Capitulo 31: Um lugar para retornar

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Ao passar de "30 vezes em que tentei dormir e acordei com pesadelo" dia após dia, eu finalmente consegui dormir por algumas horas, em paz, mesmo sabendo que o motivo pelo qual eu havia saído daquele lugar quente e acolhedor — nas palavras de James, uma "ditadura comunista" — não havia sido um completo sucesso.

Eu falhei, não sou nem mesmo digna de dizer que cumpri uma missão de rank SS+ porque eu não fiz nada senão enganar e mentir para um governador, pular sacadas e tirolesas, ver os meus amigos morrerem para no fim descobrir que um louco homicida queria apenas que eu visse todo aquele terror para ganhar experiência, para me formar uma "líder" que me importava, aos seus olhos.

Eu sou só uma adolescente.

Eu sou só uma adolescente.

As pessoas da minha época costumavam odiar pessoas como eu, porque ele, mais velho, pensava que eu poderia algum dia servir de inspiração para alguém?

Eu não fui nem mesmo para mim, eu não fui inspiração para ninguém.

No máximo, fiz Meire me ver como a sua irmã — explodida em um bombardeio criminoso —, ela chorou tanto, estava tão arrasada pelo o que eu contei que parecia que a sua doença; aquela tosse carregada, fez efeito no seu corpo muito mais rápido do que deveria.

Meire morreu doze dias depois que nos conhecemos.

Aquela foi sua última cavalgada; sua ultima esperança de ver a irmã, se despedir dela talvez.

A exposição constante ao clima instável por quinze anos sem proteção alguma acabaram com a vida dela de uma forma até que bastante silenciosa.

Ela era forte e destemida; quem eu queria ser.

Eu a enterrei junto com flores amarelas que ela dizia tanto gostar.

Até mesmo o seu cavalo estava triste.

Pelo menos ela me ensinou a montar.

De repente, eu senti que realmente estava sozinha.

Nada havia restado.

Eu havia perdido contato com tudo e com todos os que amava e conhecia.

A solidão e a sensação de vazio preenchiam o meu corpo à medida em que retornava em direção a Pensilvânia pelo caminho mais curto e que me levaria de volta.

A entrada para Pensilvânia ficava depois de um desfiladeiro de montanhas negras que formam uma paisagem estranha, do tipo nova, montanhas às vezes aparecem por erosões debaixo da terra, isso faz elas subirem para a superfície em qualquer lugar onde haja placas tectônicas — viva as aulas de geografia.

— Ainda tem um pouco de comida para você, cara — alimento o cavalo com os tufos de grama aleatória que peguei em qualquer lugar.

Ele não gostava, mas estava magro e parecia tão triste.

De repente, ouço um barulho, algo se move na minha visão periférica; entre os carros batidos naquele estacionamento ao ar livre de um velho mercado. Depois a minha frente, um barulho de assovio me faz arrepiar por completo, tirei as duas espadas e caminhei devagar tentando compartilhar a visão para todo lugar.

Uma terceira vez vejo a sombra pela pontinha do olho direito.

— Quem está ai? — pergunto com medo de que sejam mais assaltantes, ou pior, homens sem humanidade.

Mais daqueles asquerosos que me proporcionaram momentos de terror quando me sequestraram, mais do que eu já vinha sofrendo ao tentar roubar de mim as poucas coisas que tinha, inclusive a minha dignidade.

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