Capítulo 20

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Quando o carro vai embora, percebo que as luzes da casa do Bruno estão todas ligadas, e já são onze da noite, esse horário eles já estão dormindo normalmente, e achei estranho as luzes estarem todas acesas ainda, mesmo as da minha casa estando também, e começo a andar.

Quando abro a porta me deparo com o Bruno, os meus pais e os dele, espalhados pela sala. Me assusto, e os encaro com ar de desconfiança.

-O que houve aqui? -eu pergunto, em pânico total por dentro.

E minha mãe me lança um olhar que vejo estar molhado, e diz:

-Filho, senta. -ela fala, antes mesmo de eu poder fechar a porta direito.

E me locomovo suavemente, como se estivesse pisando em um campo minado.

-O que foi? -e cruzo os braços, olhando  pra todos.

-O seu pai e eu temos uma coisa pra falar. Já que você e o Bruno estão namorando agora..

E dou uma leve interrompida, porém com um peso gritante do que vou acabar de dizer.

-Não estamos mais. -e tento não olhar pra o Bruno, embora ele não tire os olhos de mim, transparecendo nervosismo, e noto que os seus lábios estão tremendo, nunca o vi assim, com aquela feição, como se estivesse com frio, e suas duas mãos entre as pernas, com as próprias balançando um pouco. Ver ele daquele jeito me doía. Minha vontade era de o agarrar e o envolver em meus braços para cortar a dor do meu coração diante da tortura que estava sendo submetido.

Perco o controle, e o resto de razão que tinha mandado ir a merda. É impossível conter o choro e arremesso o meu celular no chão, espalhando cacos pela casa, devido a força que passei.

Esfrego a mão em um dos olhos, com a raiva me deglutindo.

-O que merda houve? Por que o Bruno está desse jeito? -e sinalizo a mão até ele, e aparento que vou surtar com a entonação da minha voz.

E o tio Ben se levanta pra tentar me acalmar, tocando em meu braço.

E me desfaço nos braços dele.

-Eu estou cansado tio, esse dia está sendo ruim demais, eu não aguento mais. -uma avalanche cai sobre mim, e consequentemente sobre quem está ali também.

E ele faz o som de um remetente assovio, pra me trazer de volta e me acalentar. Apertando-me com força em seu abraço.

-Fica calmo. É só uma coisa que não devíamos ter escondido de vocês até tão tarde, e eu sinto muito por isso. -ele diz, e beija a minha cabeça, conseguindo me afagar um segundo, acalentando um pouco da dor.

-E o que é? -eu pergunto, com frações menos turbulento, e o olhando, largando dele, e sento com o tio Ben no sofá, grudado a ele, enquanto o Bruno e a tia Alice estão do nosso lado direito, sentados também, e o meu pai em pé que está caminhando de um lado pra o outro, e minha mãe também em pé, e é quando vejo que ela está chorando.

-Por quê a minha mãe está desse jeito pai? -questiono, quase violentamente de tanta fúria.

E ele começa:

-Quando sua mãe e eu nos conhecemos, ela desde o namoro já falava que queria um filho, e eu queria muito também. E quando nos casamos tentamos por várias vezes, até que descobrimos que eu não podia ter filhos biológicos filho. -e meu pai nesse instante não consegue dar continuidade ao que estava falando, e põe a mão nos olhos, se apoiando em um móvel.

-O quê? -sou deliberadamente assustado, recebendo uma descarga elétrica de choque de um fio desolado.

Olho pra todos ao meu redor e levanto.

-Então.. eu sou adotado? -meu coração escorrega por a minha mão, que foi apunhalado, rasgado do peito e tirado.

E começo a passar mal, ficar com a visão turva, o coração acelerado, e sentir falta de ar, pondo a mão sobre o coração desenfreado, e perdendo a força das pernas, tombando.

-Deus, meu ajuda.. -digo baixinho, mais em pensamento do que verbalizando.

O Bruno ao me ver assim se levanta, e vem até mim, o deixando me abraçar.

Dou suspiros sobre o corpo dele, tentando puxar o ar.

-Bruno, não me deixa cair, não me deixa morrer.. -eu o imploro, entrando em pânico.

-Nunca. -ele sussurra, e me vem um filme ligeiramente a cabeça, uma sequência de flashes nostálgicos e imortalmente tatuados, de quando só havia felicidade entre nós, e paz, muita paz, durante os intervalos em que fecho e abro os meus olhos e me recordo da luz, da luz dele, da luz do Bruno, o meu ponto de paz e porto- seguro.

Das noites em que dormíamos juntos enquanto crianças. Dos abraços quentes e fortes. De quando me agarrava por trás nas brincadeiras na piscina. E de quando os seus lábios foram inimaginavelmente meus. Toda via, claro, quando o vi sem roupa pela primeira vez depois que crescemos.

Embora seja o meu nome que signifique luz, foi nele que por toda a minha vida sempre encontrei a luz que precisava pra viver, minha luz vital, diária, e minha respiração também.

E é quando o digo com minha boca grudada a sua orelha, em sussurro:

-Bruno, eu te amo. -e ele reage pegando nas minhas mãos e me devolvendo ao seu corpo quente.

E o Bruno não aguentando mais aquela situação toda, se manifesta.

-Já chega de tudo isso! Não estão vendo como o Lucas está? Ele teve um dia de merda hoje, e vocês são os culpados de tudo isso! -ele mostra suas garras tentando dar um fim aquela merda imensa, revoltado por mim, e por nós.

E impensavelmente o tio Ben levanta e diz:

-Bruno.. você e o Lucas são meio-irmãos!

E o silêncio invade a casa, entrando por todas as janelas e portas, calando todos.

Bruno congela, recebendo um tiro.

-É o quê pai? -e recai sobre o sofá, me soltando dos braços dele, com as mãos formando um triângulo na boca, de irrealidade, e as subindo, bagunçando o cabelo, e com ímpeto de arrancar.

E no segundo que a frase termina de ecoar sobre o meu ouvido, eu destruidamente confuso e lesado, acabado e mal, fisicamente e psicologicamente, apago, e já não vejo mais nada.

O meu melhor amigo héteroOnde histórias criam vida. Descubra agora