Capitulo 22: Uma Guerra que Nunca Acaba

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A Joudith que estava diante de mim não se permitia ter empatia pelo meu momento; por descobrir que eu era adotada, que a mãe que eu julguei ter me visto nascer, me alimentado, me cuidado era na verdade uma agente do governo. É mais provável que a minha irmãzinha, Agnes, fosse filha de sangue da senhora "Stayce".

O próximo passo era, segundo ela, refazer a tal "Cifra Ômega" usando as informações dos nossos genes (meu e do Clyde) para desenvolver o "antígeno" — fosse lá o que isso seja — para a mutação genética das pessoas. Consequentemente teríamos muitas pessoas com câncer (devido a radiação) após a cura, mas imagino que cada mulher fosse ter no máximo dois pés e dois braços, como era no meu tempo.

— Maggie costumava falar bastante antes de conhecer você, Clyde.

Eu olhei para ele.

Estávamos apenas nós três em um laboratório onde havia luzes ultravioletas (de roxo para azul estranho) e muitas informações eram armazenadas fisicamente em equipamentos de laboratório quanto nos computadores que nos cercam.

— Vocês tem se falado muito? Recuperado o tempo perdido? — ela não olhava para nós enquanto falava.

— Isso não faz diferença agora — enfiei as mãos nos bolsos de trás. — Clyde é uma das poucas pessoas que não enlouqueceu com tudo isso, com esse caos, com essa sociedade onde eu parece que eu posso tudo e ao mesmo tempo não posso nada porque tenho 252 câmeras me vigiando, garantindo que eu cumpra as minhas tarefas e não fique fora do alcance de uma mulher que eu tenho quase certeza de que ainda esconde alguma coisa.

Ela suspirou pesadamente e se virou para mim.

— Eu não sou sua mãe, Maggie Rosalie. Você já é bem grandinha para saber sobre direitos e deveres em troca de beneficios e recompensas.

— Qual é, não somos cachorros para receber petiscos como recompensa por dar a pata.

Clyde riu.

— Isso se chama socialismo — ele afirmou, desencostando da beira de uma mesa. — A liberdade com preço.

— Porra, eu odeio filosofia. Me da um béquer desse, vou quebrar e enfiar o vidro na minha garganta! Me daaa!

— Relaxa, garota — Joudith me segurou. — Não se garante vidas sem sacrifícios, Clyde. Aliás, você está sendo bem impertinente com essas observações. Onde aprendeu filosofia?

— Não tinha muito o que fazer lá, senão ler. Demétrius tinha um monte de livros... me ensinou a ler junto com o filho dele Sobre os lados de uma guerra; o opressor e o oprimido. Nós somos o oprimido. Mas... quando você vence o opressor, você se torna o opressor.

— Nós te demos comida e dignidade — ela apontou para o peito dele.

— Ele não está reclamando, Joudith, relaxa — contestei, me pondo na frente dela. — Isso vai acabar algum dia?

— O socialismo não acaba — ele afirmou, acima de mim. — A ideia não acaba, não morre com a morte de quem manda.

Eu não esperava ouvir isso de Clyde, mas razão ele tinha; estamos acoleirados pela Central, apenas aguardando as próximas instruções dessa galera sem poder fazer escolhas por nós próprios.

Eu não manjo nada de filosofia e nem essas merdas todas, mas já li que ideias imortais transformaram o mundo em um caos no século passado.

As portas se abrem, uma luz branca invade, Eleazar vem vindo segurando seu quepe militar e parece querer falar comigo.

— Tem uma nova missão para mim? — sorri, empolgada.

— Se gostar de conversar com um terrorista, sim.

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