Capitulo 20: Doce liberdade

2 0 0
                                    


No "dia" seguinte nós dois acordamos praticamente ao mesmo tempo, pois bastou que eu me levantasse para ouvi-lo também. Nós conversamos a "noite" toda, não me lembrava de nada que havia acontecido comigo para vir parar nesse lugar infernal, nossa relação de amizade de celas fora restaurada devagar. Imagino que antes de Cesar, Clyde deve ter sido o único amigo que eu tive de verdade. E pensar que Cesar sabia sobre os segredos que Joudith tentou preservar e não me disse nada, não me deu sequer pistas.

Clyde me fez lembrar das coisas apenas de contar, ele tinha uma memória sem igual; sensações, sentimentos, vivências, momentos, mas eu apenas vislumbrei os fatos, não os senti em mim, não sei e ele também não sabe como eu vim parar aqui nesse lugar aos cinco anos; nós dois apenas caímos aqui, trazidos por alguém, por algum motivo.

Sem nossas mães saberem?

Ouvi dele que brincávamos juntos, homens nos visitavam e traziam alguns brinquedos, incluindo um bloco de papel. Talvez tivesse sido esse o motivo para eu escrever aquelas notas no papel e colocá-las na parede.

De repente, o clima tornou-se soturno enquanto eu olhava para o chão frio, de superficie refletiva enquanto riamos e paramos, diante da presença silenciosa de Theo Compton quando ele parou bem na minha frente.

— Maggie.

Me levantei, agarrando as grades de metal.

— Theo... veio... me tirar desse inferno?

— Está na hora — afirmou, destravando o cadeado e apontando com a cabeça para que eu saisse.

Eu resisti, sabendo que estava encurralada naquela cela, sem armas, sem qualquer coisa para me defender; isso acrescido da fome e da sede. Eu não tinha forças para lutar, então o meu fim era quase iminente.

— Theo... por favor — suplico

O medo da morte não deve ser tão grande quanto a agonia de vive-la. Eu cacei predadores com o dobro do meu tamanho mostrando os dentes, enfiando uma faca no pescoço deles e tirando uma presa como troféu, mas aquilo, aquele homem na minha frente decretando a minha morte parecia ser o maior desafio da minha vida.

— Não torna isso mais difícil.

— Deixe ela em paz! — Clyde gritou, dando um chute nas barras da sua cela.

— Clyde — ele estava alterado. Foi a primeira vez que o vi, naquela luz quase inexistente; a pele escura descamada, a sujeira, os cabelos desgrenhados. Seus dedos tremiam a medida em que segurava a grade, eu me aproximei e o olhei debaixo. — Desculpa. Se algum dia você sair daqui, e eu sei que vai, saiba que eu nunca vou esquecer a nossa amizade e esses últimos momentos que tivemos. Obrigada por ser meu amigo.

Theo me olhou e suspirou, indicando a direção.

— O sol brilhará sobre nós novamente — Theo começou a me empurrar. — Seremos livres, Maggie. Livres!

Ao chegarmos ao elevador eu tremi, não com medo, mas pela ansiedade de chegar o momento. os Defenders e a central não vieram dessa vez, talvez nem se importassem comigo e eu falhei com eles em permanecer viva, mas Clyde tem o genes Ômega como eu, e se conseguir sair, ele vai fazer a diferença.

Theo me olhou de lado e engoliu em seco, ele desentupiu a garganta.

— Me ajuda.

— Não tem o que fazer, a sua vida vale menos do que a minha. Preciso obedecer — de repente, Theo virou seu pescoço em alguns graus e eu vi algo como uma protuberancia pulsando em vermelho.

— Isso é...

— Cianureto. Ele detona e me mata se fugirmos. Eu não queria ter que fazer isso.

— Você não precisa — me aproximei dele. — Me dá uma faca, eu faço uma incisão.

Projeto MaggieOnde histórias criam vida. Descubra agora