Eu nunca tirei carteira de motorista. No ano em que tinha prova marcada, uma epidemia acabou com todos os profissionais das autoescolas e eu tecnicamente nunca me formei. Eu fiz a teórica, faltaram as práticas. Bem, agora é hora das práticas.
Asfalto ruim, iluminação ruim, Infectados pelo caminho.
Bom.
Já deveria ser tarde da noite quando reparei o quanto dirigi, das ruas silenciosas, de olhar para o horizonte escuro coberto de nuvens e saber que apenas a solidão após a morte me faz tremer de agonia.
A frase "eu não tenho medo" ficou rebatendo de um lado para o outro desde que sai de Jersey, eu repeti tanto a mesma frase, mas lá no fundo eu já não sentia que era verdade, então eu confessei para mim mesma:
— Eu... eu tenho medo.
Meus amigos estavam mortos.
Todos eles.
Eu estava sozinha com um mundo lotado de zumbis me cercando, um mundo selvagem cheio de pessoas ruins como Demétrius, Theo, James, Rudy! Que eu jamais acreditei que fosse capaz de algo tão canalha quanto nos trair e sabotar a Central.
Eleazar confiava nele cegamente, era amigo de todo mundo e o cara mais gente boa que eu conhecia.
Após as primeiras horas de viagem, eu encontrei um posto no meio da estrada, conferi todas as bombas e juntei as gotas para terminar de encher o tanque antes de voltar e não poder piscar os olhos com o medo daquele mundo terrível.
Era inegável, era impossível que a vontade de chorar não viesse em algum momento, e quando voltei para o carro, essa vontade foi realizada, eu debrucei sobre o volante e esmurrei a parte dura do painel ao menos para espairecer e não enlouquecer.
Eu gritei enquanto chorava
* * *
Quando acordei, ou pelo menos despertei do meu sono profundo e silencioso sem sonhos, me levantei do banco com a luz intensa do sol rasgando a pele do meu rosto, olhei meu bracelete e pressionei o botão do escudo.
— Mais um dia no inferno — murmuro ao vento do qual apenas pode me ouvir e não irá me criticar.
Retomei ao banco do motorista e recuperei minhas espadas, joguei a mochila no banco do passageiro, me troquei, retomando a velha farda dos Defenders, farejei o bom cheiro dela antes de ligar o carro para sair.
Voltei minha atenção à estrada, onde mais para frente, uns cinquenta metros adiante havia uma ponte suspensa sobre um rio ou uma represa de água baixa e acinzentada, do outro lado havia algo como um penhasco seguido de uma estrada de terra rodeada por uma mata profunda.
A ponte parecia frágil, várias das cordas de aço de sustentação haviam se rompido, o chão continha buracos, alguns carros estavam batidos, recobertos por grama.
Então acelerei devagar e um pouco mais assim que passei sobre ela, mas, de repente sinto um baque no carro que me faz bater a cabeça no teto violentamente.
As cordas começam a estourar tanto por onde eu passei quanto à frente, o concreto de que ela era feita racha por onde o carro passa e uma rachadura surge mais à frente na vertical.
— Mas que merda! — esmurro a buzina sem querer.
Tento acelerar um pouco mais, mas a deterioração é mais rápida. Então peguei minha mochila, tirei uma das minhas katanas das costas e com ela fiz um corte no teto enquanto mantinha o pé no volante e sai rasgando o forro superior. Um buraco era suficiente para que eu passasse, e foi no exato momento em que subi, que as rodas de trás começaram a levantar e levar o carro para baixo.
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Projeto Maggie
HorrorO Virus Maltad transformou homens em criaturas-infectadas quando, na esperança de encontrar uma solução para a sua rápida disseminação e alta taxa de contágio, a humanidade criou um desastre biológico que mutou o seu próprio DNA. Em uma sociedade en...