𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 26: 𝕺 𝖘𝖆𝖓𝖌𝖚𝖊 𝖌𝖚𝖆𝖗𝖉𝖆 𝖒𝖊𝖒𝖔𝖗𝖎𝖆𝖘

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A casa era realmente adorável. Chique, de certa forma que dava a certeza que a família habitante era bem abastada, porém com pontos de felicidade nunca antes visto por Theo Riddle. Retratos familiares pendurados por todo o canto, brinquedos espalhados, discos de vinil organizados na sala, e no balcão da cozinha estava um bolo de aniversário feito em casa e com extremo carinho e zelo.

Ainda assim, a única coisa no campo de visão de Theo era sangue. Sangue espesso, tinto, e humano que se espalhava em afluentes por todos os lados.

O líquido vermelho e humano se impregnava na parede da casa, estava no chão, no rejunte da madeira, nas vestes de comensal da morte que Theo vestia. Sentia-o escorrer pelas partes expostas de sua pele, e não ousava olhar para as próprias mãos, ou para a adaga prateada que segurava.

Dois cadáveres se encontravam estatizados no chão da cozinha. Cortes feíssimos e profundos na garganta e no tórax, completamente inertes. Eram um casal de meia-idade, e pelo que contavam as fotos emolduradas nas paredes, foram muito felizes até uma garota bruxa com capangas de seu pai ceifar a vida de seus corpos.

Os Comensais da Morte haviam cercado o casarão trouxa, enfeitiçado alguns vizinhos, colocado todo o tipo de proteção e omissão ao entorno, a maior parte estava bêbado e brincalhão, e a missão de acompanhar a filha do Lorde parecia apenas uma grande farra. Mas Theo estava vivenciando um verdadeiro pesadelo.

A adaga tremia em suas mãos. Havia ouvido uma vez Hermione comentar que dentro de um adulto médio há cinco litros de sangue, e ela achara um absurdo na ocasião. Agora que vira em carne e osso a capacidade dos seres humanos de esguichar vermelho para todos os lados, ela acreditava que tal quantidade era uma estimativa baixa.

Theodora se virou para o único outro ser com vida dentro da casa. A família era formada por quatro pessoas: a mãe, o pai, um filho que brincava no quintal e falecera nas mãos de um dos comensais da guarda, e a filha mais nova.

A garotinha não devia ter feito três anos de idade ainda, acordou de sua soneca da tarde com os berros apavorados da própria mãe e agora chorava a plenos pulmões. Theo sentia que não tinha coragem o bastante para mata-la também.

Essa situação toda fora ideia de seu pai. Voldemort queria testar como seria o sigilo do trabalho de Theo em missão, e principalmente ter a certeza de que ela não hesitaria para matar.

Foi escolhido de maneira aleatória uma casa de trouxas, azarados e ricos, e ordenaram três pessoas, cujos nomes ela não decorara, para acompanhar Theo. O plano era simples, e para todos aqueles Comensais era equivalente a uma brincadeira de criança: Isolar a casa, matar os membros da família, obliviar testemunhas em potencial, e ir embora.

Para Theo, era a prova final de que sua índole jamais seria a mesma.

A bebê continuava a espernear, e os Comensais lá fora logo iriam entrar para ver o porque Theo ainda não a silenciou. A garota sentia lágrimas de pura vergonha despontarem em suas órbitas quando se aproximou da criança com a adaga. A lâmina já estava manchada com o sangue dos pais daquela pobre garotinha, e logo também carregaria o sangue dela.

Cedric Diggory, o senhor e a senhora Grant...haviam três pessoas na lista de Theo, mas ela sentia a mesma culpa de quem cometera um genocídio.

Uma vida é sempre uma vida. E pecado algum é maior que o outro. Se tirara uma vida, tinha a mesma culpa de quem tirou milhões delas.

A ponta da adaga apontava para o pescoço da garotinha. A criança era tão inocente que não teve o reflexo de se afastar, mas olhou para Theo com grandes e chorosos olhos castanhos. Tão cheios de vida e luz...Theodora já havia arruinado parte importante do futuro dela no momento em que a tornou órfã.

𝐘𝐄𝐒 𝐓𝐎 𝐇𝐄𝐀𝐕𝐄𝐍 | harry j. potterOnde histórias criam vida. Descubra agora