e fofoquinhas entre eles, mas nada disso estava me afetando, pois os ignorava e era isso que mereciam. Quando temos um objetivo maior, algumas coisas se tornam tão pequenas que quase somem e foi sobre isso que me conscientizei. Eu não estava ali como passa tempo, ou apenas pra levar um diploma pra casa, meu curso era o que queria fazer desde pequena, aquele era o meu sonho e era também por ele que lutava.

Gabi entrou e logo se assustou, pude notar isso em sua expressão, já que ninguém ali poderia se surpreender mais que ela... chegou a pausar sua caminhada. Dani parecia bem tranquila, confiante, por mais que houvessem olhares e comentários a seu respeito, referindo-se a sua aparência e sexualidade... não eram altos, mas dava pra serem percebidos.

Eu sorri, porque entendi o quanto aquelas pessoas eram pequenas, mentalmente falando, pois, a essa altura do campeonato, me referindo ao ano em que estamos, certas coisas já eram pra serem vistas de outra maneira, ainda mais por pessoas consideradas como jovens, mas visivelmente ainda não era como deveria ser.

– Trouxe sua cliente pra nos conhecer? – Perguntou Gabi em tom audível, embora não gritasse.

– Conhecer vocês? – Eu ri com ironia. – Pelo amor de Deus, né Gabi, se enxerga.

– A puta e sua cliente, juntas... estão namorando? – Ela olhou pra Dani e concluiu. – É de boa pra você que sua namorada fique dando por dinheiro?

Olhei pro lado e Dani sorria e filmava, e isso me deixou reflexiva... ela estava gerando provas contra eles, o que era uma excelente ideia. Olhei pra Gabi, sorri, e disse:

– O seu recalque já foi desmascarado, querida, assim como o de alguns aqui, que sempre quiseram ficar comigo, mas eu nunca quis, até porque, puta ou não, aceitar ainda é um direito meu. Por falar em direito, o que vocês tem a ver com o que faço ou deixo de fazer?

O rapaz do outro dia, nitidamente incomodado, se intrometeu e perguntou:

– Cansou de homem e agora ta pegando mulher?

Eu sorri, porque Dani estava filmando aquilo e é incrível como as pessoas ignorando esse tipo de coisa quando estão emocionalmente afetadas. Pela internet vemos vários registros de pessoas falando merda, mesmo sabendo desses registros, e sendo punidas depois, mas parece que, nessas horas, eles ignoram... sei lá.

– Mais uma vez, o que vocês tem a ver com isso? – Perguntei, ainda sorrindo.

As demais pessoas pareciam apreensivas enquanto algumas se mostravam incomodadas com o que estavam ouvindo, tanto que pude perceber alguns cochichos de repreensão e outros celulares registrando aquele momento tão especial que estava acontecendo em nossa turma.

– O que te falta é de uma foda bem dada, isso sim. – Disse aquele rapaz pra mim, a puta profissional.

– Querido, tenho muita experiência com esse assunto, – Comecei dizendo enquanto sorria em deboche. – então posso te garantir que Dani foi a melhor foda que já tive na vida.

Senti uma mão sobre meu antibraço, então olhei em reflexo e era Dani me olhando e, com calma, me dizendo:

– Não responde mais nada não.

Enquanto processava aquela pequena frase, eles continuaram falando besteiras a meu respeito, mas ela tinha razão, não valia a pena ficar debatendo, até porque o que eu queria já estava feito e foi melhor do que esperava. Fiquei em silêncio, ouvindo e sorrindo, me segurando, porque saber o que era melhor não é tão fácil de se colocar em prática, mas consegui.

O professor entrou e viu aquele alvoroço, então caminhou até sua mesa, deixou seus livros caírem sobre a mesa, pois o barulho fez com que todos se silenciassem, e nos perguntou:

– O que ta acontecendo aqui?

– Yasmim trouxe uma pessoa estranha pra sala... – Dizia aquele tal rapaz.

– Pelo que escutei esse é o menor dos problemas aqui. – Disse ele, interrompendo o dito cujo.

Eu puxei Dani pelo braço dizendo que era pra vir comigo, me coloquei ao lado do professo, na frente de sala, respirei fundo, sorri e, enquanto tentando controlar meu nervosismo, disse:

– O que acontece é que tive uma questão particular exposta de forma inapropriada e com má intenção, – Dani segurou minha mão. – mas isso não vai me fazer desistir dos meus sonhos e hoje vim aqui pra avisar que se esses insultos continuarem, eu vou dar queixa e quem os proferir responderá judicialmente, ainda mais agora que tenho um vídeo mostrando o que aconteceu... – Respirei e refleti por um segundo. – pensando bem, vou fazer uma queixa ainda hoje e esse recado fica pros demais. Peço desculpas aos que não compactuaram com isso e amanhã eu volto.

Sem dizer mais nada, simplesmente saí levando Dani comigo e era isso, meu recado estava dado, pois aqueles absurdos não poderiam continuar e se não fizesse nada, eles iam continuar tentando crescer sobre mim.

– Quero te levar em um lugar, vem comigo? – Perguntou ela.

– Vou.


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