Voltamos à cidade e pegamos um carrinho de construção resistente para colocar o urso, e depois partimos para a loja de venda que se chama "Loja de escambo do Joe", lá podíamos comercializar de tudo por preços que agradariam a todos. A loja tinha três andares, um mini prédio comercial a vinte minutos da minha casa a leste do centro. Era toda pintada de vermelho com algumas partes brancas, doze janelas envidraçadas com vidros azuis bem velhos e três portas lado a lado.
Fomos direto ao caixa, uma bancada de madeira com três homens atendendo. Além deles, diversas pessoas nos olhavam com curiosidade enquanto arrastavamos nosso urso com dificuldade pelo peso. Logo o atendente nos olha levantando seu olhar de um papel em que escrevia algo.
— Olha, a chapeuzinho vermelho e o caçador. O que temos aí hoje? — Ele era um homem idoso de pele clara com diversas pintas e manchas, olhos verdes escuros, cabelos brancos ralos, boina branca e óculos arredondados.
— Temos um urso cinzento aqui.
Cesar apoiou o braço na bancada e depois jogou seu cabelo para trás lentamente como um slow motion, todos olharam para a gente curiosos.
— É muito bonito, mas já vimos uns três desses essa semana — disse.
— Serio? — digo revirando os olhos acariciando o rosto do urso pensando em quanto essa coisa vale agora que não é mais tão incomum quanto pensávamos.
— Sim, e na verdade, jovens, isso é um urso pardo. É interessante, deve render uns dois dias de alimento e mais a pele. Quanto vocês querem? — ele analisou as feições quase serenas do urso.
— Quanto você paga? — Cesar rebateu, buscando aumentar nosso retorno.
— Ele não vale mais que 3 mil dólares — ele deu de ombros, como se fosse pouco, eu engasguei igual Cesar no momento em que ouvimos a palavra "mil". — Além do mais, não é todo mundo que está procurando tapetes de urso, provavelmente esse serviria de alimento.
Acredito que nunca tinhamos caçado algo que valesse tanto assim, nós sempre pegamos animais pequenos. César se recompôs arrumando sua camiseta quadriculada azul com preto e branco.
— Jhon, eu estava pensando em uns 4000... sabe como é, essa coisa quase arrancou o meu braço e ainda é bem raro nessa região! Você pode fazer melhor que isso, eu sei — sorriu com cinismo.
— Te dou 2700 agora.
— Mas que...
— A gente aceita os 3000, Jhon! — me adiantei, antes que Cesar minasse nosso rendimento debatendo com um vendedor quanto valia uma mercadoria.
— Legal, trato feito — ele cumprimentou Cesar. — Vamos até o caixa, vou pagar vocês.
Depois disso nós regressamos a nossas casas felizes pela caçada de sucesso. Até agora me lembro do momento hilário em que nos chocamos em pleno ar como se fosse normal dois adolescentes saírem pulando por cima das arvores, (tenho dezessete assim como Cesar, mas às vezes agimos como se tivéssemos treze).
Cheguei à minha casa toda risonha com os bolsos pesados e as mãos cheias.
E no final desse dia, eu estava na casa da árvore olhando para uma bela noite estrelada e de lua crescente, pensando em alguns porquês. Um deles é o porquê precisamos de dinheiro, ele só nos trouxe e nos traz problemas, disputas, confusões e mortes, mas também é o responsável por tudo o que temos hoje. Entretanto, como seria um mundo sem dinheiro? Talvez para responder essas perguntas precise pensar que um mundo sem dinheiro seria um mundo de paz, onde as coisas funcionavam porque precisavam funcionar e não porque eram incentivadas pelo dinheiro ou pelas posses que as pessoas tinham, exatamente como era no princípio onde éramos mais unidos para lutar por uma única causa, sobrevivência, o que estamos fazendo aqui hoje não se distancia muito disso.
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Projeto Maggie
TerrorO Virus Maltad transformou homens em criaturas-infectadas quando, na esperança de encontrar uma solução para a sua rápida disseminação e alta taxa de contágio, a humanidade criou um desastre biológico que mutou o seu próprio DNA. Em uma sociedade en...