— Tempos depois.
Um suspiro profundo me tira do estado de desmaio como se eu estivesse regressando a vida após estar no mundo dos mortos, tudo em mim parece confuso, anestesiado, dentro e fora, mas onde estou? Será que estou mesmo acordada? Por que tudo está tão escuro?
Ouço passos, vozes longe de mim e estou num chão duro e frio com cheiro ruim de graxa e suor masculino, mas o que há para ver se não a escuridão?
Virei à cabeça para o lado esquerdo com um pequeno suspiro, foi ai que percebi que algo como um pano tomava minha cabeça e rosto, ocultando minha visão para qualquer ângulo e um pouco da minha audição reduzindo tudo a ruídos irreconhecíveis. O ar respirado pela boca é pouco e logo se acaba — o que me faz sufocar —, mas não consigo mover o braço, preso por algo resistente de plástico, muito forte para quebrar apenas com a força. Estou sentada e encostada na parede sobre uma superfície de piso liso quando começo a tremer por algum motivo, talvez o frio, provavelmente agonia e medo da morte.
Comecei a me debater com o pouco ar que me restava, ouço passos se aproximando rapidamente até parar na minha frente me dando aquela sensação de proximidade. Algo toca minha cabeça e arranca a obstrução do meu rosto. É um homem, um dos motoqueiros.
— Onde estou?
Minha voz estava sonolenta e ao mesmo tempo incomodada por algo que cossa na minha garganta, uma dor no meu peito me toma, talvez o último impacto que sofri no chão antes de apagar. O homem não responde, apenas se abaixa próximo a mim e enche as mãos gananciosas e sujas com os meus seios nas roupas despedaçadas da queda.
Eu me debati, tentando me afastar.
— N-não...!
— Cala-te, perra.
Ele me arranca do chão pelo braço.
Aparentemente estávamos num galpão velho de um aeroporto desativado, a estrutura imensa sobre minha cabeça com telhados escuros quebrados, o piso preto de mármore com algumas falhas, centenas de peças de veículos espalhadas, muitos homens fortes e de aparência repugnante jogando, bebendo, consertando motos por todo lugar. As portas gigantes de metal no lado direito não me dão vista para nada pela fraca luz alaranjada. Há escadas de madeira, um segundo andar subindo pelo canto direito próximo à porta e, claro, muitas motos de diversos modelos, além de alguns aviões conservados.
Ele me empurrou para frente, me fazendo tropeçar em qualquer coisa que viesse a frente. Eu me ajoelhei no chão para distraí-lo enquanto olhava o lugar e procurava uma saída, ele me levanta mas eu caio de novo e finjo fazer birra, ele apenas suspira e me pega pelo pulso com força que até fica vermelho.
Cinquenta metros à frente há uma pessoa, um homem operando um notebook sobre uma caixa de madeira. Ele era alto, tinha a pele morena, os cabelos negros rebeldes espetados em ondas desordenadas, os olhos cor de chocolate — Ou pelo menos um deles já que o esquerdo tinha um tapa-olho e uma grande cicatriz vertical se destacava. Barba e bigode mal feitos, mas bem estilosos e um grande porte. Ele vestia uma farda impecável do exército russo com um agasalho grosso de manga longa na cor azul sobre um traje cinza-escuro quase azul, calças largas de mesma cor, sapato chique e uma espécie de cinza de lã com um símbolo que parecia uma águia a insígnia socialista ao lado do notebook.
Ele olhou para o homem e pediu para se aproximar.
— Chefe, a gostosa.
Eu olhei para ele com nojo e ódio.
— Idiota.
Ele ameaçou me dar um tapa, mas o homem o impediu com um único gesto de mão e simplesmente sinalizou para que ele saísse do local.
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Projeto Maggie
HorrorO Virus Maltad transformou homens em criaturas-infectadas quando, na esperança de encontrar uma solução para a sua rápida disseminação e alta taxa de contágio, a humanidade criou um desastre biológico que mutou o seu próprio DNA. Em uma sociedade en...