O clima na central é funebre.
Estão limpando, mas eu posso sentir a sujeira impregnando o lugar. Pessoas desorientadas, alguns de braços cruzados e incerteza mesmo quando chegamos ali e somos escoltados até o consultório médico.
— Maggie...?
— Agora não, Ces.
— Tem alguma coisa errada com você?
— Me deixa, cara — devo ter fraturado o cotovelo, está doendo bastante.
Clyde ladeia comigo, desconfiado, confuso, desorientado mais uma vez.
— Você são um casal?
— O quê? Não! — exaltei. — Ele... é o meu amigo. Quero dizer, eu acho que é. Ele me observou durante os meus anos no coma, se juntou a força militar dos Defensores de Washington e me deu treinamento, mas também nunca me contou que sabia sobre os segredos do meu corpo. Joudith, a gostosona malhada do cabelo preto longo, sabe, preferiu transformar isso em um segredo, me expôs a dolorosos testes e exames sob o pretexto de estar me estudando agora que eu não era mais um picolé de morango.
Acho que ele queria rir, mas provavelmente não havia entendido bem o que eu disse.
— Será que... eles sabem algo sobre... mim? Sobre nós dois?
— Joudith era uma das envolvidas no projeto de cura humana que acabou transformando as pessoas em Infectados. Você... já viu um Infectado, certo?
— Eram a unica coisa mais próxima de seres humanos que eu vi em muito tempo.
Meu coração doeu, me forçando a olhar para ele com uma dor incomensurável, uma empatia sem igual. Passei dois dias com Demétrius e o considerava tão animalesco quanto os Infectados. Já Clyde passou anos com Demétrius (e Theo) e considerava os Infectados mais humanos que aquela dupla.
Eu o abraçaria se não estivesse tão ferrada.
Uma tropa de Defenders nos escoltava, então não conseguimos desviar do caminho no qual fomos colocados em direção ao laboratório de desinfecção. Um deles ia afastando quem passasse na frente para garantir que não tocassemos em nada e nem estivessemos próximos de ninguém.
As portas se abrem, uma cortina de fumaça branca com cheiro de álcool sobe.
— Por aqui — sinalizou uma defensora para Clyde, que entrou no meio da fumaça e se direcionou para o outro laboratório.
Eu, sabendo o que deveria fazer já rasguei os trapos que protegiam o meu corpo do frio, porém não da exposição a praga; sangue seco, suor, poeira, outras coisas, tudo isso estava grudado no meu corpo até eu arrancar tudo e fechar os olhos antes de me contorcer e ranger os dentes quanto os jatos de químicos e uma súbita onda de calor me atravessando, como se eu estivesse dentro de um microondas com manteiga e prestes a estourar como uma pipoca.
Eu me joguei no chão, tapando o rosto, impedindo que entrasse nos meus olhos até ouvir um som metálico que começou a sugar o químico, pouco antes da mulher responsável pelo lugar me vestir com uma roupa verde-água que lembra um traje médico.
E me guiar para outra sala onde estão duas outras mulheres que eu soube por Alessa que eram tatuadoras e, por tanto, sabiam usar uma agulha para interromper quaisquer contágios que a gente pudesse ter sido exposto lá fora com uma série de agulhadas direto nos ferimentos.
Então, no fim, meu cabelo está úmido de produtos químicos e meus olhos estão pesados de cansaço, exaustão, medo, agonia, tristeza, solidão, incerteza.
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Projeto Maggie
HorrorO Virus Maltad transformou homens em criaturas-infectadas quando, na esperança de encontrar uma solução para a sua rápida disseminação e alta taxa de contágio, a humanidade criou um desastre biológico que mutou o seu próprio DNA. Em uma sociedade en...