Capitulo 11: Washington em 2030

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Mais tarde no mesmo dia e após perambular por todo o prédio uma segunda vez, eu desci ao saguão. Uma espécie de frio ou tristeza tomou meu peito de repente, como se eu estivesse sentindo o que essas pessoas sentem, todas são iguais, até suas últimas histórias devem ser as mesmas. Agora eu mesma me identifico com eles já que a princípio creio ter perdido literalmente toda minha família, saber que todos que são betas estão mortos ou infectados me causa uma melancolia que não consigo controlar, como se pudesse vê-los naquele estado degradante e ainda ter de matá—los se preciso, e caso não estejam mortos podem estar como refugiados aqui ou ali.

De qualquer forma, se a minha mãe não estava nesse lugar, ainda havia outros para procurar.

Esse era o poder de crer.

Sai do centro e me sentei nas escadas do lado de fora, no frio que fazia. Os guardas estavam almoçando... jantando ou qualquer coisa imaginável após o sol desaparecer e o mundo verde ressurgir. De tal ponto onde me encontrava dava para ter uma vista clara do esverdeado que parecia ficar cada vez mais escuro, como se anunciasse uma chuva pesada para as próximas horas.

Eu apoiei os braços nos joelhos e o queixo nos braços, comecei a pensar no homem chamado Demétrius. Era intrigante a sua existência e a forma com que ele havia mexido com Joudith, como se de alguma forma eles tivessem tido uma história desagradável e que deveria ter culminado com a morte forjada dele por algum motivo. Talvez ele tivesse algumas respostas para mim referente aos projetos de Joudith que ele parecia cobiçar tanto.

Quando me distrai por um segundo, algo sufocou a minha respiração.

— Olha... parece que estamos progredindo — disse uma sensual voz masculina. — Dessa vez você não me atacou.

Quando me virei, fui de encontro com a pessoa desconhecida por trás da voz.

Theo Compton!

— Theo — dei um pulo, intrigada com a sua presença.

O garoto por trás da mascara de respiração era tão humano quanto eu. Não era muito maior, mas era bem mais forte. Sua pele era morena, seus olhos grandes tem cor de café e um brilho escuro, seu bigode e cavanhaque bem feitos davam beleza e algum tipo de charme que contrasta com os cabelos lisos e penteados para trás em ondas regulares. Porém, existem marcas que ele com certeza não pode esconder por trás da beleza; são marcas de queimadura e cicatrizes por todo o rosto e pescoço.

— O que é que você faz aqui?

Estou desarmada, deixamos tudo com os militares da guarda na saida.

— Eu moro aqui. Algum problema?

Quando ele se sentou na mureta da escada, eu terminei de descer os degraus e não fiquei um instante sequer de costas para ele.

— Não... é que você não pode morar aqui! Isso não faz sentido!

— É claro que eu posso, eu sou um sobrevivente. Além do mais, é você que é um forasteiro dessa cidade, não sabe de nada do que está acontecendo ou do que aconteceu — indiferente, ele apenas olhou na minha direção com aquelas marcas (dolorosas) enquanto mantinha o peito aberto e os braços sobre os joelhos, como se não temesse uma reação inesperada minha.

— Quem é Demétrius?

Eu me assento a mais ou menos um metro de distância dele, seus olhos encontraram os meus pela segunda vez — na primeira ele estava de mascara —, mas logo se tornaram mais escuros ao ouvir esse nome. Ele se virou para mim e disse algo:

— Ele... é o meu pai.

Inicialmente não tenho palavras para debater, mas parecia que ele queria vomitar por confessar ser filho de Demétrius. No que isso implicava de tão ruim?

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