— Washington D.C, (Pensilvânia/ Estados Unidos), ano 2016 d.C
Muitas pessoas se perguntam o porquê de ainda estarmos aqui mesmo depois de tantas doenças, tantas crises, tanta guerra e disputas por território que enfrentamos em mais de cem mil anos de existência, e em todas as vezes eu respondo apenas com um vago e sonoro não sei. Existimos apenas por existir, acredito. Não somos muita coisa para o mundo, mas estamos aqui, vivendo de presente, criando nossas histórias, cultivando o ódio por outros homens e nos (re)adaptando sempre que necessário para a nossa sobrevivência e a de nossos descendentes.
Acredito que eu não seja tão diferente dos outros, pois também apenas existo, mas sei que lá no fundo, como minha mãe diz, todos temos um porque para existir e ser como somos ou como eu sou, destemida. Mas ser destemida não quer dizer que também não sinto medo de algumas coisas, e o maior deles é o de desaparecer, sumir da história e nunca existir um registro de quem eu como pessoa fui ou do que fiz, seja por uma pequena ação ou por uma revolução mundial.
Não é egoísmo ter autoestima, eu sou Maggie Rosalie, uma garota simples da cidade grande que passa a maior parte do tempo na floresta. Sou caçadora, legalmente sujo as minhas mãos de pólvora para conseguir a pele de um urso pardo que alguém encomendou ou para ajudar a minha família quando queremos comer algo diferente e fresco. Faço isso também para me distrair dos vários problemas. Pelo menos pensarei que sou até que se prove o contrário.
Minha família é humilde, fazemos diversos trabalhos para arrecadar um pouco mais de dinheiro e complementar nossa renda. Às vezes, ter uma irmã pequena e uma mãe para ajudar era mais difícil do que parecia. Meu pai acho que conheci até os cinco anos, mas depois não lembro mais dele, nem do seu rosto ou da sua voz ou do seu cheiro. O que me lembro está em fotos desgastadas e em algumas histórias que ainda ouço da minha mãe, e que sempre terminam em lagrimas ou em uma espécie de decepção.
No meio onde convivo, sou considerada uma beleza rara e excêntrica; a mais bonita, segundo o espelho. Tenho os cabelos curtos vermelho vinho que passam um pouco da nuca, uma franja repicada igual a todo o resto do cabelo deixando-o um pouco selvagem às vezes, duas mechas grandes na frente que chegam à altura do pescoço, os olhos azuis claros da vovó que contrastam com o meu rosto lindo e simetricamente triangular, a pele clara como um veludo nobre (porém com algumas cicatrizes quase invisíveis pelos machucados da mata), nariz que poderia ser considerado grande e um corpo forte com curvas acentuadas como as da minha mãe.
Vivo nessa cidade desde que nasci e nela me sinto melhor do que se estivesse em qualquer outra, em qualquer lugar do mundo.
Exceto por todo ele estar igual e nenhum lugar ser realmente seguro ou limpo ou bom para morar ou sobreviver.
Tenho estado apreensiva recentemente. Claro, tinha mil motivos para estar já que tudo o que eu conhecia havia mudado de uns tempos para cá, tudo isso motivado por um vírus que surgiu e se alastrou a partir da África dessa vez (não veio da Asia como a maioria das pragas) alcançando todos os continentes em uma velocidade absurda por causa da alta taxa de imigração ilegal da Europa e para cá, comércio de carnes, transporte ilegal de animais em condições insalubres.
Quem sabe de onde essa coisa realmente pode ter surgido?
O que eu sei é que ela, a Maltad, forçou as grandes nações como os Estados Unidos a decretarem estado de emergência, depois de crise, depois endemia e então de pandemia.
Ela se dissemina através do ar e causa mortes em escala num período bastante curto.
É difícil temer a morte e pensar em uma saída ao mesmo tempo porque essa doença infectou o MUNDO inteiro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Projeto Maggie
TerrorO Virus Maltad transformou homens em criaturas-infectadas quando, na esperança de encontrar uma solução para a sua rápida disseminação e alta taxa de contágio, a humanidade criou um desastre biológico que mutou o seu próprio DNA. Em uma sociedade en...