Capítulo 1 - O começo do pesadelo

26 6 74
                                    

Ele caiu, ele realmente caiu.

Ao longe, os corvos grasnavam afoitos conforme o silêncio excruciante se assentava sobre o grupo de jovens paralisados que olhavam para a borda do despenhadeiro onde pouco tempo atrás havia um de seus colegas de faculdade.

Agora não restara mais nada além do silêncio sepulcral.

Lina Oliveira, que estava longe de todos, colocou a mão sobre a boca para deter um grito de surpresa e horror. Jeneth Gomez, a mais escandalosa do bando, ficou sem palavras para o que acabara de presenciar, totalmente muda enquanto a mão livre buscava pelo braço do namorado, Matheus Takakura, que encarava incrédulo o alto do despenhadeiro. Então, vinha Jesse Barbosa, um dos que estavam mais próximos do acidente; agora, tudo o que ele conseguia fazer era balançar a cabeça em descrença completa.

Por fim, como o autor do crime, Sidney Luiz Serra olhava para baixo, além do despenhadeiro, vendo as manchas de sangue deixados conforme o corpo caiu contra as pedras pontiagudas, debatendo-se até chegar à base da montanha, onde agora estava esparramado numa poça de sangue coagulante sobre a neve.

Vermelho tingindo branco. Poderia ser poético, mas era trágico, a trágica morte de Ren Amorim.

O que era para ter sido uma brincadeira tola, tornou-se um crime descarado quando Sidney empurrou Ren numa tentativa esdrúxula de assustá-lo. Por fim, o rapaz, realmente surpreso, não teve onde se segurar e acabou caindo moro abaixo. Agora seu corpo jazia em uma posição não natural, com os braços contorcidos sobre o dorso e a cabeça virada anormalmente para trás, os olhos e a boca bem abertos enquanto o sangue continuava tingindo a neve.

— Vocês... vocês o mataram...! — Jeneth foi a primeira do grupo a se pronunciar, a voz tão baixa e esganiçada quanto o zumbido de uma mosca. Ela apontou a mão trêmula para Sidney e Jesse, ambos sem ter como se defender.

Eles se entreolharam, na verdade, o grupo todo o fez, cada um pensando em uma coisa diferente, porém todos entraram num consenso perante aquela situação desastrosa ao ouvirem, ao longe, um ruidoso uivo de lobo.

— Temos que descer lá — disse Matheus, o peito estufado de coragem, apesar dele mesmo não ter certeza do que fazer assim que visse o corpo.

— Descer pra quê? Temos que fugir, isso sim! — Sidney se defendeu, afoito, suas mãos suavam e ele se sentia tonto, porém sua moralidade não havia melhorado nesses poucos segundos.

Ele não estava disposto a deixar mais marcas suas na cena do crime, na verdade, se o corpo fosse pego pelos lobos seria melhor para todos. Assim, tudo poderia parecer um acidente infeliz onde o pobre Ren caiu do despenhadeiro e foi devorado por lobos famintos.

— Eu concordo com o Matheus, temos que descer — disse Jesse, sua voz tremia tanto quanto seu próprio corpo — Talvez exista a possibilidade dele ainda estar vivo...

— Isso seria impossível — Lina o interrompeu, ajeitando seu óculos sobre o nariz — Além da queda, os pedregulhos são mais do que suficiente para fazê-lo ter uma morte instantânea caso batesse com a cabeça em um deles.

— Então vocês sugerem deixá-lo ali para sempre? — indignado, Jesse perguntou, ele já estava pronto para começar a descer a encosta pedregosa, mas Sidney agarrou seu braço — O que você quer?

— Não é hora de bancar o bonzinho. Aquele corpo não está se movendo e tem uma grande chance dele ser encontrado por lobos antes que o pessoal da cidade dê por sua falta.

— E daí? Seremos incriminados quando descobrirem sobre tudo.

— Não vão descobrir, vão pensar que foi um suicídio, só isso.

Kill BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora