it's hard to be anywhere these days when all i want is you

2.8K 309 424
                                    

Notas iniciais:

O capítulo de hoje tem uma perspectiva diferente! Ele ficou um pouco maior do que eu esperava (peço desculpas), mas foi necessário. Esse capítulo é especial pra maria, pra cella e pra carla, amigas que fiz ao escrever essa história!!! <3 obrigada pelo apoio de sempre.

E obrigada pelos 20k (quase 21) de leituras. Pra muitos pode parecer pouco, mas pra mim é muito mais do que eu imaginei. Eu adoro escrever essa história, ela é muito curativa em vários aspectos da minha vida e eu me sinto emocionada quando vejo pessoas falarem que gostam dela.

Boa leitura!

***

Violet

Quando eu era pequena, costumava alimentar minhas fantasias infantis com desenhos e programas de televisão que me fizessem viver, nem que fosse através de uma tela, o sentimento pelo qual meu coração sempre clamou, de uma forma ou de outra. Pensando nisso agora, quando já não tenho mais oito anos e me sinto perdida como as protagonistas dos romances bregas com pitadas de comédia que leio, acho que toda a compulsão que desenvolvi por filmes e seriados onde meninas eram extremamente felizes ao lado de suas mães não passou de um mecanismo de defesa bobo, escapes aleatórios para que eu conseguisse fugir um pouco da realidade monótona e até triste em que estava inserida.

Ainda assim, mesmo hoje me lembro com carinho das noites em que passei maratonando Gilmore Girls, testemunhando Lorelai e Rory enfrentarem os percalços de uma vida atribulada, simplória e extremamente feliz juntas. Mais do que isso, dos momentos em que me peguei sozinha na sala de estar da casa da minha tia – sempre a casa dela, não minha, porque eu nunca achei que pertencesse a algum lugar que não fosse o da mãe que sequer havia tido a chance de conhecer –, passando noites em claro reprisando a mesma versão de Matilda e chorando quando a menina finalmente tinha a chance de encontrar a mãe com a qual a vida quis lhe presentear.

Durante toda a minha infância, idealizei e projetei a minha vida na existência da minha mãe. Uma mãe cuja presença espiritual me era negada diariamente, quando a tia que me criava dizia que não tocaria em seu nome porque era um assunto muito doloroso mencioná-la. A mãe que ficava nos meus sonhos, que me consolava quando eu me machucava ao cair de uma árvore e que cantava para mim antes de dormir. A mãe cuja voz sempre foi tão vívida na minha cabeça, mesmo que eu nunca a tivesse escutado antes.

Depois que fiquei mais velha, eu ainda pensava nela. Sentia vergonha de admitir isso, mas a sua ausência agora consumia pelo menos setenta a oitenta por cento dos meus dias, um constante lembrete de que eu nunca saberia nada sobre a sua personalidade real. Na casa de Lilah, mamãe parecia um fantasma sem nome, uma pessoa cuja áurea já tinha, em um passado bem distante, habitado aquelas paredes. Ou pelo menos eu achava que sim.

Em resumo, a minha mãe da infância – aquela baseada em episódios de uma série antiga e na figura de uma amorosa professora de um filme infantil – acabou ficando perdida em algum lugar da minha alma, mesmo depois que me tornei uma adolescente. Ainda que meus gostos tivessem mudado e que meus programas de televisão favoritos tivessem se tornado outros, a essência da garotinha que sempre assistia aqueles projetos do audiovisual apenas para conseguir fantasiar sobre a sua mãe perdurou. E a minha mãe nunca, em nenhum momento sequer, deixou a minha cabeça, mesmo que eu não fizesse ideia de como eram seus traços físicos.

Naquele momento, logo depois de sair com os ombros baixos da sala de Amanda Barnes, a diretora mais simpática que já vi, fiquei me perguntando se todos esses anos de idealizações e fantasias não acabaram sendo prejudiciais à minha mente. Ao meu desenvolvimento pessoal e minha forma de ver o mundo. Agora, enquanto adolescente, eu achava tudo constantemente injusto, e me colocava numa posição de lamento quase que a toda hora, pelo fato de ter crescido sem uma mãe.

seven (taylor swift)Onde histórias criam vida. Descubra agora