Ukai

Extra 1: Incendio, enterro, desilusão.

As chamas devoravam o cenário noturno, dançando em tons de vermelho e laranja enquanto a fumaça grossa se elevava para o céu estrelado. Izuku Midoriya corria pela floresta iluminada pelo fogo, ignorando o calor intenso que lhe atingia o rosto. Seu coração batia forte no peito enquanto ele se aproximava do epicentro do caos. A sensação de desespero se misturava com uma coragem impulsiva, alimentada por uma convicção inabalável.

Ao chegar ao destino, seus olhos se fixaram em uma figura carbonizada, envolta em chamas azuis. A silhueta distorcida e familiar de Touya Todoroki emergiu da escuridão ardente. O cabelo desgrenhado estava encharcado de suor, e seus olhos refletiam um misto de dor e desespero.

— Touya! — Izuku gritou, a voz rouca de angústia.

Os olhos de Touya se ergueram para encontrar os alheios, surpresos e cheios de dor. As labaredas azuis dançavam em seus arredores, uma manifestação de seu poder descontrolado. As mãos de Touya tremiam enquanto ele tentava conter a destruição que ele mesmo desencadeou.

Izuku avançou, ignorando o calor que ameaçava queimar seu corpo. Ele  não sabia por que estava fazendo isso. Não que fosse preciso alguma justificativa para que o jovem de apenas oito anos tentasse salvar a alguém, ele queria ser um herói afinal. Mas este garoto, Touya Todoroki, não era nem um conhecido para si, não havia explicação para o desespero tão grande em seu coração.

Claro que ele conhecia seu nome, as vezes andava por está floresta e encontrava o menino, as vezes também alguém gritava por ele e o garoto atendia por esse nome. Mas, novamente, não o conhecia. Devia ser a primeira vez que se aproximava, que o mais velho o via. Porém seu coração lhe sussurrou para enfrentar as chamas e chegar ao local que sempre avistava o ruivo assim que as chamas subindo ao longe chegaram a seus olhos, se arriscando mesmo sem saber se ele estaria realmente ali. Era um alivio que ele seguiu esse instinto e agora podia salvá-lo quando mais ninguém parecia perceber o que acontecia.

— Touya, pare! — Gritou Izuku, sua voz cortando o crepitar do fogo.

Touya olhou para ele, uma mistura de surpresa e desespero em seu rosto marcado pela fumaça. Não teve tempo para ter esperança ou decepção de que não fosse seu pai. Sua família não tinha vindo por ele, mas alguém, seja lá quem for esse garoto de cabelos verdes intensos, veio.

— Eu... eu... eu não posso controlar! Fique longe!

— Você não está sozinho, Touya. Eu estou aqui por você! — Declarou Izuku com eloquencia. Uma vontade genuína de ser alguém que a outra criança, tão velha em sofrimento e traumas que dançavam em seus olhos, pudesse se apoiar.

As chamas azuis cintilavam mais intensamente, criando uma barreira de calor intenso. Izuku sabia que não podia hesitar. Com um impulso de coragem, ele mergulhou nas labaredas, sentindo a queimadura instantânea em sua pele. Mas ele resistiu à dor, focando na figura frágil de Touya à sua frente.

Ao envolver Touya em seus braços, Izuku sentiu o calor intenso, mas também uma dor mais profunda. As chamas azuis cederam à presença reconfortante de Izuku, tornando-se mais suaves, como se a energia destrutiva respondesse ao toque do outro.

— Touya, você não está sozinho. Nós superaremos isso juntos — Sussurrou Izuku, enquanto o abraçava com força, as palavras vindas de seu coraçao.

Os minutos que se seguiram pareciam uma eternidade. As chamas diminuíam lentamente, abandonando uma cena de destruição e os dois jovens, agora cobertos de fuligem e ferimentos.

Izuku ajudou Touya a se levantar, apoiando-o com cuidado. O braço esquerdo de Izuku estava gravemente queimado, mas sua atenção estava totalmente voltada para o outro ferido.