Capítulo 22

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Entro em casa em destroços.

Puxo a faixa da testa que puseram no hospital, e arranco o adesivo de onde estava o soro. Dou um chute no sofá, e subo para o meu quarto, correndo e chorando.

- Eu ainda não acredito nisso. - desabafo, reticente, sentado na cama, aos meus pais entrarem no quarto, e a minha mãe sentar-se ao meu lado. Ela respira profundamente.

Estou com o olhar cabisbaixo.

- Também está sendo difícil para mim e o seu pai, acredite.. - ela massageia as minhas costas.

- Finalmente eu descobri o motivo do seu distanciamento comigo, né pai? Está encerrado agora, ou vai continuar? - eu encaro o meu pai, em um tom de indignação e em voz alta.

- Lucas meu filho, não pegue tão pesado assim com o seu pai, não fale com ele desse jeito, você nem ao menos o ouviu ainda. - a minha mãe intervém, me acalmando e fazendo o seu papel de mãe. Talvez eu estivesse me excedendo.

O meu pai olha para a minha mãe e assente. Ela se afasta, e ele senta do meu lado.

- Filho, meu único e melhor filho de 17 anos, olha para mim.. - ele começa a dizer, e me esforço para o olhar mergulhantemente em seus olhos.

Ele põe as mãos dele em meus ombros.

- O único motivo de eu não ter conseguido ficar tão perto de você como deveria foi por esse momento em que estamos agora. Eu em momento nenhum da minha vida queria contar isso para você. E afetar a sua vida de alguma forma. Ter a metade de você com outra pessoa, mesmo que essa pessoa seja o meu melhor amigo. - ele abre todo o perímetro do seu coração, a cada frase me mostrando um pouco dele, cada cavidade, como não havia visto até hoje.

- E Lucas, meu filho lindo do papai, você é a melhor decisão que eu já tomei na vida, me desculpa. Agora eu vou ficar sempre por perto, e te compensar, todos os segundos perdidos. - ele termina de falar, terminando também de evidenciar toda a anatomia do seu coração, os batimentos e veias, o formato, a cor, e o seu ritmo de melodia.

Ao ele pingar uma lágrima do rosto, eu não suporto, e o puxo para perto de mim, o abraçando insaciável, num encontro do meu coração batendo junto ao dele. E a lacuna que faltava dentro de mim, a sinto sendo preenchida, por finalmente senti-lo inteiramente como o meu pai. Um pedaço do meu coração faltava, e eu mal me dei conta que era o meu pai que faltava, a descoberta faltava, a verdade. Tudo e cada palavra que o meu pai me confessou.

- Eu te amo pai, me desculpa também. - o digo, beijando sua bochecha intensamente.

- E outra coisa. - o meu pai começa a dizer. - Não ache que eu e a sua mãe vamos impedir de você e o Bruno terem um envolvimento amoroso. Vocês são livres. Assim como nós já fomos e somos também. - ele confessa.

- A impensável ação que iríamos querer seria cortar as asas de vocês. - a minha mãe diz, ao observar o momento entre eu e o meu pai.

- Então, vocês não se importam de o Bruno e eu ficarmos juntos? - Indago aos dois.

Minha mãe emite um sorriso de canto, compreensivelmente, assentindo.

- Não. - ela diz. - Em nenhuma existência possível eu e o seu pai iríamos impedir isso. - ela fala, vindo até mim, e sentando ao meu lado, juntamente ao meu pai, que está do meu outro lado.

O meu pai sorri com os olhos, também assentindo o que ela falou.

- Vocês foram criados por uma poção química mesmo! - contemplo a felicidade de ter os pais que eu tenho, abraçando os dois, dividindo o abraço, um de cada vez, e após os dois de uma única vez. Culminando no meu desequilíbrio, e caímos todos na cama, em gargalhadas.

O meu melhor amigo héteroOnde histórias criam vida. Descubra agora