Capitulo 15: Caminhos do destino

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Sai do meu quarto devagar, logo na porta quase me choquei com uma moça de saia curta que passava com a visão oculta por uma vasta quantidade de papéis que levava, passei pelo Coração andando tranquilamente e parei na porta, tomei um dos cartões de permissão e escorreguei para fora.

Do lado de fora o sol brilhava um pouco mais fraco, creio que logo irá desaparecer deixando para nós a escuridão.

Estranho, não vi nenhum animal até agora, com exceção dos esquilos e peixes. Fora esses, não há cachorros, gatos, bois, galinhas ou qualquer outro tipo de carne para comer.

Estou com saudade deles, até dos ursos monstruosos da floresta.

Desci pelo elevador me encostando nas paredes de acrílico azul-transparente enquanto ajustava a máscara de ar e a viseira, cruzei os braços e as pernas e olhei para além do horizonte negro.

Na garagem, rapidamente peguei minha moto enquanto olhava o tablet. Vou continuar ouvindo essas mensagens e descobrindo mais sobre tudo. Era como estar mergulhando de volta nos meus amados livros de fantasia, só que dessa vez com a sensação de estar mergulhando dentro de uma na qual não havia uma porta dentro de um armário que me permitisse sair.

Sai da garagem em velocidade baixa e encaixei o tablet entre o garfo da direção, liguei e procurei um terceiro arquivo, ele fazia referência ao projeto de cura humana.

"Ano terrestre: 2016, projeto de cura iniciado com sucesso. Estamos todos juntos nesse momento, rezando e clamando para que seja um sucesso. No começo pensávamos que essa poderia ser uma das alternativas, mas agora se tornou a única possível salvação. Creio que se isso não der certo... não sei o que poderá acontecer amanhã. Há poucas pessoas que podem fazer algo, agora que já começou. Não há confirmação do estado atual da cobaia 002, enquanto que a 001 continua estável".

Dizia uma voz masculina, mas a informação era vaga, apenas imagino que esse seja o momento antes da infecção começar ao redor do mundo, antes que as pessoas supostamente começassem a agir agressivamente atacando e canibalizando uns aos outros.

Pilotei até um lugar que eu conhecia e me lembrava com carinho por causa do meu pai, um lugar onde nós dois íamos para refrear os pensamentos e ler alguns poemas bonitos que eu lembro como ele declamava para mim e escrevia para minha mãe. Juro que gostaria de saber o que houve para ele desaparecer do nada e levar todas as minhas memórias e lembranças dele dos cinco anos para frente.

O nosso lugar especial era uma colina fora da cidade bem ao sul, de lá podíamos ver tudo ao redor, além de ser um lugar cheio de natureza — Ou pelo menos era nos meus tempos.

Desliguei o tablet e segui para lá em alta velocidade.

Quando cheguei, me deparei com a colina quase intacta e com isso me refiro que parte dela ainda estava lá, mas a natureza estava morta; sem flores no chão, sem vida, apenas um espaço vazio com uma árvore pequena quase desfolhada e triste que derrubava algumas folhas negras ao vento, tão pesadas que pouco flutuavam, apenas caiam ao chão como pedras.

Estacionei a moto próximo da árvore e me sentei na beirada para admirar o cenário apocalíptico, sempre lembrando que ele costumava ser vivo, disso eu lembro apenas do sol no horizonte recoberto por um prédio alto de um hospital, fora ele há apenas casas comuns até onde meus olhos enxergam.

Estiquei as pernas e olhei para o nada por alguns instantes, depois peguei o tablet e liguei no quarto arquivo, uma gravação em formato de áudio.

"Projeto de cura humana teste número 43. 25 de dezembro de 2002. A cobaia 002 está descansando, reagiu bem aos remédios mas parece estar definhando devagar, sua atividade cerebral está reduzindo e...", — O mesmo homem da última vez, ele parou por um segundo e nisso eu creio tê-lo ouvido chorar ou aparentar estar triste. "Isso está afetando a sua...", — Algo o interrompe de continuar, "Tomas, temos que voltar ao projeto!", disse outro homem ao fundo, a voz eu reconheci na hora.

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