𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 27: 𝕺𝖗𝖉𝖊𝖒 𝖉𝖆 𝖋𝖊𝖓𝖎𝖝

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No dia seguinte, a manhã e a tarde inteiras foram marcada por uma tempestade de verão. Chovera e trovejara desde a madrugada, deixando o ar abafado e falhando miseravelmente em refrescar a alta temperatura.

Theo se recusou a dormir. Não queria nem ao menos tentar, e se manteve ocupada organizando sua mala para ir até a Ordem da Fênix, e se arrumando para partir logo mais.

Sentia que seu corpo havia sido atropelado por alguma coisa muito grande, mas nem ao menos deitara em sua cama para tentar adormecer, e uma taça de vinho em suas mãos mantinha seus pensamentos intrusivos anuviados o bastante para que conseguisse raciocinar.

Desde o início do verão adquirira o péssimo hábito de roubar bebidas alcóolicas da adega dos Malfoy. Ninguém a percebia furtando, e se notavam garrafas e mais garrafas faltantes, não suspeitavam dela. Para Theo, era preferível ter as manhãs marcadas por dores de cabeça e ânsias de vômito em troca de algumas horas de alívio durante a noite. Ultimamente, só conseguia realmente dormir profundamente quando o álcool em seu sangue a fazia desfalecer, e apenas conseguia aproveitar sua própria companhia, quando estava acompanhada de uma garrafa de Cabernet.

Ela levou a taça cristalina para os lábios ao mesmo tempo em que um trovão estrondoso ressoou no céu. Theo sentiu o gosto amargo de vinho tinto enquanto aproveitava o som da tempestade. Conferia novamente cada item de sua mala, que já fora refeita diversas vezes durante a noite, e a garota parecia ainda insatisfeita pela manhã.

— Noir...— ela se virou para a gaiola, onde sua corujinha preta piava pacificamente. — Qual dessas paletas eu levo? A escura ou a com glitter?

Theo mostrou as duas paletas de sombras diante da gaiola dourada, a coruja ergueu o bico em direção a sua mão esquerda, e Theo entendeu como um voto a favor das cores escuras.

— Eu concordo! — ela respondeu.

Talvez falar com corujas fosse o primeiro sinal de loucura, mas em sua percepção Noir era uma fêmea e portanto entendia tanto de maquiagem quanto sua dona.

Theo já havia, afinal, pedido opinião do pássaro pra sua própria maquiagem. Ela estava com camadas e mais camadas no rosto pálido, de modo que nem mesmo suas olheiras profundas eram perceptíveis.

Enquanto juntava seus cremes de cabelo em uma pequena bolsa, para finalmente poder fechar sua mala, lembrou que seus cabelos ainda estavam presos no coque que montara cuidadosamente.

Theo havia tentado uma coisa nova na noite anterior: enrolara suas mechas escuras em fitas de tecido no topo da cabeça, e unira tudo em um coque. Quando soltasse os cabelos, teria cachos volumosos e brilhantes em todo o comprimento. Não sabia ao certo porque se dera o trabalho de modela-los dessa vez, ao invés de prender o cabelo ou tentar alisar, mas estava disposta a tentar uma coisa diferente ou outra.

E, de fato, quando soltou as fitas, os fios escuros despencaram atrás de suas costas em belíssimas ondas, uma correnteza marítima e incontrolável de fios. O vestido cor de creme que vestia contribuía em destacar os cachos perfeitos e modelados. O clima abafado deixava alguns fios levantados, mas não eram bastantes para incomodar.

Antes de finalmente trancar a fechadura de seu malão, Theo parou em frente ao espelho, admirando seu reflexo. O vestido branco era longo, até os tornozelos, e fazia contraste com as botas pretas e pesadas. A garota passou a mão novamente pelos cabelos, concertou um detalhe mínimo da maquiagem, e nervosamente enrolou o pingente de aliança que carregava no pescoço entre seus dedos.

Se tornara um tique nervoso, qualquer menor desconforto, ela tinha a necessidade de conferir se a aliança continuava ali. O que antes era um "colar de amizade" parecia ter ganhado um significado muito mais profundo ao final do ano letivo. Quando as coisas ficavam muito ruins, a tranquilizava pensar que Harry ainda tinha a outra metade do colar, e por tanto ainda estava pensando nela.

𝐘𝐄𝐒 𝐓𝐎 𝐇𝐄𝐀𝐕𝐄𝐍 | harry j. potterOnde histórias criam vida. Descubra agora